Portugueses aceitam app de contact tracing, mas exigem proteção de dados
A maioria dos portugueses reconhece vantagens na adoção de uma aplicação que permita saber se alguém esteve em contacto com uma pessoa infetada por Covid-19. Mas exigem que os dados sejam privados.
Os portugueses reconhecem as vantagens de uma aplicação para rastreamento de infetados com Covid-19 pelas autoridades e admitem utilizá-la, desde que a privacidade dos dados seja garantida, conclui um inquérito da Deco.
Realizado entre os dias 24 e 27 de abril, com base em mil respostas obtidas online, para avaliar a recetividade dos portugueses a uma aplicação para smartphone que permita às autoridades de saúde rastrearem casos positivos de Covid-19, o inquérito conclui que “a maior parte mostra-se confortável com esta solução para combate à pandemia”, refere a associação de defesa do consumidor.
“A grande maioria dos inquiridos reconhece a utilidade de uma aplicação que permita o rastreamento de contactos, enviando alertas aos utilizadores caso entrem numa zona em que circulam pessoas infetadas com o coronavírus ou após contacto com infetados, num transporte público ou num estabelecimento comercial, por exemplo”, refere a Deco.
Contudo, adverte a associação, “apesar de acreditarem que uma app com estas funcionalidades pode salvar vidas”, os inquiridos “não deixam de expressar reservas quanto à privacidade dos seus dados”.
Neste aspeto, a geolocalização é apontada como a questão “que gera maior desconforto”: Quando questionados sobre a possibilidade de as operadoras de telecomunicações recolherem dados de GPS para que as autoridades monitorizem os hábitos de mobilidade dos cidadãos durante a pandemia, cerca de metade concorda com a medida, mas apenas se esses dados forem anónimos. Caso contrário, esse número cai para um terço. Outra das reservas apresentadas pelos inquiridos é a partilha de dados, que apenas admitem sob anonimato.
Assim, medidas como a emissão de certificados de imunidade (que atestam que alguém recuperado do Covid-19 foi considerado imune à doença) ou a monitorização de pessoas infetadas (para garantir que estão a respeitar o período de quarentena) parecem ser “amplamente aceites pela maioria dos portugueses”, desde que esteja garantido o anonimato.
“Embora quase 80% dos inquiridos se sintam confortáveis com a utilização de uma aplicação que envia alertas aos utilizadores se entrarem numa área com infetados, essa percentagem cai para menos de 60% se os dados não forem anónimos”, nota a Deco.
De acordo com a associação, apesar da “aparente disponibilidade dos portugueses para a partilha de dados pessoais com as autoridades devido à pandemia, a privacidade não deixa de ser uma preocupação”, até porque 84% dos inquiridos “concordam que não existem garantias absolutas de anonimato”.
Neste contexto, quando questionados sobre se aceitariam instalar voluntariamente uma app que conceda às autoridades acesso total a informações sobre as suas deslocações e localização, “pouco mais de 40% responderam afirmativamente”. Ainda assim, os inquiridos “acreditam ser possível encontrar soluções tecnológicas que, ao mesmo tempo que permitam utilizar dados pessoais no combate ao coronavírus, respeitem os direitos de privacidade dos cidadãos”.
Na opinião da Deco, se as autoridades nacionais avançarem com uma solução desta natureza – conforme tem vindo a ser incentivado pela Comissão Europeia, desde que com garantias de anonimato e de instalação voluntária da app – “é essencial que o legislador tome todas as medidas para minimizar possíveis violações de privacidade”.
O inquérito revela também que “mais de um quinto dos portugueses já descarregou algum tipo de aplicação relacionada com o coronavírus”, sendo que as apps atualmente disponíveis permitem fazer o acompanhamento de informação sobre a evolução da pandemia, autodiagnóstico e monitorização de sintomas.
A este propósito, a Deco aconselha que, antes de descarregar qualquer aplicação, o consumidor leia atentamente os seus termos e condições e consulte a política de privacidade, prestando “especial atenção às permissões de acesso”, já que em causa estão “não apenas os seus dados pessoais, mas também os seus dados de saúde”.
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