5 negócios que marcaram o ano em Portugal e lá fora

Da saída da Prisa da Media Capital à venda da Brisa, da venda das torres da Nos ao reforço do Estado na TAP. Recorde alguns dos negócios que marcaram o ano em Portugal, mas também lá fora.

O ano foi atípico por causa da pandemia, mas também pródigo em negócios mediáticos. Em Portugal, as atenções centraram-se desde logo na venda da dona da TVI, grupo do qual a Prisa tentou sair várias vezes, sem sucesso até agora. Mas a TAP mereceu um destaque ainda maior, não só por envolver o Estado, mas por causa dos números da reestruturação conhecidos recentemente.

Lá fora, alguns dos grandes negócios surgiram já perto do final do ano, depois de ultrapassado o contexto de maior incerteza provocado pela pandemia da Covid-19. Com 2020 prestes a chegar ao fim, recorde os contornos de cinco negócios que marcaram o ano em Portugal, mais outros cinco que estiveram em destaque a nível internacional.

Mello vende Brisa a um consórcio estrangeiro

Há algum tempo que se falava do negócio, mas foi este ano que o Grupo José de Mello e a Arcus fecharam a venda da maioria do capital da Brisa a investidores institucionais estrangeiros.

A 28 de abril, o mercado ficou a saber que 81,1% do capital da principal concessionária de autoestradas portuguesa passou a ser detido por um consórcio composto pela APG (gestora de ativos da ABP, um fundo de pensões dos Países Baixos), NPS (serviço nacional de pensões da República da Coreia) e SLAM (gestora de ativos da seguradora Swiss Life).

Na altura não foi revelado o montante envolvido na operação. Mas o ECO noticiou que a venda avaliou a Brisa num montante superior a 3 mil milhões de euros, o que pressupõe uma transação por valores a rondar os 2,5 mil milhões, um valor revisto em baixa face às propostas não vinculativas que foram submetidas, encarando a mudança de conjuntura trazida pela Covid-19.

O Grupo José de Mello permaneceu como acionista de referência, com 17% do capital e “participação ativa na gestão” da companhia. O negócio foi assessorado pelos bancos Rothschild e Caixa BI (José de Mello) e Morgan Stanley e Millennium BCP Investment Banking (Arcus).

Cellnex compra torres da Meo e da Nos

Dois negócios da Cellnex marcaram o ano de 2020 no setor das telecomunicações. Em janeiro, a empresa adquiriu 100% do capital da OMTEL por um total de 800 milhões de euros à Altice Portugal e ao consórcio formado pela Morgan Stanley e por uma empresa de Pires de Lima e Sérgio Monteiro.

Em abril, a Cellnex voltou à carga e adquiriu a Nos Towering, subsidiária da Nos que geria as torres de telecomunicações da empresa. Pagou 375 milhões de euros à operadora portuguesa para ficar com estes ativos — cerca de 2.000 torres, 40% em áreas urbanas e 60% em áreas suburbanas e rurais — e anunciou um investimento de expansão de cerca de 175 milhões de euros.

Chineses compram a Mota-Engil

O negócio foi anunciado no final de agosto e concluído no final de novembro: a gigante estatal chinesa da construção CCCC chegou a um acordo com a Mota Gestão e Participações para a compra de 23% do capital da portuguesa Mota-Engil.

Pela participação, composta por cerca de 55 milhões de ações, a CCCC aceitou pagar 169,4 milhões de euros, avaliando assim a Mota-Engil em cerca de 740 milhões de euros.

Além disso, nos termos acordados, a CCCC não será obrigada a lançar uma Oferta Pública de Aquisição sobre a empresa. A Mota-Engil vai realizar um aumento de capital por via da emissão de 100 milhões de novas ações, a ser subscrito na íntegra pelo grupo chinês.

Após o aumento, a Mota Gestora e Participações ficará com cerca de 40% do capital da Mota-Engil, enquanto a CCCC controlará uma participação ligeiramente superior a 30%.

Segundo anunciaram as empresas, o acordo e parceria estratégica entre a Mota e a CCCC permitirá “um reforço das capacidades financeiras, técnicas e comerciais do grupo Mota-Engil, a fim de aumentar as suas atividades em todos os mercados e abrir novas oportunidades para novos desenvolvimentos”.

