Das empresas mortas pela vacina ao “dividendo” das big tech. Dez previsões (improváveis) do Saxo Bank para 2021

"Os traumas de 2020 significam que, em 2021, o futuro é agora", diz o chief investment officer do Saxo Bank, Steen Jakobsen. Pandemia acelera super-trends sociais e tecnológicos e aumentou incerteza.

Se 2020 está a ser o ano pelo qual ninguém esperava, 2021 ainda poderá trazer surpresas. O final do ano é altura de se fecharem contas e fazer projeções para os meses que se seguem. Entre as projeções, há já uma tradição anual: os cisnes negros do Saxo Bank. O banco de investimento dinamarquês divulgou esta terça-feira as suas previsões improváveis para 2021 e, sem surpresas, os próximos capítulos da pandemia são um tema inevitável dominante. Já os bancos centrais caem para segundo plano.

“Para o conjunto de previsões improváveis para 2021, a pandemia e Covid-19 e o doloroso ciclo eleitoral nos EUA trouxeram, o que parecia um futuro distante, para um salto quântico mais perto, acelerando quase todas as super-trends sociais e tecnológicos. Simplificando, os traumas de 2020 significam que, em 2021, o futuro é agora“, explica o chief investment officer do Saxo Bank, Steen Jakobsen, em comunicado.

Mudanças estruturais no mercado de trabalho estão no topo da lista de tendências influenciadas pela Covid-19. O banco de investimento destaca igualmente o impacto de um rendimento básico universal na forma de viver e na redistribuição da riqueza sem limitar os recursos disponíveis. Aliás, outro tema é exatamente a disponibilidade de energia para todos, nomeadamente com capacidade para suportar sistemas exigentes como inteligência artificial avançada ou computação quântica.

Jakobsen lembra que, este ano, verificou-se o bear market mais rápido de sempre e o aumento, sem precedentes, tanto dos balanços dos bancos centrais como dos défices públicos. Assim, as projeções são uma espécie de banho de realidade face à ideia de que é possível esticar de forma indefinida, “apesar de os mercados estarem a incluir essa expectativa”.

Este não é o outlook oficial do banco para o próximo ano, mas sim uma espécie de aviso (exagerado) para potenciais riscos para os investidores caso algum dos eventos se materialize. Num cenário fortemente influenciado pela pandemia, estas são as dez previsões improváveis desenhadas pelo Saxo Bank para 2021:

1. Amazon “compra” Chipre

Ao contrário da maioria das empresas, as gigantes tecnológicas têm sido beneficiadas pela pandemia. Mas a Covid-19 pôs também em destaque a importância (e os riscos) deste setor, com governos a apertarem o cerco em termos de supervisão e impostos. Em 2021, o aumento das tensões levaria Amazon a mudar a sede para Chipre, que acolhe a empresa cujos impostos acabam por ajudar a diminuir a dívida de quase 100% do PIB. Os consultores da Amazon ajudam Chipre a reescrever o código fiscal (tendo o irlandês como modelo), mas a oposição da União Europeia (apoiada pelos EUA) acaba por impedir os planos.

2. Alemanha resgata França

A pandemia faz agravar as dívidas públicas dos países da Zona Euro e França torna-se um dos países em maior risco. A dívida francesa ultrapassa 140% do PIB com o reforço do financiamento para travar o impacto da pandemia, mas mesmo assim não consegue impedir a onda de falências. A bolsa afunda com a perda de confiança dos investidores e gera-se um sell-off nas ações dos bancos que atira o valor dos bancos para mínimos históricos. Sem alternativa, França “implora” à Alemanha ajuda para influenciar o Banco Central Europeu (BCE) a imprimir mais dinheiro e resgatar o sistema financeiro de um colapso.

3. Tecnologia blockchain acaba com fake news

A ameaça de desinformação e a erosão da confiança nas notícias atinge, em 2021, níveis sem precedentes. As empresas de media e as plataformas de redes sociais veem-se obrigadas a impor medidas de combate às fake news, permitindo que os conteúdos passem a ser distribuídos através da tecnologia blockchain. A validação é feita ao conteúdo e à fonte e esta tecnologia (que é a base das criptomoedas) revoluciona a indústria. Empresas como Twitter ou Facebook investem fortemente no blockchain, os sites de desinformação morrem e a realidade vence.

