Receitas na hotelaria vão cair até 90%. Setor estima perdas de até 3,6 mil milhões este ano
Nestes três meses de pandemia, cerca de 90% dos hotéis aderiram ao lay-off e 40% às linhas de financiamento do Governo. Até ao final do ano, esperam-se perdas de até 3,6 mil milhões de euros.
Março e abril já apontavam nesse sentido e, com o evoluir da pandemia, maio veio confirmar as expectativas do setor hoteleiro. Com praticamente todos os hotéis a retomarem a atividade, a procura continua fraca. Setor estima quebras de até 90% das receitas na totalidade do ano, o equivalente a uma perda superior a três mil milhões de euros, de acordo com o inquérito da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP).
“O primeiro semestre foi uma desgraça”, começou por dizer Cristina Siza Vieira, vice-presidente da associação, na sessão virtual de apresentação do terceiro inquérito, referente ao período entre 15 e 29 de maio. No primeiro inquérito, ainda em março, “havia otimismo e a maioria falava em perdas de receita de 10%”, explicou a responsável, notando que agora o cenário é bem mais negativo.
Agora, as estimativas apontam para uma perda de receita entre os 70% e os 90% nos primeiros seis meses mas, na totalidade de 2020, a AHP antecipa uma quebra entre os 60% e os 89%. Em euros, isto equivale a uma perda entre os 3,2 e os 3,6 mil milhões de euros.
Em termos de taxa de ocupação, a AHP prevê um recuo entre os 70% e os 90% no primeiro semestre. Contudo, disse Cristina Siza Vieira, “espera-se que o segundo semestre tenha uma melhor performance“. Assim, as estimativas apontam para uma perda entre os 50% e os 70% na taxa de ocupação na totalidade do ano. “Há alguma expectativa de que 2020 não seja tão negativo como o primeiro semestre”, disse a responsável.
Medidas de higiene e segurança vão custar, em média, 40 euros por quarto
Em linha com a perda de receitas, a hotelaria também antecipa uma perda na taxa de ocupação. De acordo com a AHP, as estimativas apontam para uma taxa média de ocupação de 30% até ao final do ano. “Nos meses de verão vai aumentando a proporção dos hotéis que pensam estar abertos. Há, de facto, uma evolução positiva, mas prudente e realista”, notou a vice-presidente da associação.
Para tentar conquistar mais hóspedes, os hotéis adaptam-se e uma das estratégias passa por aderir ao selo “Clean&Safe”, do Turismo de Portugal. “68,5% dos hotéis quer pedir [este selo]. E a estimativa da AHP é que 70% dos hotéis já o tenham”, disse Cristina Siza Vieira, que já tinha referido, em entrevista ao ECO, que este selo seria um fator decisivo na hora de um hóspede escolher onde ficar alojado.
Haverá ajustes, promoções e campanhas, porque são as ferramentas saudáveis de lidar com o mercado que está oprimido, mas a intenção no grosso da hotelaria é que o preço se mantenha.
Mas, para ter este selo, é necessário cumprir as regras de segurança e higiene definidas pela Direção-Geral de Saúde. E isso tem custos. Este inquérito permitiu apurar que os hotéis pretendem gastar cerca de 3.818 euros por mês a implementar estas medidas, o equivalente a 40 euros por quarto. “Só com esta despesa, estamos em quase 50.000 euros anuais”, disse a responsável.
Relativamente aos preços, um ponto que suscita a curiosidade dos hóspedes, Cristina Siza Vieira adiantou que “não vai haver saldos na hotelaria”. Tal como já tinha referido na mesma entrevista ao ECO, a responsável notou que “haverá ajustes, promoções e campanhas”, porque “são as ferramentas saudáveis de lidar com o mercado que está oprimido”, mas “a intenção no grosso da hotelaria é que o preço se mantenha“. Ainda assim, admitiu que 40% dos hotéis admite ajustar os preços em 20%.
90% da hotelaria recorreu ao lay-off. Mas só 1% despediu
De acordo com as conclusões deste inquérito, 90% das unidades hoteleiras aderiram ao lay-off, a maioria durante três meses. E, desse universo, 99% não fez despedimentos. Quanto à percentagem de cerca de 1% que recorreu ao lay-off, 25% optou por dispensar até 5% dos colaboradores em regime experimental e 36% decidiu não renovar os contratos a termo de até 5% dos trabalhadores.
Houve ainda 40% dos hotéis a recorrer às linhas de financiamento criadas pelo Governo: 88% recorreu à Linha de Apoio à Economia, quase 8% ao Apoio à Tesouraria de Microempresas do Turismo e 4% à Linha de Crédito Capitalizar. Contudo, Cristina Siza Vieira refere que estas linhas “não foram a primeira opção das empresas do turismo mais convencional”. Isto porque, explicou, “os primeiros impactos foram no sentido de ir a correr ao lay-off”, dado que “o primeiro custo fixo é o pagamento aos trabalhadores”.
Estes primeiros impactos não foram no sentido de ir a correr às linhas, mas antes de ir a correr ao lay-off. Porque o primeiro custo fixo é o pagamento aos trabalhadores.
Ainda assim, 98% dos hotéis inquiridos defende que são precisas mais medidas de apoio. E entre as quatro principais estão o lay-off continuado, medidas de apoio fiscal, apoio para aquisição de equipamentos de proteção e o financiamento a fundo perdido.
(Notícia atualizada às 12h39 com mais informação)
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