Costa critica bancos. Banqueiros respondem com números de financiamento
Perante as afirmações de Costa, que se repetem, os bancos rejeitam as críticas. Para alguns dos principais bancos a operar no país, a concessão de crédito às empresas tem vindo até a aumentar.
António Costa criticou o setor bancário por não emprestar dinheiro às empresas, dizendo que “a banca devia ser mais amiga do investimento”. Perante as afirmações do primeiro-ministro, que não são novas, os bancos rejeitaram as críticas. Para alguns dos principais bancos a operar em terreno nacional, a concessão de crédito às empresas tem registado, inclusive, um notável crescimento.
Ao ECO, Miguel Maya, CEO do Millennium bcp, afirma que “ouviu com atenção as palavras do primeiro-ministro”.. Escusa-se a comentar diretamente as afirmações de António Costa, e garante que só pode falar pelo banco que lidera, mas sinaliza os números do BCP: A concessão de crédito tem aumentado, “sendo que cerca de 50% do crescimento se verifica no crédito a empresas”. Por outro lado, desse mesmo crescimento “só aproximadamente 15% [se verifica] no crédito ao consumo e para outros fins”.
Já o BPI afirma que, no ano passado, “a carteira de crédito às empresas aumentou 1.139 milhões de euros, o que representa um crescimento de mais de 16%”. Aliás, no que toca à concessão de crédito às empresas, a par do crédito às famílias, o banco liderado por Pablo Forero tem vindo a ganhar quota de mercado.
Por outro lado, o BPI salienta que “a concessão de crédito pelos bancos está totalmente dependente da robustez de capital de cada entidade” e que “a posição robusta de capital do BPI e a sua capacidade de financiamento permitem que o banco esteja nas melhores condições para continuar a apoiar as empresas portuguesas”.
Esta tendência é, também, sentida no Santander, que afirma ter duplicado, entre 2012 e 2018, a sua quota de mercado no que diz respeito a crédito a empresas em Portugal. Agora, a carteira de crédito está “mais equilibrada”, afirma o banco, explicando que 55% é de crédito a particulares e 45% de crédito a empresas.
Para o banco liderado por Pedro Castro e Almeida, os dados do ano passado sobre a quota de produção de crédito a empresas mostram uma evolução positiva e que, de certa forma, contradizem o que o primeiro-ministro disse. De novembro de 2017 a novembro de 2018, “a quota de produção de crédito a empresas passou de 17% para 19,9% (créditos até um milhão de euros), e de 17,1% para 19,6% (créditos acima de um milhão de euros)”, justifica o banco. Já em termos de volume no crédito total de empresas, “de 2012 para 2018, há um claro crescimento, com o valor a passar de €9,7 mil milhões para €18 mil milhões”, acrescenta.
O cenário explicado pelos três bancos é mais animador, para as empresas, do que propriamente as críticas de António Costa. Também o último relatório de estabilidade financeira do Banco de Portugal (BdP), que analisou os dados até ao final do primeiro semestre, apontava para um crescimento homólogo, na ordem dos 9%, no que toca ao fluxo bruto de novos empréstimos às sociedades não financeira (SNF).
Contudo, quando olhamos para os dados gerais, de dezembro de 2017 a novembro de 2018, a conclusão é que, se por um lado, o saldo de concessão de crédito às empresas tem vindo a diminuir, por outro lado, o saldo de concessão de crédito ao consumo e à habitação tem vindo a aumentar.
É de salientar, ainda, a influência da venda de carteiras de malparado sobre a evolução do saldo do crédito às empresas. A limpeza do balanço destas carteiras é descontada no stock de crédito.
Evolução do saldo do crédito às empresas
Uma das situações que tem sido apontada pelos bancos é, precisamente, a falta de procura de financiamento por parte do setor empresarial. Tal tem sido salientado nos últimos inquéritos sobre o mercado de crédito realizados pelo BdP junto dos maiores bancos. Ainda assim, o último inquérito trimestral já aponta para uma maior procura de crédito por parte das empresas.
“Algumas instituições assinalaram um ligeiro aumento por parte das empresas no quarto trimestre de 2018, no segmento das PME [pequenas e médias empresas] e das grandes empresas, com maior destaque para os empréstimos de longo prazo”, referia a entidade liderada por Carlos Costa, salientando que os bancos esperavam que essa tendência se mantivesse.
Evolução da nova concessão de crédito às empresas
Mas a discussão do “comodismo” na banca não é nova
O primeiro-ministro disse esta quarta-feira, em entrevista à SIC, que é preciso encontrar outras formas de financiamento, acusando a banca de estar muito dependente do crédito pessoal e imobiliário. “A banca está mal preparada para o que são as necessidades da economia [nacional]”, afirmou Costa, acrescentando, por outro lado que “devia ser mais amiga do investimento”.
Para António Costa, a banca está “excessivamente dependente do crédito ao consumo e imobiliário”, o que faz com que o Governo tenha tentado encontrar formas alternativas de financiamento. “O que temos feito é encontrar formas alternativas de financiamento, para além dos fundos comunitários, dos mecanismos de contratualização do Banco Europeu de Investimentos, adotamos um sistema fiscal particularmente amigo das empresas que a própria União Europeia [UE] sinalizou como o segundo mais vantajoso da UE”, afirmou.
Esta não é, contudo, a primeira vez que Costa critica o “comodismo” dos bancos no que toca à concessão de crédito às empresas. Ainda há poucos meses, o primeiro-ministro disse que os bancos estão apenas interessados em emprestar dinheiro às famílias, esquecendo as empresas.
Evolução do saldo do crédito às famílias
Saldo crédito às famílias
Declarações que mereceram, na altura, uma resposta por parte de Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos. “Tomara que o sistema bancário possa conceder muito mais crédito às empresas”, disse na altura. “Os bancos respondem à procura solvente que existe, às necessidades da economia que lhe são colocadas e são os primeiros interessados nesse sentido”, acrescentou o presidente da associação que representa o setor bancário em Portugal.
Por outro lado, se tem havido um maior aumento do volume de crédito ao consumo e à habitação é “em função da situação do mercado e não por haver uma discriminação em relação ao segundo segmento de concessão de crédito por parte do setor bancário”, considerou ainda.
Os número da evolução do crédito às famílias poderiam dar razão a António Costa, já que o saldo do crédito às famílias, em quase um ano, aumentou de 107.073 milhões de euros para 108.763 milhões de euros. Uma evolução que tem sido apoiada no aumento de novos empréstimos às famílias. Os últimos dados do BdP apontam para que, no acumular dos primeiros onze meses do ano passado, os bancos disponibilizaram mais de 13 mil milhões de euros em novo crédito para a compra de casa e consumo, mais 17% do que no mesmo período do ano anterior e ultrapassando, ainda, a totalidade do crédito com esses fins concedido em 2018.
Contudo, esta evolução não poderá ser dissociada da evolução da economia e da melhoria das perspetivas das famílias, que as têm levado a procurar mais crédito para financiar, tanto a compra de casa como o consumo. Isto depois de um período em que os bancos tiveram a torneira do crédito fechada e as famílias adiaram muitas decisões de compra, devido à crise.
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