Dois anos depois, valor oferecido pela Media Capital cai para quase metade
Esta é a terceira tentativa de venda da Media Capital, sendo que as duas anteriores foram chumbadas pelos reguladores. Em setembro de 2017, a Altice oferecia 42% mais para deter a empresa.
A Media Capital está mais próxima de ser vendida. A Cofina lançou uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre as ações do grupo de media que detém a TVI. O negócio avalia a empresa em 255 milhões de euros, quase metade do que a Altice tinha oferecido pela Media Capital há menos de dois anos.
De acordo com o anúncio preliminar, publicado este sábado na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a dona do Correio da Manhã propõem-se a pagar 2,3336 euros por cada ação da dona da TVI que não é controlada pela Prisa e 2,1322 euros pelas mais de 80 milhões de ações que estão nas mãos do grupo espanhol.
A oferta global ascende, assim, a 180 milhões de euros, mas a Cofina vai ainda assumir a dívida da dona da TVI de 75 milhões de euros. Ou seja, incluindo este montante de dívida (enterprise value), a operação de compra avalia a Media Capital em cerca de 255 milhões de euros.
O valor por ação fica abaixo dos 2,48 euros que as ações da Media Capital valem na bolsa de Lisboa, de acordo com a cotação dos títulos antes de a negociação ser suspensa pela CMVM, no início desta semana. Fica também 42% abaixo do montante que tinha sido proposto pela Altice, em julho de 2017. Na altura, a telecom de Patrick Drahi oferecia 440 milhões de euros à Prisa para ficar com a totalidade do capital da empresa de media.
Ações da Media Capital estão suspensas há quase uma semana
À terceira é de vez?
Esta é a terceira tentativa de venda da Media Capital, sendo que as duas anteriores foram chumbadas pelos reguladores. Em setembro de 2009, foi a Ongoing a tentar entrar no capital da empresa com uma proposta para adquirir 35% da Media Capital, num negócio que avaliava a empresa em 450 milhões de euros.
Na altura, a operação foi chumbada porque o grupo detido por Nuno Vasconcellos já tinha uma participação na concorrente Impresa. Mas a Prisa continuou com intenção de vender e, em setembro de 2017, surgia uma nova proposta. Desta vez, vinha da dona da Meo. Mas o que é que justifica a diferença do preço oferecido agora e há apenas dois anos?
Há vários fatores. Primeiro, o facto de a Prisa querer vender a Media Capital há tanto tempo. Depois, o facto de a TVI ter perdido a liderança para a SIC. Por último, a configuração das próprias ofertas (e o plano de expansão que lhes seguiam).
A proposta da Altice estava acima da prática do mercado. A Media Capital registou uma faturação de 181 milhões de euros, dos quais 151 milhões de euros da TVI. O grupo detido (ainda) pela Prisa apresentou um EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) superior a 40 milhões de euros e lucros consolidados de 20 milhões de euros.
Ou seja, a Altice estava disposta a pagar um múltiplo de 11 vezes o EBITDA, enquanto a proposta da Cofina tem subjacente um múltiplo de seis vezes. E há uma diferença muito relevante entre uma eventual compra da Media Capital pela Altice ou pela Cofina, que o explica.
Enquanto o primeiro negócio assumia a figura de uma consolidação vertical — ou seja, entre empresas de diferentes setores, no caso, telecomunicações e media –, a tentativa de compra pela Cofina é uma integração horizontal, acontecendo entre duas empresas do setor de media.
Reguladores ainda têm de aprovar
O negócio ainda não está fechado. Para que a compra da TVI por parte da Cofina tenha sucesso é necessário que estejam reunidas algumas condições nomeadamente que a Autoridade da Concorrência não se oponha ao negócio, mas também que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) dê luz verde à operação tal como os acionistas da Prisa.
Além do valor, a diferença no negócio também poderá limitar os entraves levantados pelos reguladores. Por exemplo, em meados de 2018, quando a Autoridade da Concorrência (AdC) pôs a descoberto o que pensava de uma Media Capital detida pela Altice, o regulador falou em custos na ordem da centena de milhar para as empresas concorrentes.
Segundo a AdC, comprando a TVI, a Altice passaria a deter “um nível de poder económico que lhe daria a capacidade e o incentivo para implementar diversas estratégias de encerramento dos mercados à concorrência”. Nomeadamente, subindo os custos que as outras plataformas de TV — Nos, Vodafone e Nowo — teriam de pagar à Media Capital para poderem distribuir os canais do grupo. Pior: a Meo, querendo, poderia até bloquear o acesso das operadoras concorrentes aos canais da TVI (algo que a Altice garantiu que nunca iria fazer, apesar de o risco existir).
Este problema não se coloca quando o negócio em cima da mesa é com a Cofina. O grupo de Paulo Fernandes não detém uma plataforma de TV, mas sim um canal de televisão, distribuído nas quatro plataformas, e o jornal que é líder de vendas no país. No entanto, a autoridade ainda terá de se pronunciar sobre o negócio.
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