Stilwell quer apanhar “nova onda verde” de renováveis nos EUA com Biden na Casa Branca

A ambição reforçada de Biden para as renováveis nos EUA representa para a EDP uma grande oportunidade. A empresa vai incluir objetivo reforçados para o país no seu novo plano estratégico até 2025.

Na véspera de Joe Biden tomar posse como como o 46º presidente dos Estados Unidos, esta quarta-feira, em Washington, Miguel Stilwell d’Andrade foi confirmado como o novo CEO da EDP em Portugal. Apesar de distantes geograficamente, os dois eventos estão completamente relacionados entre si, garante o sucessor de António Mexia.

“Depois de Trump, obviamente que Joe Biden tem uma ambição reforçada para a área das renováveis. Isso para a EDP representa uma oportunidade grande e estamos a estudar o tema para que possamos ter já no plano estratégico até 2025, que vamos apresentar no primeiro trimestre de 2021, novos objetivos relativamente ao crescimento nos Estados Unidos”, disse Stilwell, sublinhando: Seguramente que é positivo poder beneficiar desta nova onda verde nos Estados Unidos”.

Neste mercado, a elétrica dá conta na apresentação de resultados dos primeiros nove meses de 2020 da extensão de benefícios fiscais (Production Tax Credit – PTC) assegurada em 100% para os projetos a desenvolver entre 2021 e 2022, e de 60% no período de 2023 e 2024. Em discussão estão “propostas ambiciosas de políticas para renováveis” no país, com a EDP a garantir a construção de 39% dos projetos com contratos de longa duração naquela geografia.

“Nós vemos um potencial enorme nos Estados Unidos, mas já o vemos há muito tempo, desde 2013. Foi uma grande aposta que a EDP fez na altura e temos vindo sempre a crescer. Mesmo durante a Administração Trump, a verdade é que foi possível continuar a crescer. Parte do plano estratégico da empresa de 2019 até 2022 passava pelo crescimento nos EUA“, frisou Stilwell.

Dos quase 11GW de capacidade instalada eólica e solar que a EDP tinha em setembro de 2020, 5,9GW dizem respeito aos Estados unidos, estando em construção mais 1,9GW, dos quais praticamente metade (1GW) no país que abandona agora quatro anos de governação Trump e que dentro de um mês já deve estar de volta ao Acordo de Paris.

Depois de Trump, obviamente que Joe Biden tem uma ambição reforçada para a área das renováveis. Isso para a EDP representa uma oportunidade grande e estamos a estudar o tema para que possamos ter já no plano estratégico até 2025.

Miguel Stilwell d’Andrade

CEO da EDP e EDP Renováveis

“Nos últimos 12 meses, comissionámos 875 MW de capacidade eólica e solar. A maior parte da capacidade comissionada encontra-se nos EUA (82%)“, refere a apresentação de resultados mais recente da empresa. Quanto a investimentos, entre janeiro e setembro do ano passado, a EDP alocou à atividades de expansão na América do Norte 789 milhões de euros, mais 116% do que no período homólogo, quando não foi além dos 366 milhões.

Mais recentemente, a EDP Renováveis anunciou que, através da sua subsidiária EDP Renewables North America, estabeleceu um acordo para a aquisição de uma participação maioritária na plataforma de produção solar distribuída C2 Omega, detida pela C2 Energy Capital. A empresa irá adquirir uma participação de 85% num portefólio de geração solar distribuída que inclui 89 MW de capacidade em operação e em iminente conclusão e cerca de 120 MW em desenvolvimento, distribuídos por cerca de 200 projetos, em 16 Estados norte-americanos.

O investimento da EDP Renováveis corresponde a um valor empresarial de cerca de 119 milhões de dólares (quase 100 milhões de euros) e esta transação irá permitir a entrada num segmento em rápida expansão a nível mundial.

O que a EDP pode esperar de Joe Biden nas renováveis

Em cima da mesa, Joe Biden tem já o seu “Plano para a Mudança Climática e Justiça Ambiental”, no valor de 1,5 mil milhões de euros, que tem como principal meta seguir as pisadas de Bruxelas e levar os Estados Unidos a alcançarem a neutralidade carbónica até 2050. John Kerry representou os EUA na assinatura do Tratado de Paris, há cinco anos, e agora é o homem que Biden foi buscar para o pôr o plano em marcha. Mas para isso acontecer, os incentivos ao petróleo e ao gás que regressaram em força com Trump terão de ser substituídos por uma enorme ofensiva nas energias renováveis.

Aumentar a percentagem de energias renováveis nos EUA para 55% até 2025, para 75% até 2030 e para 100% até 2035 são objetivos prioritários para Biden.

De acordo com a Bloomberg, a agenda de Biden para a transição energética e a energia mais limpa é a mais ambiciosas de sempre, por comparação com qualquer outro candidato presidencial americano e poderia contribuir para uma redução significativa das emissões a nível global.

Há cinco anos, quando o presidente Barack Obama assinou o Acordo de Paris, os EUA comprometeram-se a reduzir as emissões de gases com efeito estufa em 26% a 28% face a 2005, até 2025. Até agora, o país já conseguiu uma redução de 15% das emissões, muito motivada pelas políticas dos governos estaduais e pelo setor privado, que assumiu medidas para reduzir voluntariamente suas próprias emissões.

Os Estados Unidos são o segundo maior emissor de gases com efeito estufa do mundo, a seguir à China. Se regressarem ao Acordo de Paris já a 19 de fevereiro, um mês depois de Biden tomar posse, 63% das emissões poluentes do mundo estarão cobertas por promessas governamentais dos maiores poluidores mundiais para as reduzir, face aos atuais 51%, de acordo com o Climate Action Tracker, citado pela Bloomberg Green.

“Com a eleição de Biden, China, Estados Unidos, União Europeia, Japão, Coreia do Sul — dois terços da economia mundial e mais de 50% das emissões globais de gases de efeito estufa — teriam [compromissos para levar a zero] as emissões de gases com efeito estufa até meados do século”, calcula Bill Hare, especialista do Climate Action Tracker, citado pela BBC.

Antes de chegar à neutralidade carbónica, a meio do século, Biden ambiciona tornar a produção de energia americana livre de carbono até 2035. O presidente eleito quer reduzir as emissões modificando quatro milhões de edifícios para torná-los mais eficientes em termos de energia, investir nos transportes públicos e no fabrico de veículos elétricos e pontos de carregamento, e ainda dar incentivos financeiros aos americanos para trocarem os seus carros por versões menos poluentes.

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