“Boa parte das perdas” do Novo Banco podiam ter sido evitadas

Costa Pinto criticou venda do Novo Banco à Lone Star. Explicou que as vendas apressadas de ativos a fundos que querem ganhar 15% por ano deram "perdas substanciais" que podiam ter sido evitadas.

João Costa Pinto não tem dúvidas de que “boa parte das perdas” relacionadas com o caso BES/Novo Banco “poderiam ter sido evitadas”. Ouvido na comissão de inquérito ao Novo Banco, o economista deixou duras críticas à forma como foi feita a venda da instituição em 2017 e à própria gestão do banco. “Vender créditos em pacote, em que se misturam alhos com bugalhos, é receita para o desastre”.

“Se vamos discutir as perdas e os prejuízos que têm vindo a ser assumidos por dinheiros públicos na sequência do colapso do grupo BES, temos de avaliar o que ocorreu no Novo Banco depois da resolução”, disse o economista. E atirou de seguida: “Estou convencido que boa parte das perdas poderiam ter sido evitadas”.

O economista deixou várias críticas sobretudo ao processo de venda ao fundo Lone Star, em outubro de 2017. Desde logo a “excecional” dimensão do mecanismo de capital contingente no valor de 3,9 mil milhões de euros e que permitiu uma limpeza acelerada do balanço do banco que só teria como resultado “perdas substanciais”, disse Costa Pinto. Até hoje, o Novo Banco já pediu 3.000 milhões de euros ao Fundo de Resolução no âmbito do acordo de capital contingente que, segundo Costa Pinto, visou “proteger os interesses” do acionista americano.

No seguimento da sua intervenção, o ex-vice-governador do Banco de Portugal atacou as vendas de ativos tóxicos que a gestão de António Ramalho tem executado nos últimos anos e que, de resto, estão na base dos prejuízos volumosos do Novo Banco e das injeções do Fundo de Resolução.

Quando se avança para um fire sale, vendas apressadas, tudo muda. As perdas de valor são imediatas. (…) Quando se decide agregar em pacote créditos em que se misturam alhos e bugalhos, coisas boas e más, é receita para o desastre. Quando se recorre a fundos que querem ganhar por ano 15 a 20%, o que implica desvalorizações dos ativos que não podem ser inferiores a 50%… Quando tudo isso acontece não podia haver senão perdas substanciais“, disse João Costa Pinto.

O economista defendeu que não se devia ter misturado créditos garantidos pelo Fundo de Resolução com créditos não garantidos.

Mais tarde, questionado sobre a razão pela qual o Novo Banco ficou a gerir estes ativos tóxicos que estavam dentro do perímetro do acordo, Costa Pinto destacou que havia a alternativa de colocar um fundo especializado a fazer essa gestão.

“Porque é que não foi? Se esse fundo tivesse sido criado, se essa parte do balanço tivesse saído, teriam de entrar capitais no Novo Banco. Teriam de entrar fundos públicos para se fazer dessa maneira. Se os ativos seriam geridos com outro profissionalismo? Os ativos teriam sido geridos com tempo, o valor poderia ter sido extraído de outra maneira, as perdas teriam sido outras“, destacou o economista, dando os exemplos dos resgastes que aconteceram no Reino Unido: Lloyds e Royal Bank of Scotland.

Em entrevista ao ECO no ano passado, Costa Pinto já tinha abordado o tema. Defendeu a nacionalização do Novo Banco em vez da venda. E criticou o “mecanismo perverso” que foi criado com a venda do Novo Banco ao fundo americano Lone Star.

(Notícia atualizada às 15h14)

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