Compre online, receba à porta. Como as marcas tentam vender carros na pandemia

Com os showroom fechados, as marcas estão a apostar tudo no online para continuarem a vender automóveis. Pandemia digitalizou o negócio.

Comprar um automóvel novo em plena pandemia pode ser um desafio. Com o estado de emergência, muitos negócios foram forçados a encerrar, entre eles os stands das mais variadas marcas, levando a uma quebra sem precedentes das vendas. Mas o setor não está, nem vai ficar, parado à espera que as restrições sejam levantadas. Várias fabricantes estão a adaptar o negócio, tornando-o quase totalmente digital. Escolhe-se tudo online, espera-se pelo carro na proteção do lar.

Ainda são muitos aqueles para quem a compra de um bem de valor tão elevado, como é um automóvel, praticamente obriga a ir ver in loco os veículos que poderão satisfazer os desejos. Esta é a oportunidade para ver em pormenor aqueles detalhes que podem fazer pender a escolha para um ou outro modelo. Num contexto normal, as marcas agradecem. É o momento para tentarem conquistar potenciais clientes, mas com os showroom fechados, resta o digital.

Há muito que as marcas têm nos seus sites os configuradores, mas no meio desta crise de saúde pública, estes ganham maior relevância, com as várias marcas a apresentá-los como “o” ponto de venda. E são muitas as que estão a promover este canal para tentar colocar alguns veículos na rua — procurando contrariar a queda expressiva nas vendas que, segundo a ACAP, foi de 86% nas duas primeiras semanas de abril.

“Particulares e profissionais podem, no atual contexto de saúde pública, continuar a adquirir as viaturas necessárias à sua mobilidade, encontrando na Peugeot e na sua rede de concessionários, as ferramentas que lhes permitem escolher” o carro novo, refere a marca do leão. E o mesmo acontece na Opel, marca recentemente adquirida pela PSA, fabricante francesa liderada pelo português Carlos Tavares. O site tem “as ferramentas que lhes permitem escolher, comparar, reservar e comprar”.

A FCA está a fazer o mesmo. “Para garantir o contacto com os clientes e potenciais interessados nas marcas Alfa Romeo, Fiat, Fiat Professional, Jeep e Abarth passa a estar disponível o programa ‘Car@Home‘”, diz a marca em comunicado. Este programa, já implementado noutros países europeus, permite manter os concessionários abertos virtualmente, para prestarem todos os esclarecimentos, apoiarem na escolha de um automóvel e apresentarem propostas de aquisição, antecipando o melhor possível um projeto de compra”, nota.

"Particulares e profissionais podem, no atual contexto de saúde pública, continuar a adquirir as viaturas necessárias à sua mobilidade, encontrando na Peugeot e na sua rede de concessionários, as ferramentas que lhes permitem escolher, comparar, reservar e comprar.”

Peugeot

Também a SIVA, representante de marcas como a Skoda, Volkswagen e Audi no mercado nacional, reforçou a aposta no online, procurando ajudar a rede de concessionários que sofre com a quebra de 70% na faturação. A Auto Sueco até lançou um “novo website – www.autosuecoautomoveis.pt – mais alinhado com as necessidades atuais dos nossos clientes” para vender marcas como Honda e Mazda, além das premium Volvo, Land Rover e Jaguar. E, neste segmento, também a Mercedes apresenta a sua plataforma de vendas online em www.mercedes-benz.pt para vender os modelos da estrela.

Virtual transforma-se num carro real

Os configuradores online podem dar uma ajuda às marcas na tentativa de comercializar algumas unidades, evitando um impacto ainda mais negativo do estado de emergência. Contudo, muito dificilmente será possível “desenhar” e comprar um carro nestas plataformas sem contactar algum profissional da marca em questão. Até porque esse acaba por ser o objetivo destes interfaces digitais, o de manter clientes ou potenciais clientes em contacto com as marcas.

