DBRS não mexe no rating, mas vai deixar alertas à escalada da dívida nacional

Agência de notação financeira canadiana deverá manter o rating, mas também a perspetiva, para a dívida nacional. Mas a subida do rácio dívida face ao PIB, que está nos 130%, merecerá alertas.

Quase meio ano depois da última avaliação, a DBRS volta a olhar para o rating da dívida portuguesa. Portugal é “BBB high” para a agência de notação financeira canadiana, categoria que deverá manter. E mesmo a perspetiva “estável” será conservada, dizem os especialistas ao ECO, mas haverá alertas para os efeitos da crise pandémica. A escalada da dívida não passará despercebida.

Há muito tempo que a DBRS mantém uma visão positiva sobre a qualidade da dívida portuguesa, tendo sido responsável pela elegibilidade destes títulos para as compras do Banco Central Europeu (BCE) no período pós-troika. E continua a ser a agência que atribui à dívida nacional o rating mais elevado entre as várias que avaliam os títulos portugueses.

A subida do endividamento, bem como o agravamento das condições económicas, já estavam previstas na última análise feita por esta agência de rating, mas este novo confinamento veio agravar ainda mais, uma situação já de si complicada.

Filipe Silva

Diretor de investimentos do Banco Carregosa

Mesmo com uma crise pandémica que atirou a economia portuguesa para uma forte recessão, a DBRS manteve a notação do país na avaliação feita em setembro. E deverá fazer o mesmo agora. “Não esperamos que faça qualquer tipo de alteração ao rating, diz Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa. “Deverá manter o rating e perspetiva inalteradas”, remata Filipe Garcia, da IMF.

No entanto, haverá alertas. “É possível que a DBRS coloque ressalvas sobre as perspetivas económicas nacionais“, diz o especialista do Banco Carregosa. “A subida do endividamento, bem como o agravamento das condições económicas, já estavam previstas na última análise feita por esta agência de rating“, mas este “novo confinamento veio agravar ainda mais, uma situação já de si complicada”, acrescenta.

“Poderá haver comentários de cautela relativamente à subida do rácio dívida/PIB”, que está nos 130%, mas também “à eventual continuidade da subida dos juros em mercado secundário”, acrescenta Filipe Garcia. Depois de fechar ano abaixo de zero, em “terreno” negativo, a yield das Obrigações do Tesouro têm vindo a subir, estando nos 0,391% no prazo a 10 anos. É um movimento que é, contudo, comum aos restantes países do euro, sendo especialmente visível nas taxas dos EUA, perante receios dos investidores quanto ao regresso da inflação e o que isso quererá dizer em termos dos estímulos atualmente em vigor por causa da Covid-19.

Estes alertas serão, contudo, “compensados” com “a relativa contenção financeira dos gastos públicos, a almofada financeira que o Tesouro tem criado, para o alisamento do perfil da dívida e para as indicações de política monetária que o BCE tem vindo a dar”, nota Filipe Garcia. E, diz Filipe Silva, além do facto de Portugal, também pela possibilidade de “se a retoma económica passar pelos setores que foram mais afetados, até podermos ter surpresas” positivas no PIB.

BCE é chave para o rating

O rácio da dívida portuguesa em função da riqueza gerada anualmente tem vindo a aumentar, agravando-se em resultado das medidas adotadas pelo Governo em resposta à crise provocada pelo novo coronavírus.

Este rácio “está sempre em foco para as agências de rating, no entanto é importante perceber as razões que estão a levar ao aumento do mesmo”, nota Filipe Silva. Neste caso, a culpa é da crise, devendo este rácio começar a encolher uma vez que a pandemia permita a que a economia volte a crescer, a um ritmo forte, espera-se.

É neste contexto que a DBRS deverá avaliar o rating nacional, mas também no de que a autoridade monetária da Zona Euro, o BCE, está a dizer “presente”, mais uma vez, na resposta à crise. Christine Lagarde tem uma “bazuca” em mãos, estando a comprar dívida dos vários países do euro, numa tentativa de travar o agravamento dos custos de financiamento.

“O BCE irá continuar a apoiar os países e as suas respetivas dívidas. O movimento das taxas nacionais têm acompanhado o movimento de toda a dívida soberana europeia, e para já faz todo o sentido que este movimento assim se mantenha, pelo que se tivermos um aumento das taxas ele será generalizado e não só nacional”, nota Filipe Silva. No entanto, diz Filipe Garcia, “se as taxas de secundário começarem a subir de forma consistente, os temas rácio de dívida e rating serão novamente temas de conversa”.

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