Governo reforça na TAP e Neeleman sai de cena

A situação da TAP já não era a melhor e foi severamente agravada pela pandemia. Com os países a fecharem fronteiras para evitar a transmissão do novo coronavírus, a companhia aérea portuguesa viu-se obrigada a parar uma parte significativa da operação e a mandar os trabalhadores para casa ao abrigo do regime de lay-off.

Depois de ameaças de nacionalização do Governo ao consórcio privado da Atlantic Gateway, o Governo acabou por anunciar a 2 de julho a solução encontrada para a TAP: o reforço do Estado no capital da TAP, aumentando a sua posição, de 50% para 72,5%, e levando à saída de David Neeleman.

Para a concretização do negócio, o português Humberto Pedrosa, que participava também no referido consórcio, passou a deter diretamente 22,5% da companhia aérea. Os trabalhadores mantiveram os atuais 5% que já detinham.

Numa conferência de imprensa ao final desse dia, o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, anunciou também a decisão de substituir o então CEO, Antonoaldo Neves, por um novo gestor a ser escolhido a nível internacional. A cadeira, até agora, tem sido ocupada por Ramiro Sequeira.

Já em dezembro, com palavra reforçada sobre a TAP, o Governo acabou por participar no desenho do plano de reestruturação da companhia aérea, entregue à Comissão Europeia depois de o Estado injetar 1.200 milhões de euros para salvar a empresa.

O plano prevê a saída de até 2.000 trabalhadores (sem contar com os contratos que, entretanto, não têm sido renovados), cortes progressivos de até 25% nos salários, entre outras medidas de controlo das despesas e redução do perímetro do grupo.

Media Capital troca (finalmente) de mãos

Não foi um parto fácil. Há vários anos que a Prisa tentava vender a Media Capital, do qual é exemplo, mais recentemente, a venda falhada à Altice Portugal, entre 2017 e 2018.

No início deste ano, tudo parecia encaminhado para um apertar de mãos entre a Prisa e a Cofina, o grupo que detém o Correio da Manhã. Mas, em março, o mercado foi surpreendido com a notícia de que o negócio, afinal, não iria adiante: a Cofina argumentou não ter conseguido completar o aumento de capital e a operação caiu por terra.

A 14 de maio, o empresário Mário Ferreira (acionista do ECO), até então parceiro da Cofina na tentativa falhada de compra da Media Capital, decidiu seguir a solo e adquiriu à Prisa 30,22% do grupo que detém a TVI, por 10,5 milhões de euros, montante que avaliava então o grupo em 130 milhões de euros. Era o início da saída efetiva da Prisa da estrutura acionista.

Em novembro deste ano, depois de assinar acordos com vários investidores portugueses, a Prisa conseguiu, por fim, alienar a totalidade das ações da Media Capital. A empresa passou a ter uma estrutura acionista bastante diversificada, destacando-se os 23% detidos por uma holding controlada por Paulo Gaspar (Grupo Lusiaves), entre outros.

Sobre a Media Capital, contudo, permanecem em aberto a Oferta Pública de Aquisição (OPA) revista da Cofina, depois de a CMVM ter recusado pôr fim a uma parte da operação que estava em curso, e que pode ir até 100% do capital mediante algumas condições; e uma nova OPA de Mário Ferreira, depois de a CMVM ter concluído que houve concertação entre a holding do empresário e a Prisa.

Os negócios que marcaram 2020 lá fora

Vários outros negócios a nível internacional também marcaram o ano de 2020. Estes foram alguns dos principais:

  • S&P Global compra IHS Markit por 44 mil milhões de dólares (30 de novembro);
  • NVidia compra ARM por 40 mil milhões de dólares (13 de setembro);
  • Salesforce compra Slack por 27 mil milhões de dólares (1 de dezembro);
  • AstraZeneca compra Alexion Pharmaceuticals por 39 mil milhões de dólares (12 de dezembro);
  • Liberty Global funde-se com a Telefónica num negócio avaliado em 38 mil milhões de dólares (7 de maio).

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