EUA: Água é a questão política central no distrito de Devin Nunes

  • Lusa
  • 24 Outubro 2020

O Estado sofreu uma das secas mais severas da sua história até 2017 e há uma batalha entre as regiões costeiras e as regiões interiores.

Longe dos corredores políticos de Washington, D.C. e do capitólio da Califórnia, em Sacramento, a questão que domina o cenário político no distrito representado no Congresso pelo luso-americano Devin Nunes é a água.

Este é um vale de agricultura, e sem água não se pode cultivar. No passado, as pessoas cavavam um poço mais fundo“, disse à Lusa Dennis Mederos, o lusodescendente de terceira geração que subiu a vice-‘mayor’ da cidade de Tulare. Isso agora “já não funciona”, explicou.

A grande comunidade luso-americana que se encontra no vale central da Califórnia dedica-se principalmente às atividades agrícolas, e é por isso que as políticas relacionadas com a água são tão influentes no cenário político. Estima-se que metade dos 1.200 produtores de leite do estado sejam de origem portuguesa.

O Estado sofreu uma das secas mais severas da sua história até 2017 e há uma batalha entre as regiões costeiras e as regiões interiores, como o vale em que Tulare se encontra, sobre como o abastecimento de água deve ser dividido. “Se nada for feito, vamos chegar a uma situação no vale de São Joaquim em que não há mais água e voltaremos a ser um deserto. Não poderemos sobreviver“, afirmou Mederos.

Em 2014, o Estado aprovou legislação para estabilizar os lençóis freáticos, que descem há décadas. No entanto, o governador democrata Gavin Newsom vetou em 2020 um projeto bipartidário para reparar o canal Friant-Kern, que beneficiaria o vale central, decisão que o tornou ainda menos popular na comunidade.

Digam não ao socialismo, ouçam o Devin Nunes“, lê-se em estandartes gigantes. É impossível circular por Tulare sem ver sinais e bandeiras de apoio ao republicano que liderou o comité de inteligência da Câmara dos Representantes até 2017. Desde 2003 que o lusodescendente representa o 22.º distrito da Califórnia, que inclui porções do condado de Tulare e Fresno, e é um de apenas oito congressistas republicanos no Estado. Os democratas controlam os outros 45 assentos na Câmara dos Representantes, o que torna este distrito numa raridade.

“Somos uma comunidade conservadora”, descreveu Dennis Mederos. “O distrito do Devin tem um número muito grande de republicanos registados”, salientou. Tom Barcellos é um deles. O dono da Barcellos Farms, uma operação agrícola que inclui produção de leite, cultivo e serviços agrários, é um fervoroso apoiante de Devin Nunes, David Valadão – o ex-congressista que está a tentar recuperar o seu lugar – e Donald Trump.

“A nossa maior preocupação é a água”, disse Barcellos à Lusa. “Estou envolvido na política da água há muitos anos. O Presidente Trump fez muito por nós no vale, no que toca a tentar arranjar-nos programas e água”, afirmou. “O problema que temos é o facto de que a legislatura estadual não coopera e na verdade faz tudo o que pode para resistir, incluindo o governador, tudo o que o governo federal está a fazer”, disse. Segundo Barcellos, os ambientalistas representam grandes obstáculos, porque “têm tanto poder e atiram tanto dinheiro” para cima da política.

“Se não fosse pelo Devin Nunes, Kevin McCarthy [23.º distrito], francamente, a nossa liderança republicana a trabalhar com o Presidente, não estaríamos onde estamos hoje”, considerou. “Com a mudança de liderança na EPA [Agência de Proteção Ambiental] ao nível federal, houve discussões de senso comum”, acrescentou. O governo democrata da Califórnia é visto como um bloqueador de medidas que permitiriam começar a resolver o problema.

Rosie Nunes, que deixou a produção de leite para se dedicar só ao cultivo de produtos como milho e cevada, tem uma visão semelhante. “Não sei onde estaríamos sem o Devin”, disse. “Ele tem sido o maior defensor dos agricultores”. No geral, “esta é uma boa fonte de angariação de fundos para a campanha Trump-Pence”, explicou Dennis Mederos.

“O apoio ao Presidente é mais vocal no condado de Tulare porque a maioria dos agricultores tende a apoiar os candidatos republicanos”, afirmou. “O que é interessante, porque historicamente a minha perceção é que as coisas lhes correm melhor sob administrações democratas que republicanas”, considerou.

Mederos sublinhou que “os agricultores foram prejudicados pelas tarifas e há muitos produtores de nozes, amêndoas e pistácios que não estão a conseguir exportar para a China, Índia e isso criou uma situação que afetou os preços”.

“A pandemia piorou a situação, porque muitos destes produtos estão na doca ou não conseguem transportá-los para onde é preciso. O conflito entre os governos dos Estados Unidos e da China criou uma situação que não ajudou as importações e exportações”, lamentou.

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