Há 20 anos que os portugueses não levantavam tão pouco dinheiro no Multibanco

O Banco de Portugal fala numa "redução sem precedentes na utilização dos cheques e das operações com cartão", em abril, mês em que os levantamentos de dinheiro fixaram mínimos de 20 anos.

A pandemia veio desaconselhar o manuseamento de dinheiro e privilegiar os meios de pagamentos digitais como forma de minimizar os riscos de contágio pelo novo coronavírus. E os efeitos práticos desses conselhos são visíveis. Os levantamentos de dinheiro nas caixas Multibanco estão em mínimos de 20 anos, indicam dados do Banco de Portugal divulgados nesta segunda-feira. O regulador fala ainda numa “redução sem precedentes na utilização dos cheques e das operações com cartão“.

No que respeita à utilização em geral dos cartões bancários, os dados relativos a abril apontam para uma diminuição que foi na ordem dos 42,9% em número e 28,8% em valor, face ao mesmo período do ano, tendo sido realizados 114,7 milhões de operações, no valor de 7,3 mil milhões de euros.

Esta evolução negativa deveu-se essencialmente à forte redução que foi observada não só nos levantamentos, como nas compras e operações de baixo valor (como portagens e parques de estacionamento). “Para encontrar um número mais baixo de operações com cartão, é preciso recuar 11 anos, até fevereiro de 2009, e, em termos de valor, até fevereiro de 2015”, diz a esse propósito o Banco de Portugal.

No que respeita aos levantamentos, em termos homólogos, a quebra foi de 51,9% em número e de 40,3% em valor nas operações. Nesse mês, foram efetuados apenas 17,2 milhões de levantamentos no valor de 1,5 mil milhões de euros. “Ao longo dos últimos 20 anos, não existe registo de um número tão reduzido de levantamentos de numerário“, diz a este propósito a entidade liderada por Carlos Costa.

Já as compras efetuadas com cartão decresceram “de forma igualmente significativa” relativamente ao período homólogo: 42,5% em número e 39,7% em valor, para 60,9 milhões de operações (número mais baixo desde fevereiro de 2014), no valor de 2,4 mil milhões de euros (valor mais baixo desde fevereiro de 2015).

O Banco de Portugal fala ainda numa “redução sem precedentes na utilização dos cheques“. No que respeita a este meio de pagamento em concreto, que vem a entrar cada vez mais em desuso, a quebra de utilização foi na ordem dos quase 50% em abril, tanto em quantidade como em valor, face ao período homólogo.

No mês passado, foram efetuados cerca de 1,2 milhões de pagamentos com cheques, no valor de 4,1 mil milhões de euros, o que corresponde a reduções de 44,9% em número e de 47,9% em valor relativamente a igual período do ano anterior. “A redução drástica da atividade económica e a preferência dos agentes económicos pela utilização de instrumentos de pagamento que exijam um menor contacto físico contribuíram para estes números, que correspondem à quantidade e ao valor mais baixos registados, ao longo dos últimos 20 anos, nas operações com cheques“, concretiza o Banco de Portugal.

Mas se os cheques foram menos utilizados, a percentagem de cheques devolvidos por insuficiência de provisão pelo contrário aumentou. A subida foi de 0,48% em número e de 0,41% em valor, o que compara com taxas significativamente mais baixas no período pré-pandemia (em fevereiro, 0,27% em número e 0,23% em valor).

Contactless reforça importância

Apesar da redução generalizada na utilização dos cartões, as compras online e as com recurso à tecnologia contactless, pelo contrário, continuaram a registar crescimentos significativos.

No que respeita ao contactless, a sua utilização cresceu na ordem dos 44% em número e 123% em valor, em abril. O seu peso no total de compras com cartão subiu também de forma expressiva. Se em fevereiro, 11,6% das compras com cartão foram efetuadas com recurso a esta tecnologia, em abril o respetivo peso já foi de 17,4%. As compras com a tecnologia contactless foram realizadas maioritariamente no setor do comércio a retalho (81,2% em número e 85,5% em valor).

Já nas compras online, o respetivo peso relativo no total de compras efetuadas com cartão passou de 7% em número e de 8,1% em valor, em fevereiro, para 11,2% e 10,8%, respetivamente, em abril.

Neste universo, manteve-se a tendência verificada no período pré-pandemia para as compras online em sites de comerciantes portugueses. Estas aumentaram 21% em quantidade e 53% em valor em abril, face ao período homólogo. Já as compras efetuadas em sites estrangeiros reduziram 18% em valor e cresceram 10% em quantidade.

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