FMI avisa governos que recuperação sem apoios põe estabilidade financeira em risco

As medidas implementadas devido à Covid-19 têm sido eficazes a manter a estabilidade do sistema financeiro, mas tem exagerado as avaliações acionistas e a fase da recuperação traz novos desafios.

Um ano após o início da pandemia, a estabilidade financeira tem sido conseguida graças a fortes estímulos monetários e orçamentais. Mas há riscos para o sistema financeiro, especialmente à medida que se aproxima a fase de recuperação das economias, levando o Fundo Monetário Internacional (FMI) a deixar alertas os governos que é preciso agir já para prevenir problemas no futuro.

“As medidas de apoio extraordinárias têm facilitado as condições financeiras e apoio a economia, ajudando a conter os riscos para a estabilidade financeira”, diz a entidade, no Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado esta terça-feira. “As avaliações dos ativos parecem, no entanto, esticadas nalguns segmentos e as vulnerabilidades financeiras estão a aumentar em alguns setores“.

Nas bolsas, a pandemia fez-se sentir em março e abril do ano passado de forma agressiva, mas o impacto acabou por ser passageiro, levando a recuperação a ser alimentada pelos estímulos de bancos centrais e governos e acelerada pela descoberta da vacina. A tecnologia e as energias renováveis estiveram entre as área especialmente beneficiadas, apesar de a banca ter ganho destaque este ano.

"Os mercados acionistas têm valorizado de forma agressiva desde o terceiro trimestre de 2020 devido às expectativas de uma rápida recuperação económica e contínuo apoio político e estão as negociar em níveis significativamente mais elevados do que sugerem os modelos fundamentais”

Relatório de Estabilidade Financeira Global

Fundo Monetário Internacional

A organização liderada por Kristalina Georgieva alerta para o risco de “consequências acidentais” nas avaliações das ações que se podem tornar num legado estrutural se nada for feito. “Os mercados acionistas têm valorizado de forma agressiva desde o terceiro trimestre de 2020 devido às expectativas de uma rápida recuperação económica e contínuo apoio político e estão as negociar em níveis significativamente mais elevados do que sugerem os modelos fundamentais”, diz.

Mais do que os resultados empresariais é o ambiente de baixos juros que têm suportado essas avaliações nas ações, enquanto no mercado obrigacionista, os spreads estão “muito limitados”. Na economia real, empresas e famílias continuaram a ter acesso a condições de financiamento favoráveis, o que “facilitou a recuperação e manteve os riscos financeiros à margem”, segundo o FMI, que vê, no entanto, riscos.

Governos devem desenhar já medidas preventivas

O fundo de Bretton Woods estimava uma queda do produto interno bruto do mundo de 4,4% em 2020, tendo acabado por se registar uma recessão menos severa, com uma queda de 3,5%. “As melhorias no outlook económico reduziram claramente a ampla gama de resultados adversos, mas mantêm-se importantes riscos negativos para o PIB“.

Há dois temas que estão a emergir e para os quais são feitos alertas. Além das consequências não intencionais das políticas expansionistas, há também o risco de que a recuperação económica seja assíncrona e divergente, especialmente se acompanhada de um movimento para uma normalização de políticas nas economias desenvolvidas e rápida subida de juro.

Se não forem endereçadas, as vulnerabilidades financeiras expostas pela pandemia podem tornar-se problemas de legado estruturais“, alerta o FMI sobre os dois, deixando um aviso de que é preciso que os Estados continuem a impulsionar as economias, bem como que os bancos apoiem no finaciamento desse mesmo objetivo.

“Apoio contínuo continua a ser preciso, mas é necessária uma série de medidas de política que abordem as vulnerabilidades e protejam a recuperação económica”, diz. O FMI considera que os decisores políticos devem apoiar a recuperação dos balanços dos bancos, por exemplo, fortalecendo a gestão de crédito malparado. “Se a recuperação económica será desigual e terá efeitos negativos, dependerá da capacidade e da disposição dos bancos em emprestar assim que haja uma reversão nos apoios públicos”, acrescenta.

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