4. Moeda digital da China inspira mudanças nos fluxos de capital

A Digital Currency Electronic Payment (DCEP) torna-se a versão digital do yuan, alojada em blockchain, num passo em frente no processo de digitalização da economia chinesa. O banco central da China quer aumentar assim a eficácia da política monetária e orçamental, bem como dar total acesso da negociação da moeda a investidores estrangeiros. Colocando-se numa posição de rivalidade com o dólar enquanto moeda de reserva, o sucesso da moeda digital acaba impulsionar o consumo, financiar um novo sistema de pensões e aprofundar o mercado de capitais.

5. Revolução catapulta humanidade para abundância energética

O mundo vai precisar de muito mais energia para a economia continuar a crescer aos ritmos pré-pandemia e as energias renováveis não têm ainda capacidade de resposta, colocando o foco na necessidade de novas tecnologias. Em 2021, um algoritmo avançado de inteligência artificial resolve o problema de complexidades não lineares da física do plasma, abrindo a porta à comercialização da energia de fusão. Acaba a escassez de água ou alimentos no mundo e todos os países ficam independentes na produção.

6. Rendimento básico universal dizima grandes cidades

A pandemia de Covid-19 acelerou a desigualdade social, tornando-se mais difícil sustentar uma família com um ordenado. Governantes chegam à conclusão que as medidas implementadas não foram uma resposta ao pânico, mas sim o início de uma nova realidade: a do rendimento básico universal. Reduzem-se as redundâncias no mercado de trabalho e o remoto é o novo normal, levando à sobrecapacidade do imobiliário nas cidades (acompanhado de um crash no valor dos escritórios). Mais jovens podem ficar nas localidades onde cresceram, alterando a atitude face ao trabalho e ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Trabalhadores de outras idades começam também a abandonar as grandes cidades à medida que os cargos diminuem e que a vida em pequenos apartamentos citadinos parece menos atrativa.

7. Citizens Technology Fund é criado para pagar dividendo da distorção

A procura por um caminho que trave o aprofundamento da injustiça social e risco sistémico das gigantes tecnológicas resulta, em 2021, numa nova abordagem e ajustamento fiscal. É criado o Citizens Technology Fund para permitir a transferência de ativos para os cidadãos. Trabalhadores deslocados receberiam uma proporção adicional para trabalhadores mais afetados, permitindo-lhes participar nos ganhos de produtividade da era digital. A política fica conhecida como “dividendo da distorção” e acaba por libertar energia empresarial a nível individual e comunitários com mais pessoas a terem mais tempo e menos stress.

8. Uma vacina bem-sucedida da Covid-19 mata empresas

A pandemia acelerou os estímulos monetários e orçamentais. A provisão de liquidez e alívio nas condições de financiamento a todo o custo a levarem dívidas públicas e privadas de todo o mundo para recordes e as yields para mínimos históricos. Os investidores são forçados a procurar retornos em ativos mais arriscados e a perspetiva da vacina impulsiona o sentimento face à recuperação da economia. Mas acaba por se perceber que a economia foi sobreexcitada e fica sobreaquecida. Inflação acelera para 4% a 5% e o desemprego cai, levando os salários a subirem entre 6% e 8%. A Reserva Federal norte-americana (Fed) acaba por subir juros, mas as falências de empresas disparam como nunca pondo a nu as fragilidades da economia.

9. Sol brilha sobre a prata graças à procura por painéis solares

A quebra no dólar e os baixos retornos dos ativos fazem brilhar a prata em 2021, numa tendência exacerbada pela inflação. O excesso de liquidez é canalizado para o metal precioso, que se aproxima do ouro e atinge o máximo de sempre de 50 dólares por onça. Mas o fator determinante acaba por ser a procura por prata para uso industrial, em especial para painéis solares. O disparo na procura é acompanhado por desafios no lado da oferta já que mais de metade da extração resulta do subproduto da mineração de zinco, chumbo e cobre, tornando-se difícil aos mineiros responderem ao aumento da procura.

10. Tecnologia de próxima geração sobrecarrega mercados emergentes

Economistas chegam, em 2021, à conclusão que as taxas de crescimento em muitos mercados emergentes foram “terrivelmente subestimadas” nos últimos anos. Tecnologias-chave aceleram o crescimento da produtividade dos privados além de qualquer mercado desenvolvido. Satélites, fintech e drones são alguns exemplos de segmentos em que os mercados emergentes tomam a liderança. As moedas locais acabam por ser beneficiadas pelo crescimento.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Das empresas mortas pela vacina ao “dividendo” das big tech. Dez previsões (improváveis) do Saxo Bank para 2021

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião