Empresários angolanos já veem “luz ao fundo do túnel” e garantem que novo ciclo económico arrancou

Empresas angolanas estão em sintonia com o Governo de João Lourenço. Defendem que é preciso diversificar investimentos e apostar forte na agricultura. Lourenço diz que portugueses "são bem-vindos".

Sintonia. Esta é a palavra que melhor retrata as relações entre o Governo de Angola e os empresários angolanos. O novo ciclo económico de que fala João Lourenço, assente no combate à corrupção e à diversificação da economia tem boa aceitação das empresas angolanas, pelo menos a avaliar pelo leque de gestores presentes no Fórum Económico Portugal-Angola que esta sexta-feira, teve lugar na Alfândega do Porto, no âmbito da visita oficial de dois dias do Presidente angolano a Portugal.

António Soares, presidente da holding Sodosa, não tem dúvidas de que “há hoje na economia angolana um novo alento, que se estende às empresas e a todo o país”. O desafio do Presidente angolano em “apostar na produção nacional é certeiro, gerador de emprego e de equilíbrio da balança comercial”.

O grupo Sodosa está presente em três importantes áreas de negócio: distribuição e retalho, agro-indústria, construção e transportes. No total fatura, só em Angola, 160 milhões de euros, a que se juntam mais 38 milhões de euros da atividade em Portugal, onde detém uma empresa ligada à exportação de bens para Angola.

Para António Soares os “portugueses têm de ir para Angola de forma diferente, uma vez que até agora estavam sobretudo no setor da construção ou através da presença de mão-de-obra”.

António Soares, presidente do grupo angolano que fatura 160 milhões de euros.

Portugal, acrescenta, poderá ter um importante papel na parte da produção. É aliás, na parte da produção agro-alimentar que o grupo liderada por António Soares investiu, nos últimos três anos, sete milhões de euros.

“A agricultura é a aposta que temos de fazer”, justifica. De resto, o empresário que é concorrente de Isabel dos Santos na área da distribuição, está confiante no futuro do país e da sua empresa. “A expectativa é faturar, no próximo ano, 220 milhões de euros com a faturação em Portugal a atingir os 60 milhões de euros”.

João Lourenço: Sejam “bem-vindos a Angola”

Sejam “bem-vindos a Angola”. As palavras parecem fazer eco com o discurso de João Lourenço que, durante a sua intervenção no Fórum Económico, voltou a frisar os eixos de crescimento desenhados pelo seu Governo para o período de 2018-2022. Agricultura e pescas, indústria, turismo e construção são as prioridades. João Lourenço, que terminou a sua intervenção virado para os empresários nacionais, garantiu-lhes que “são bem-vindos a Angola” e acabou também por dizer que é bom ter 5.600 empresas a exportar para Angola, mas que essa dinâmica é preocupante. E desafiou a plateia onde sobressaíam alguns nomes sonantes da economia nacional, como Paulo Macedo (CGD), Nuno Amado e Miguel Maya (BCP), António Mexia (EDP), Teixeira dos Santos (EuroBic), Mário Ferreira (Douro Azul), António Mota (Mota-Engil), António Portela (Bial), entre tantos outros, a produzirem em Angola o produto final.

No fundo defende o Presidente angolano é importante que seja transferida parte das capacidades e das competências portuguesas para Angola, com ganhos para os dois países. Uma ideia também defendida por António Costa que considera que a diversificação da economia angolana é um “convite direto às pequenas e médias empresas portuguesas”. O primeiro-ministro, que classificou João Lourenço como um grande amigo e um grande parceiro, convidou mesmo as empresas nacionais ligadas à agricultura e ao setor da metalomecânica a olharem para Angola.

Alexandre Portugal, presidente da Socinger

De resto, Alexandre Portugal, presidente do grupo Socinger, detentor dos hotéis Skyna, enaltece também o esforço de João Lourenço em mudar o paradigma económico de Angola. Longe vão os tempos do “monoproduto [petróleo]”, adianta e frisa que “é importante diversificar a economia”, sendo que, “nesse cenário, o setor do turismo pode ter um papel fundamental”. “Deve apostar-se também nas novas tecnologias, uma área muito importante quando em causa está a transparência em termos económicos”, acrescenta.

A Socinger, que fatura dez milhões de euros, detinha até há um mês o hotel Skyna em Lisboa, que foi vendido a um grupo espanhol. Alexandre Portugal defende que o “turismo é transversal a toda a economia e é uma importante âncora de desenvolvimento”.

Entre o leque de empresários ouvidos pelo ECO, está Marco Cohen dos Santos, presidente do Ecomarpe. “Uma luz ao fundo do túnel”, é desta forma que o gestor do grupo que tem interesses nas pescas, congelação, restauração e hotelaria, e prestação de serviços aduaneiros, se refere ao atual momento vivido por Angola. Vive-se hoje em Angola, salienta, “um ambiente de negócios mais abrangente e a prova é que eu sou de Benguela e estou aqui, algo que era impensável há uns tempos atrás”.

AIPEX atraiu 13 projetos de investimento português

À margem da conferência, Licínio Contreiras, o presidente da Agência de Apoio ao Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX, congénere da AICEP em Angola) adiantou ao ECO que tem sido muito abordado pelos empresários portugueses. O gestor fez questão de referir que desde junho, altura em que entrou em vigor a nova lei de investimento em Angola, já captaram 13 projetos num total de 3,5 milhões de euros. Estes projetos resultam sobretudo de empresas ligadas ao setor agrícola.

Apesar de satisfeito, o presidente a AIPEX admite que são números curtos mas “o intervalo temporal é também pequeno”. E tal como o Chefe de Estado põe a tónica da captação do investimento na agricultura e na indústria transformadora, para “diminuirmos as nossas exportações”.

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