Das associações no Parlamento aos comentadores da bola. As ligações entre política e futebol
António Costa causou polémica ao apoiar Luís Filipe Vieira como presidente do Benfica. Mas há mais exemplos de ligações entre a política e o futebol em Portugal. Recorde alguns deles.
O primeiro-ministro aceitou integrar a comissão de honra de recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica, uma decisão que mereceu condenação da oposição. António Costa assegura que a decisão foi tomada em nome pessoal, mas Rui Rio considera que uma coisa não pode ser dissociada da outra.
Em Portugal, fora das quatro linhas, são muitas as figuras políticas que estão ou estiveram envolvidas, de alguma forma, no desporto-rei. É o caso do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, que também faz parte da comissão de honra da referida candidatura.
Conheça aqui outras ligações.
Viagens pagas para ver o Euro
O caso “Galpgate” foi uma das maiores polémicas a envolver o primeiro governo de António Costa. Inclusivamente, foi o que motivou o Executivo a adotar um Código de Conduta que o primeiro-ministro poderá agora ter violado.
Em causa estiveram viagens a França pagas pela Galp a altas figuras políticas de Portugal, com o objetivo de assistirem a jogos da seleção nacional para o Euro 2016 (campeonato em que o país se sagrou campeão da Europa).
Os políticos então envolvidos foram Fernando Rocha Andrade, que era secretário de Estado dos Assuntos Fiscais; Jorge Oliveira, então secretário de Estado da Internacionalização, e João Vasconcelos, então secretário de Estado da Indústria, entretanto falecido. Os três acabaram exonerados de funções.
Este caso resultou mesmo numa investigação judicial e consequente acusação também a chefes de gabinete e assessores do Governo. Foram os casos de João Bezerra da Silva e Pedro Almeida Matias, ou Vítor Escária (que voltou recentemente ao Governo como chefe de gabinete do primeiro-ministro) e a mulher, Susana Escária.
Envolvidos no “Galpgate” estiveram ainda dois autarcas: Álvaro Beijinha, presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém (CDU); e Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara Municipal de Sines (PS).
Mesmo com as acusações do Ministério Público, o caso “Galpgate” acabou por não ir a julgamento com o pagamento de injunções ao Estado.
Deputados comentadores
Não é segredo para ninguém que, nos corredores da Assembleia da República, circulam também muitos adeptos de futebol.
Antes de ser rosto da extrema-direita em Portugal, André Ventura, deputado único do Chega, era comentador desportivo com afinidade ao Benfica na CMTV.
Telmo Correia, atual deputado do CDS-PP, é comentador desportivo e uma das vozes do programa “Grandes Adeptos” da Antena 1.
No mesmo painel de comentadores da estação pública há outra figura política: Nuno Encarnação. Foi deputado do PSD entre 2009 e 2015 e também comenta bola na CMTV, assinando ainda uma coluna semanal no Record.
Nuno Magalhães já não é presença assídua no Parlamento, tendo deixado o cargo de deputado no fim da anterior legislatura. Mas quem quiser ver o antigo líder da bancada parlamentar do CDS poderá fazê-lo na Sport TV, onde frequentemente comenta futebol.
É também o caso de Hélder Amaral, também ex-deputado do CDS, conhecido sportinguista e comentador de futebol na CMTV.
Parlamentares adeptos
Alargando o espetro de análise, é ainda possível encontrar outros parlamentares confessos adeptos de futebol.
Para eles, em 2016, foi fundada a Associação de Benfiquistas no Parlamento, na altura com cerca de 40 membros, dedicada a funcionários e deputados da Assembleia da República que sejam apaixonados pelo Benfica.
Envolvido na associação esteve, desde logo, o advogado, social-democrata e comentador desportivo Rui Gomes da Silva, antigo ministro do curto Governo de Pedro Santana Lopes, aliás, ele próprio, muito antes, presidente do Sporting, entre 1995 e 1996.
Um ano antes da fundação da associação benfiquista no Parlamento, nascia também o Núcleo Sportinguista da Assembleia da República. Um núcleo “com o objetivo” de “promover os ideais do clube no Parlamento”, que se assume “original” por “ter sido o primeiro a ser fundado no Parlamento em termos internacionais”.
“Sabemos distinguir a atividade de um órgão de soberania da natural paixão pelo Sporting”, lê-se numa nota informativa no site do clube acerca do núcleo presidido por José Manuel Araújo, diretor de informação e cultura da Assembleia da República.
Outras ligações da política à bola
- Cláudia Santos, deputada do PS, causou polémica recentemente por ter sido escolhida para liderar o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol com o de membro da Assembleia da República.
- Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, integrou a mais recente lista de candidatura de Pinto da Costa à presidência do FC Porto e encabeça o Conselho Superior do clube.
- Fernando Gomes, antigo secretário de Estado de Mário Soares e antigo ministro de António Guterres, é atualmente vice-presidente do FC Porto com o pelouro financeiro.
- Jaime Marta Soares foi outrora deputado do PSD, mas é também conhecido por liderar a assembleia-geral do Sporting.
- Luís Filipe Menezes foi comentador desportivo do Sporting até há bem pouco tempo, mas fez carreira na política, como presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, presidente do PSD e candidato à presidência da Câmara do Porto em 2013.
- Valentim Loureiro, social-democrata e antigo presidente da Câmara de Gondomar, foi também o primeiro presidente da direção da Liga de Futebol Profissional e vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, e liderou o Boavista entre 1978 e 1997.
Estes são apenas alguns exemplos de ligações entre a política e o futebol, uns muito mais antigos, outros bem mais recentes, outros de pessoas que transitaram de um lado para o outro, e vice-versa. Alguns destes nomes protagonizaram essas ligações em simultâneo, vários marcaram ambas as áreas em períodos completamente distintos.
Importa ainda destacar que nada impede que um político se envolva na bola. Mas naturalmente que alguns casos, pela sua natureza e características, continuarão a fragmentar a sociedade e a causar polémica no país.
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