Banca põe à venda carteira de 4.400 casas no valor de 360 milhões
Uma carteira de mais de 4.400 casas foi colocada à venda por fundos detidos por vários bancos nacionais, entre eles o Novo Banco. Projeto Zip tem o valor de 360 milhões de euros.
Vários bancos nacionais, entre os quais o Novo Banco, colocaram recentemente no mercado uma carteira de mais de 4.400 casas, no valor de 360 milhões de euros, apurou o ECO junto de várias fontes do mercado.
Ao todo, são 4.435 frações de habitação para venda, a maioria delas já arrendadas e localizadas nos centros urbanos do Porto, Setúbal e Lisboa, que se encontram “parqueadas” em fundos de investimento imobiliário para arrendamento habitacional (FIIAH) geridos pela Norfin.
Estes fundos são detidos pelas principais instituições financeiras portuguesas, através de unidades de participação, nomeadamente pelo Novo Banco, a Caixa Geral de Depósitos (CGD), Montepio, BCP e Santander Totta, que há oito anos fizeram parte de um projeto do Governo de Passos Coelho designado “mercado social de arrendamento”, num esforço para tentar solucionar o problema da habitação no país num período de crise.
Para este efeito, os bancos foram colocando centenas de imóveis nos FIIAH (sob gestão da Norfin) para dinamizar o mercado de arrendamento, sendo que, em troca destes ativos imobiliários, receberam unidades de participação dos fundos.
Na altura, participaram no projeto o BES, o Banif, o Banco Popular, o Santander Totta, o Montepio, o Millennium BCP, bem como a CGD, associados ao Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social e ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU). O BES foi resolvido em 2014, dando lugar ao Novo Banco. Banif e Popular foram absorvidos pelo Santander Totta depois de medidas de resolução em 2015 e 2017, respetivamente.
Entretanto, já no final do ano passado, em assembleia de participantes, os bancos decidiram acabar com os dois FIIAH em questão: o fundo Solução Arrendamento e o fundo Arrendamento Mais. Terão de ser liquidados até final do ano, com a consequente “limpeza” dos imóveis, que terá de acontecer até final do próximo.
Ainda que nenhum banco seja maioritário nos fundos (ou seja, não tem capacidade de decidir sozinho), o Novo Banco, que tem estado debaixo dos holofotes por causa das suspeitas em torno de operações de alienação de imóveis, é quem detém as maiores participações nos dois fundos, de 38% e 29%, respetivamente, seguindo-se o Banco Montepio e a Caixa Geral de Depósitos (CGD).
O ECO contactou os bancos, mas não obteve uma resposta até à publicação do artigo.
Já depois da publicação do artigo, o banco público respondeu: “A Caixa não está a organizar (nem tem em agenda) nenhuma operação de venda de carteira de imóveis com estas características”.
Por outro lado, a entidade gestora dos fundos explicou que os imóveis da carteira à venda “constituem o património de Fundos de Investimento Imobiliário Fechados cuja duração termina em 31 de dezembro de 2020, tendo por essa razão de ser obrigatoriamente liquidados”.
“A alienação dos imóveis decorre do termo da duração dos Fundos sendo imposta pela regulamentação em vigor”, acrescentou a Norfin ao ECO.
“Projeto Zip” recebe propostas não vinculativas até setembro
Embora esta carteira só agora tenha chegado ao mercado, coincidindo com a polémica em torno do Novo Banco, o relatório e contas do ano passado do fundo Solução Arrendamento já perspetivava este desfecho: “As perspetivas para 2020 são de (…) desenvolver as ações necessárias por forma a assegurar a realização dos ativos de forma ordenada, no âmbito da liquidação do fundo“.
O teaser com as informações iniciais do designado “Projeto Zip” chegou ao mercado nos últimos dias. Estão a ser contactados diversos investidores internacionais, que são quem costuma adquirir conjuntos alargados de ativos imobiliários ou empréstimos problemáticos aos bancos portugueses, tal como tem acontecido nos últimos anos. As propostas não vinculativas terão de ser apresentadas até meados de setembro.
Ao que o ECO apurou, esta carteira é composta maioritariamente por frações localizadas na região do Porto (1.000 casas), Setúbal (870 casas) e Lisboa (740 casas). Nestas três regiões, o valor dos ativos supera os 200 milhões de euros, mais de metade da carteira.
De acordo com os relatórios dos dois fundos em questão, mais de 4.000 imóveis encontravam-se arrendados no final de 2019, sendo que os outros imóveis ou estavam por arrendar ou encontravam-se devolutos.
As listas de imóveis que vão ser vendidos poderá ser encontrada nos anexos dos relatórios e contas dos dois fundos, sendo possível conferir a avaliação atribuída a cada fração individualmente. As informações poderão ser consultadas aqui e aqui (links para documentos com o formato .pdf).
O produto da venda do Projeto Zip será depois distribuído pelos participantes dos fundos em função das suas participações.
(Notícia atualizada às 12h10 com reação da CGD)
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