Regresso ao “novo normal”. Que estratégias estão a ser seguidas pelos países?

Costa reúne-se esta terça-feira com economistas para preparar a reanimação da ecomonia. Na Europa, vários países já começaram a redução gradual das restrições. E na Ásia aprende-se com esse regresso.

A Europa já começa a pensar no pós-pandemia com países como a Áustria, a Dinamarca ou a Alemanha na linha de frente da redução gradual das restrições. Portugal também espera chegar a esse patamar em breve, tanto que o primeiro-ministro chamou economistas esta terça-feira a São Bento para discutir a reanimação da economia, segundo o Expresso. É um regresso a um “novo normal” enquanto se espera por uma vacina ou uma medicação eficaz.

Neste momento, os Governos estão a colocar duas prioridades em cima da balança: aliviar as medidas demasiado cedo ou demasiado rápido pode levar a um ressurgimento das infeções, obrigando a um retrocesso; esperar mais tempo para colocar a economia a funcionar pode criar fadiga na população e gerar estragos irreparáveis às empresas. É como andar “na corda bamba”, resumiu a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederikse, quando explicou aos cidadãos o levantamento de certas restrições.

Alguns países europeus, que também foram os primeiros a impor restrições, começam agora a retirar algumas das limitações, de forma gradual. O objetivo é, de certa forma, adaptar a economia e aprender a viver com a pandemia, possivelmente pelo menos durante mais um ano. Alguns países asiáticos já o estão fazer há algumas semanas, mas na Europa, países como a Alemanha, Áustria ou República Checa serão uma espécie de “caso experimental” com os quais outros, como Portugal — a taxa de crescimento dos infetados confirmados foi de 2,1% esta segunda-feira, a mais baixa desde que a DGS divulga os dados –, poderão vir a aprender em breve.

Alemanha prestes a normalizar mas com máscaras, apps e testes

Com um elevado nível de testes e um dos melhores sistemas de saúde — o Financial Times escrevia esta segunda-feira como o “excesso” de camas de hospital ajudava na luta contra o vírus –, a Alemanha tem conseguido ser um dos países menos afetados, em termos relativos, pela pandemia. Agora o objetivo passa por efetuar uma gradual normalização da vida pública, tal como referia a Academia Nacional de Ciências alemã no seu último parecer.

Os especialistas deram três recomendações para que a reversão das medidas possa acontecer: o uso generalizado de proteção da boca e nariz (máscaras, exceto as que estão reservadas para os profissionais de saúde), o uso de dados dos telemóveis (apenas no curto prazo com um app de uso voluntário para identificar infetados e pessoas que estiveram com estes) e o aumento da capacidade de testar (atualmente já é superior a 350 mil testes por semana).

Ao mesmo tempo, é “urgente” que haja um estudo sobre a imunidade que existe na população e manter as regras de distanciamento social e de higiene introduzidas, como a lavagem frequente das mãos e a inexistência de cumprimentos físicos. A Academia está a trabalhar em mais recomendações para um “recomeço sustentável” da vida pública e da economia.

Na semana passada, o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, apontou o arranque da normalização para o período após 19 de abril e mostrou-se confiante sobre a “tendência positiva” mas também cauteloso, pedindo aos alemães para continuarem a cumprir o confinamento. Contudo, há uma certeza: a normalização tem de ser gradual, caso contrário “não funcionará”.

“No futuro próximo, a principal tarefa será identificar rapidamente e isolar os infetados”, explicou, referindo que posteriormente é necessário rastrear os seus contactos e isolá-los. Para Spahn “esta é a única forma de quebrar as cadeias de transmissão da infeção”. E nem tudo voltará ao normal, com as festas e os grandes eventos públicos a ficar em stand by.

Um documento do Governo divulgado pela imprensa alemã relata o possível plano de normalização gradual: reabertura de algum retalho e restauração, assim como das escolas, consoante a situação em cada região e com medidas para diminuir o contacto; manter a proibição de grandes eventos e festas privadas por um período mais longo; e o reforço da proteção individual dos trabalhadores nas empresas.

Em Espanha, onde a situação é neste momento pior do que em Portugal, também já se planeia o pós-pandemia com o Governo a encarregar as empresas de protegerem os trabalhadores no regresso ao posto de trabalho, segundo o El Mundo, que relata que alguns setores dizem que não há máscaras no mercado. Segundo o mesmo jornal, o plano de Pedro Sánchez é começar a retomar a normalidade entre 12 de maio com a abertura do pequeno comércio e 23 de junho com o levantamento da proibição dos espetáculos e eventos desportivos.

