Ribeiro da Silva atento aos “oportunistas” que não querem pagar luz e gás à Endesa. Mesmo a trabalhar à distância

"Circularam nas redes sociais apelos ao não pagamento das faturas de energia". Nuno Ribeiro da Silva, a trabalhar à distância, diz que a Endesa está atenta aos "oportunistas".

Com várias petições públicas a circular online para que as empresas de energia deixem de cobrar pelo fornecimento de eletricidade e gás, enquanto durar o estado de emergência em Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, presidente da elétrica espanhola Endesa em Portugal garante que já há consumidores que estão a aproveitar o facto de as energéticas não poderem levar a cabo cortes no fornecimento — por decisão própria e por recomendação do regulador — para deixarem de pagar as faturas. E fala mesmo em “oportunismo“.

“Já tivemos sinais disso. Circularam nas redes sociais apelos ao não pagamento das faturas de energia. E há oportunistas em todas as situações. Aquela ideia que grandes empresas, com um certo músculo, aguentam tudo, também não é verdade. Aqui o apelo é para que as pessoas tenham pudor e não haja oportunismo. Uma coisa é todos arregaçarmos as mangas e, para as situações efetivamente mais críticas, termos a possibilidade de fazer a nossa parte. Outra coisa é oportunismo e abusos. Espero que haja bom senso por parte das pessoas e instituições para que não descredibilizemos o esforço e o trabalho que cada um faz”, diz o gestor que está há duas semanas em teletrabalho, tal como a totalidade dos cerca de 7.000 trabalhadores da Endesa em Portugal e Espanha.

Quanto a oferecer luz e gás, Ribeiro da Silva, entrevistado para a rubrica Gestores em teletrabalho, do ECO, diz que “é algo que avaliamos como muito específico para instituições de solidariedade social, hospitais, hotéis transformados em hospitais de campanha”. Além de ter decidido suspender temporariamente os cortes de luz e gás por falta de pagamento, a Endesa pôs também em marcha planos de pagamento diferido, negociação de prestações, e tem na calha um plano no valor de 25 milhões de euros na Península Ibérica, para ações de mecenato: como o fornecimento de ventiladores ao hospital de Abrantes, em parceria com a participada Trustenergy, dona das centrais a carvão e ciclo combinado do Pego, e a oferta de computadores às crianças que estão em casa e precisam destes equipamentos para as aulas virtuais.

“Em Portugal, estamos a ultimar o plano de fornecimento de eletricidade gratuita a iniciativas como os hotéis medicalizados, tendo em conta a nossa relação próxima com o setor hoteleiro e do turismo, gravemente afetados neste momento. Os hotéis que se ofereçam para hospitais de campanha ou descanso de pessoal médico terão um programa de fornecimento de energia gratuita”, anunciou Ribeiro da Silva em primeira mão ao ECO.

Todos os outros consumidores têm de continuar a pagar a energia que consomem e a Endesa vai estar atenta a “entidades, empresas, instituições e particulares que se atrasam nos pagamentos das faturas. Porque “alguns têm razões para isso, mas outros não”, defende. E se algumas situações de incumprimento já vêm de trás — como é o caso do município de Viana do Castelo e do Instituto da Segurança Social, revela o presidente da Endesa –, outras começam agora a surgir, com grande tendência para que esta situação se agrave nos próximos tempos, em função de “situações difíceis decorrentes do soco no estômago que todos apanhámos”.

“Estamos muito atentos e motivados para controlar essas situações de incumprimento e mitigar os prejuízos, tendo consciência que temos um papel essencial no fornecimento de serviços básicos como eletricidade, o gás e o aquecimento. Quando compramos gás natural, quando temos de amortizar as prestações dos nossos equipamento e pagar aos trabalhadores, também cumprimos as nossas obrigações. Não somos um serviço público, mas acabamos todos por pagar a conta. Como dizia o ministro da Economia, não há pequenos-almoços à borla. Estamos a fazer esse trabalho de arregaçar as mangas, por isso também não é tempo de abusar”, avisa Ribeiro da Silva.

Os números ainda não estão fechados mas o presidente da Endesa em Portugal garante que já se nota, e bem, uma subida no consumo de energia das famílias, sendo por isso certo que as faturas dos clientes domésticos tenderão a subir nos próximos meses. “Em termos globais, há uma quebra na procura de eletricidade em Portugal na ordem dos 13%/14%, mas isso resulta de uma diminuição da atividade empresarial, que representa 58% do consumo. Se há uma fábrica grande que para, isso tem um impacto maior do que o crescimento do consumo das famílias como resultado de as pessoas estarem em casa”, diz Nuno Ribeiro da Silva.

O impacto deste cenário de quebra na procura e no consumo de energia nas contas da Endesa (com sede em Espanha e detida pela italiana Enel, dois dos países mais “dramaticamente” afetados pela pandemia) também ainda está por apurar, sendo que neste momento o gestor fala em “lamber feridas” e não tanto em definir um plano B ou uma estratégia para um futuro completamente incerto. “O mais angustiante é que o tempo é totalmente ocupado a mitigar problemas, e não numa atitude proativa de olhar para frente. Vamos tendo noção dos impactos imediatos no sistema elétrico. Números mais concretos surgirão no fecho do mês, do trimestre e depois do semestre”.

Endesa afasta recurso ao lay-off

Ribeiro da Silva, que anda num “raide direto, entre casa e o escritório”, porque tem sempre “papéis para assinar, questões para ver com os informático que estão lá a monitorizar o funcionamento de todo o sistema de teletrabalho”, afasta, para já, que a Endesa avance para o regime de lay-off, preferindo realocar pessoas de domínios que estão parados para outras áreas: como por exemplo as forças de vendas porta a porta, que vão ser direcionadas para dar assistência telefónica em call centers.

Sobre a atuação do Governo português, para mitigar o impacto económico da crise e ajudar as empresa, o gestor diz que “tem havido consciência e preocupação – ainda que às vezes de forma atabalhoada, mas andamos todos a improvisar e a conduzir num nevoeiro denso, ninguém tem a perspetiva da estrada até à próxima curva“.

“As medidas, os paliativos que vão aparecendo, parecem-me ter bom senso, mas penso que ao nível da UE temos de estar preparados para uma intervenção mais estrutural. Uma coisa é preparar medidas de lay-off, que também são importantes, de ajustamento fiscal, mas no plano de fundo, na minha opinião, tem de haver uma intervenção muito radical que passaria por uma emissão de dívida perpétua com remuneração zero, tomada pelos bancos centrais, para poderem emitir cheques para as empresas, para as famílias, para evitar quebra na procura e desemprego massivo. Uma forma de conter a passagem do vírus na economia, e evitar passagem para sistema financeiro e tecido social. A única forma que eu vejo é uma ação de dívida de caráter vitalício que os bancos centrais tomam e distribuem”, defende o gestor.

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