Mais antigo salão ibérico de têxtil aposta num futuro sustentável

Inovação aliada à sustentabilidade é um dos principais focos desta 54ª edição do Modtissimo, o mais antigo salão ibérico dedicado ao setor têxtil.

O Moditissimo está de volta para mais uma edição daquele que é considerado o mais antigo salão ibérico dedicado a tecidos, acessórios, confeção e têxteis inovadores. A “New community is coming” é o mote desta 54ª edição, que decorre entre quarta e quinta-feira na Alfândega do Porto e espera receber cerca de seis mil visitantes.

A inovação e a sustentabilidade têm um papel de destaque nesta edição que reúne um total de 400 coleções, com enfoque na produção nacional. “Dentro dos têxteis e do vestuário está a nascer uma nova comunidade mais preocupada com a sustentabilidade, com a reciclagem, com a indústria 4.0, e acima de tudo com o cuidado a ter na produção”, refere Manuel Serrão, CEO da Associação Selectiva Moda.

Tecidos recicláveis, produção sustentável e processos amigos do ambiente são a última tendência e é por isso que existe nesta edição um espaço intitulado de “iTechstyle Green Circle – Sustainability Showcase”, onde são apresentadas coleções de várias empresas portuguesas que recorrerem a tecidos, técnicas e processos ecofriendly. É caso para dizer que o Modtissimo e o Green Circle pretendem elevar o nível da sustentabilidade.

“Não devemos olhar para a sustentabilidade como uma palavra oca sem contornos”, refere Manuel Serrão.

Inovação, sim. Mas sustentável

Paulo Vaz, diretor geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) disse ao ECO “estamos a enfrentar uma mudança muito importante naquilo que é o negócio da moda. Os novos consumidores têm presentes um conjunto de valores que podem influenciar tudo isto, como a preocupação com a sustentabilidade, clima, ambiente e responsabilidade social”.

Considera que “Portugal tem condições para aproveitar este novo paradigma da sustentabilidade” e dá o exemplo do Green Circle que mostra que a nossa indústria está preparada para responder a isso mesmo, inclusive no desenvolvimento de processos ao nível da economia circular”

“A sustentabilidade é uma macro tendência, é algo incontornável, mas diria que já não é tão importante a questão da origem da matéria-prima, das fibras, mas sim a dimensão do processo. Até que ponto os processos são amigos do ambiente e qual o impacto“, explica Dolores Gouveia, responsável pelo fórum de tendências de tecidos do Moditissimo. Salienta a necessidade “de não nos preocuparmos apenas com as fibras, mas também com os processos que são extremamente poluentes“.

Dolores Gouveia considera que Portugal está num “excelente caminho” e destaca que “temos materiais têxteis que são realmente sustentáveis o que nos confere um estatuto de credibilidade a nível internacional”. Manuel Serrão não podia deixar de concordar e refere que “a Europa e Portugal são um exemplo e por isso mesmo é que somos reconhecidos lá fora”.

Processos que consumam menos água e energia, tingimentos naturais são alguns dos exemplos que podem contribuir para reduzir a pegada ambiental.

“A solução para a circularidade passa por “muita investigação, muito desenvolvimento tecnológico e soluções profundas ao nível da tecnologia de material”, refere ao ECO Braz Costa, diretor feral do Centro Tecnológico Industrias Têxtil Vestuário Portugal (Citeve). Acrescenta que existe “uma necessidade cada vez maior em pensar e repensar nos materiais usados. Só assim é que vamos conseguir resolver o problema”.

Explica que “existem muitos enganos” no que respeita aos matérias sustentáveis. Exemplifica. “A opinião pública pensa que o algodão é algo mais natural e menos agressivo ao ambiente que o poliéster, mas na verdade é errado. Quando comparamos a pegada ecológica inerente à produção de cada um deles, chegamos à conclusão que é exatamente o contrário”. Refere ainda que “a produção de algodão era responsável mundialmente pela difusão de muitas toneladas de pesticidas por ano”. Acrescenta ainda que o “algodão foi invadido por espécies geneticamente alteradas” e que tem “um consumo de água enorme”.

Braz Costa considera que “a nível mundial a Europa é a capital tecnológica do têxtil” e que Portugal “está na corrida”. Evidencia que o nosso país está bem posicionado até “porque existem algumas áreas de conhecimento”, apesar de não deixar de referir a falta de mão-de-obra qualificada.

“Quando vendo a sustentabilidade da produção têxtil portuguesa, menciono logo o facto de 70% da energia elétrica usada nas produções nacionais ser proveniente de fontes renováveis”, refere o diretor geral da Citeve.

A indústria têxtil e de vestuário portuguesa representa um volume de negócios de 7,8 mil milhões de euros. O setor, que em julho teve o seu melhor mês desde 2002, exportou o ano passado mais de 5,3 mil milhões de euros, sendo Espanha, França, Alemanha e Reino Unido, os principais clientes.

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