Áustria, Dinamarca, Noruega e República Checa já arrancaram com normalização

Logo no início deste mês, alguns países europeus começaram a anunciar uma gradual normalização, o que levou a Comissão Europeia a preparar um plano para a “saída” da pandemia de forma a coordenar a ação europeia nesta área, prevenindo uma desordem em países que estão bastante interligados, principalmente os que fazem fronteiras com vários países.

A publicação dessas orientações viria a ser adiada após a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter dito que era demasiado cedo para relaxar nas medidas. Quase duas semanas depois, e quando a OMS se prepara para lançar um guia para os países que estão a arrancar com a normalização, a Comissão deverá mesmo publicar em breve esse documento agora que os países começam a retirar algumas medidas.

Na Áustria, as lojas mais pequenas regressam esta terça-feira, 14 de abril, e as maiores a 1 de maio. Os restaurantes, ginásios, cabeleireiros e hotéis deverão voltar a meio de maio ou junho. Na Dinamarca, as escolas e os centros de dia deverão abrir a 15 de abril, mas a proibição de haver encontros com mais de 10 pessoas continuará até 10 de maio e os grandes eventos ficam proibidos até agosto.

Na República Checa, há mais lojas que deverão abrir após este fim de semana de Páscoa e serão relaxadas as regras para o desporto ao ar livre, desde que não seja em grupo, como a corrida e o ciclismo. Na Noruega, os jardins-de-infância vão abrir a 20 de abril e os níveis seguintes de ensino uma semana depois.

O que está a acontecer na China e noutros países asiáticos? E há outras alternativas?

Em Wuhan, a cidade chinesa onde o surto começou, a normalidade está a regressar gradualmente, mas uma recente reportagem do New York Times mostrava como existe um “novo normal” dado o próprio receio da população. Exemplo disso é que os autocarros e o metro voltaram a funcionar, mas estão frequentemente com poucos passageiros face ao período anterior à pandemia. Ainda assim, 94% das empresas (quase 11 mil no total) estão novamente a funcionar, segundo dados do executivo local.

Na Ásia, aliás, há mais exemplos de países que também já começaram a normalização. É o caso da Coreia do Sul, país que é referido como um dos que conseguiu controlar a pandemia de forma mais eficaz até ao momento. Contudo, o percurso para a normalidade também já encontrou obstáculos com uma subida repentina dos casos, fazendo temer um regresso do vírus em força que, para já, não se confirmou. O mesmo aconteceu pelo menos numa região japonesa que recuperou o estado de emergência que tinha sido levando há um mês.

Em Portugal, também já há apelos a um regresso à normalidade. Numa carta enviada ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e ao presidente da Assembleia da República, 159 personalidades pedem uma retoma “gradual” da economia com a introdução de novas medidas de contenção, entre as quais o uso obrigatório de máscaras por toda a população, testes de todos os casos suspeitos num prazo máximo de 24 horas, a notificação de cada cidadão em risco através de SMS ou a disponibilização de solução de base alcoólica em locais públicos.

Além disso, argumentam que é necessário criar uma alternativa a mais períodos de confinamento — “um modelo cego e com impacto sem retorno na economia de um país”, escrevem — caso haja uma segunda vaga do vírus. “Vários países (e.g. Japão, Singapura, Coreia do Sul) mostram ser possível com medidas de contenção muito rigorosas manter a economia em funcionamento sem lockdown e, ao mesmo tempo, conter a propagação do vírus num patamar inferior a um número restrito de casos por dia”, exemplificam. Numa entrevista ao ECO, Álvaro Santos Pereira, também tinha alertado para os efeitos devastadores de um novo período com as mesmas medidas agora tomadas, referindo que os Governos teriam de preparar-se melhor para uma eventual segunda vaga.

As possibilidades são quase ilimitadas no que toca à estratégia de saída e ao calibrar das medidas. Um grupo de investigadores de Harvard, por exemplo, sugeriu uma estratégia de “on” e “off”: a ideia é que haja períodos intervalados de normalização e de confinamento, o que poderia permitir não sobrecarregar os serviços de saúde e, ao mesmo tempo, aumentar gradualmente a imunidade de grupo. “Ainda que o distanciamento social possa parecer a estratégia mais eficaz, desenvolve-se pouca imunidade ao nível da população a um vírus que é muito provavelmente que volte outra vez”, avisam.

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