Na FCA, por exemplo, “as equipas comerciais da rede de concessionários receberam formação específica e foram equipadas com os mais avançados meios digitais para estarem disponíveis, nomeadamente através de videoconferência com o Google Hangouts Meet, a partir de casa, de modo a garantir o máximo de condições de segurança para todos”. Estão disponíveis para ajudar, mas não farão milagres, dado o contexto.

Um carro à medida em plena pandemia dificilmente estará nas mãos do potencial cliente em breve. Se num contexto de normalidade uma configuração mais personalizada acaba por fazer com que a encomenda demore alguns meses a chegar, com a pandemia demorará ainda mais. É preciso não esquecer que grande parte das fábricas de automóveis encerraram com esta crise de saúde pública, tanto por necessidade de proteção dos trabalhadores como por falta de componentes e, claro, também falta de procura.

Se um carro personalizado será difícil de adquirir já, o mesmo não se pode dizer de veículos que as marcas têm em “stock”. E são muitos. A “plataforma nacional Peugeot Webstore dispõe de perto de 2.000 viaturas em ‘stock'”, refere a marca francesa, que tal como várias outras marcas promete entregar-lhe o carro como quando se pede um Uber Eats. Sim, o carro vai para a sua casa.

É verdade que receber o carro novo em casa é possível num contexto normal, mas esta facilidade acaba por ser mais um mimo das marcas durante uma situação excecional em que grande parte dos portugueses está em casa de forma a evitar a propagação do Covid-19. “O cliente pode adquirir a sua viatura de forma cómoda, a partir de smartphone, tablet ou PC, com a entrega a ser efetuada no conforto e segurança da sua casa”, diz a Peugeot. “Pode agendar a entrega ao domicilio, fazendo todo o processo à distância”, nota a Opel.

No caso da SIVA, a “Volkswagen aderiu ao conceito e passou a propor aos seus clientes que o seu carro novo possa ser entregue em casa, com toda a comodidade”, refere. Este “serviço ‘Volkswagen à porta’ é gratuito e está disponível nos concessionários Volkswagen aderentes em todo o país“, diz, trazendo à memória a campanha que a Amazon, juntamente com a Nissan, protagonizaram em 2014, em que um reboque levava uma caixa enorme da empresa de Jeff Bezos até à casa do novo dono do modelo nipónico.

Gastar tanto dinheiro à distância? Há crédito

Esta pandemia tornou muitos negócios dependentes da internet, agradecendo o facto de a rede conseguir aguentar todo o tráfego que de um momento para o outro passou das estradas para os cabos de fibra ótica. Mas se encomendar uma refeição é algo relativamente comum, fazer as compras do mês através de uma qualquer página da internet já é um pouco mais desafiante. São valores mais elevados, o que levanta sempre questões de segurança. Então, e comprar um carro online?

Um automóvel novo nunca custará menos de 20 ou 30 mil euros, uma soma bastante elevada para se gastar sem ter aquele conforto do aperto de mão ao profissional do setor. E também não serão todos os portugueses que terão esse valor na conta para gastar num veículo. As marcas também pensaram nesse aspeto, pondo ao dispor dos clientes ferramentas para que “possa proceder ao financiamento da sua viatura, à distância, não invalidando a necessidade de envio de originais por via postal”, dizem as marcas do Grupo PSA.

Esta facilidade de acesso a financiamento esbarrará, contudo, no contexto de crise económica que começa a ser percetível com o passar do pico da crise sanitária. Há crédito, mas são cada vez mais as famílias que estão a enfrentar quebra de rendimentos por situações de lay-off, ou mesmo de despedimento, um contexto que não é propício à realização de investimentos avultados em bens como um automóvel, muito menos recorrendo a um crédito que poderá tornar-se difícil de suportar.

Uma das medidas do Governo no meio desta crise, além das que procuram evitar que muitos portugueses sejam despedidos das empresas neste período de quebra de receitas, foi a criação de moratórias nos créditos para aliviar os encargos neste momento de quebra de rendimentos. Criou uma almofada para as casas, sendo que os bancos acabaram por complementá-la com moratórias para os financiamentos ao consumo, entre eles os créditos contraídos para comprar carros. E muitas famílias, em aflição, estão a usá-las.

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