Meireles perde gás. 90% dos trabalhadores vão de férias antecipadas

Em plena pandemia, o ECO foi bater à porta do presidente da Meireles. Face ao cancelamento de encomendas aliada à escassez de matérias-primas, empresa sugere aos trabalhadores férias antecipadas.

A Meireles fabrica fogões há 89 anos, exporta para mais de 40 países e é líder em Portugal e Espanha, com uma quota de mercado de 36% e 26%, respetivamente. Passou pela segunda guerra mundial e está a agora enfrenta uma pandemia que já infetou mais de 400 mil pessoas em todo o mundo.

Os principais clientes dos fogões Meireles estão em Espanha, França e Reino Unido e os principais fornecedores em Espanha e Itália, os dois países europeus mais afetados pelo Covid-19, o que está a comprometer todo o processo de produção da empresa. “As encomendas estão a ser anuladas ou adiadas e está a tornar-se uma situação difícil de controlar em termos de fabrico”, explica ao ECO, Bernardino Meireles, presidente da empresa, um dos entrevistados nesta nova rubrica diária do ECO Gestores em teletrabalho.

“A situação em Itália tornou-se caótica e a indústria teve de encerrar. Já nos comunicaram que iam ter bastantes dificuldades em fornecer-nos matérias-primas. A partir da segunda quinzena de abril vamos enfrentar bastante problemas de produção devido à escassez de matérias-primas”, conta Bernardino Meireles.

Perante o adiamento ou cancelamento das encomendas dos clientes juntamente com a escassez de matérias-primas, a Meireles tomou uma providência: sugeriu aos funcionários férias antecipadas, em vez de aplicar o regime lay-off. “Entendemos que tínhamos de tomar uma decisão que é menos penosa para os trabalhadores que é a antecipação do período de férias”, explica o empresário.

As exportações para a Europa estão um desastre.

Bernardino Meireles

Presidente da Meireles

“É mais benéfico para os trabalhadores irem para casa de férias antecipadas do que um lay-off. Vão com subsídio de férias pago e com mais algum conforto económico para fazer face ao duro mês de abril que se avizinha”, refere Bernardino Meireles.

“Pedimos aos trabalhadores que decidissem de livre e espontânea vontade, se aceitavam a sugestão da empresa em antecipar as férias de agosto para abril”, explica Bernardino Meireles. Perante a solução, os trabalhadores concordam com a medida e vão de férias antecipadas durante catorze dias úteis. “Vão a 6 de abril e voltam a 27 de abril”, nota o responsável, precisando que “apenas um funcionário não aceitou a sugestão”.

Com esta medida, 90%, dos 177 colaboradores, vão de férias antecipadas e a Meireles passará a assegurar apenas os serviços mínimos com cerca de 10% dos trabalhadores. Gestão, armazenamento e piquetes de assistência técnica são os poucos setores que estarão em funcionamento.

Bernardino Meireles está convencido que em maio a empresa estará a “operar a 100%”. Mas “se tal não acontecer”, a empresa terá “de tomar outras medidas estruturais”, reconhece.

Para o responsável as férias antecipadas “é uma forma de poder preparar o segundo semestre de modo diferente e estarem todos disponíveis a trabalhar a 100% no mês de agosto”. “No segundo semestre temos de fazer uma recuperação das perdas de faturação que vamos ter nestes primeiros meses do ano”, destaca.

A Meireles fatura cerca de 20 milhões anualmente e com esta pandemia mundial, só em março já registaram perdas de 20%, que podem chegar a 50% no próximo mês. “Em março temos uma perda de 20% e estimamos que no mês de abril ultrapasse os 50%. Vai ser caótico. Isto dá uma perda de aproximadamente 1,8 milhões por mês, sendo que em abril pode ser superior a 50%”.

O presidente da empresa fundada em 1931 considera que a economia vai sofrer imenso e a sua grande preocupação “é até que ponto é que a procura vai ser retomada”.

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