S&P deixa rating em standby, mesmo com menor otimismo sobre o PIB

Depois da DBRS, é a vez de a dívida pública portuguesa enfrentar o teste da Standard & Poor's. Apesar do agravamento da pandemia, agência deve manter rating inalterado.

É mais um teste à dívida portuguesa. Depois da DBRS, é a vez de a Standard & Poor’s rever a notação atribuída aos títulos nacionais, mas deverá manter tanto a perspetiva como o rating. No entanto, a pronunciar-se, não deixará de dar alguns alertas quanto aos impactos que a pandemia está a ter na economia, com consequente agravamento do rácio de endividamento. Uma revisão em baixa das projeções é vista como quase certa.

“A S&P deverá manter o rating e perspetiva inalterados“, diz Filipe Garcia. Ou seja, a notação da dívida pública portuguesa manter-se-á na categoria “BBB”, um rating que é considerado “investimento de qualidade”, ficando dois níveis acima do “lixo” financeiro. A perspetiva está “estável”, depois da revisão em baixa realizada pela agência a 24 de abril de 2020, devendo ficar igualmente inalterada.

Não haverá, por isso, motivos para sobressalto nos mercados, associados a qualquer alteração da visão da agência de notação financeira norte-americana. Mas haverá alertas da S&P, nomeadamente por causa dos impactos da pandemia na economia, situação que não afeta, contudo, apenas Portugal.

“É provável” que a S&P reveja em baixa as projeções para o crescimento da economia portuguesa, diz o economista-chefe da Informação de Mercados Financeiros (IMF) ao ECO. A agência apontava para uma quebra de 10% do PIB português em 2020, algo que se revelou exagerado — o PIB contraiu 7,6% –, apontando, por outro lado, para uma forte recuperação já este ano: apontava para uma recuperação de 6,2% em 2021.

Haverá um corte nas estimativas “em linha com outras atualizações de previsões que têm sido efetuadas e que decorrem de um primeiro trimestre com mais restrições em Portugal e na Europa do que previamente admitido”. E esse corte pode vir acompanhado de alguma “cautela relativamente à subida do rácio dívida/PIB”.

Juros a subir ainda não são motivo de alarme

Ao mesmo tempo que alerta para o rácio de endividamento, a S&P deverá, a pronunciar-se sobre Portugal, mostrar que está atenta à “continuidade da subida dos juros no mercado secundário”, ainda que recordando a “relativa contenção financeira dos gastos públicos, a almofada financeira que o Tesouro tem criado, o alisamento do perfil da dívida e para as indicações de política monetária que o BCE tem vindo a dar”, nota Filipe Garcia.

Portugal tem, à semelhança de outros países da Zona Euro, visto os juros da dívida a subir nos mercados, tendo esse agravamento das taxas tido tradução nas taxas mais altas exigidas pelos investidores no duplo leilão realizado pelo IGCP, a 7 e 10 anos. No prazo mais longo, depois de o país ter contado com taxas negativas em janeiro, agora pagou 0,237%.

Cristina Casalinho, ao ECO, desvaloriza a subida, apontando como justificação as perspetivas de recuperação. Filipe Garcia diz que esta subida dos juros soberanos não é, para já, um problema porque os países estão ‘todos no mesmo barco’ e os juros soberanos estão a níveis muito baixos”. Contudo, poderá vir a ser um problema no futuro.

“O problema virá a seguir quando os juros subirem, com a dívida a permanecer muito elevada porque o país continuará a crescer a ritmos muito moderados e, principalmente, será criticado por outros países endividados. Nessa altura, será importante continuar a manter a imagem de ‘bom aluno’”, remata o economista da IMF.

Christine Lagarde acalma investidores

Os juros têm vindo a subir no mercado, mas interromperam a tendência com a “decisão do Banco Central Europeu (BCE) de aumentar as compras de obrigações no imediato ajudará a conter a alta dos juros“, nota Filipe Garcia, apontando para o alívio da taxa portuguesa a 10 anos para 0,24%. “É um sinal do seu comprometimento com a manutenção do contexto de taxas de juro baixas”, nota.

“Com base numa avaliação conjunta das condições de financiamento e das perspetivas de inflação, o Conselho do BCE espera que as aquisições no âmbito do PEPP ao longo do próximo trimestre sejam conduzidas a um ritmo significativamente mais elevado do que nos primeiros meses deste ano”, disse o BCE.

E para acalmar os investidores, Christine Lagarde deixou a garantia de que poderá haver reuniões extraordinárias do conselho de governadores do BCE se for necessário para ajustar a “bazuca” monetária, mas disse que há flexibilidade suficiente para que a comissão executiva do banco central ajuste o que for preciso. A presidente do BCE também indicou que dos 1,85 biliões de euros ainda está disponível cerca de um bilião de euros.

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