Luís Filipe Vieira: “Muitos empresários tiveram perdões de dívida. Não foi o meu caso”

Vieira ao ataque: diz que é muito cómodo para o "poder político" e Banco de Portugal encontrar culpados e "colocar o presidente do Benfica como grande devedor da banca que não cumpriu".

Luís Filipe Vieira, dono do grupo Promovalor, que gerou perdas de 180 milhões ao Novo Banco, assegura que não teve nenhum perdão de dívida do banco, ao contrário de “muitos empresários”. E deixou farpas ao “poder político” e à “supervisão bancária”, para quem é “muito cómodo” colá-lo à imagem de “grande devedor que não cumpriu”.

Na sua intervenção inicial na comissão de inquérito ao Novo Banco, o empresário e presidente do Benfica repetiu por várias vezes a ideia de que não beneficiou de qualquer haircut da sua dívida no Novo Banco. “Muitos empresários tiveram perdões de capital e de juros. Não foi o meu caso. É do conhecimento público que muitos viram perdoadas dívidas muito superiores àquelas que foram contraídas pela Promovalor. Não aconteceu isso comigo”, afirmou o presidente do Benfica.

“Não tive nenhum perdão de capital, nem nenhum perdão de juros. Nem eu, nem o grupo Promovalor”, repetiu Luís Filipe Vieira aos deputados. Vieira fez-se acompanhar do seu advogado, Luciano Marcos.

O grupo Promovalor tinha uma exposição de mais de 460 milhões de euros em 2015 junto do Novo Banco, dívidas contraídas sobretudo no tempo do BES: 180 milhões de euros da Promovalor SPGS, 160 milhões em Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis (VMOC) da Promovalor e Inland, e outros créditos de vários milhões a sociedades como a Imosteps, Overbrick e Quinta do Aqueduto.

De acordo com a Deloitte, o Novo Banco já registou imparidades de 180 milhões com o grupo de Luís Filipe Vieira.

Críticas ao poder político e supervisor

Vieira deixou farpas àqueles que o querem colar à imagem de um grande devedor que deu perdas à banca, dizendo que “muito cómodo para muita gente colocar o presidente do Benfica como grande devedor da banca que não cumpriu”.

É cómodo para os poderes políticos, cómodo para a supervisão bancária, cómodo para uma sociedade que precisa de encontrar culpados pelas suas insuficiências”, atirou de seguida.

O presidente do Benfica defendeu ainda a reestruturação da sua dívida em 2017, quando parte foi transferida para um fundo de investimento alternativo especializado (FIAE), gerido pela sociedade do antigo vice-presidente do clube encarnado, Nuno Gaioso Ribeiro, a C2 Capital Partners.

No âmbito desta operação, foram adquiridos ao Novo Banco 133,9 milhões de euros de créditos e foram, ainda, reestruturados pelo Novo Banco financiamentos existentes de 85,8 milhões de euros, perfazendo a operação o montante total de 219,7 milhões de euros.

Por seu turno, foram integrados no fundo vários ativos imobiliários localizados em Portugal Espanha, Brasil (hotel no Recife) e Moçambique (edifício de escritórios em Maputo). O banco detém 96% das unidades de participação do fundo Promoção e Turismo.

Vieira diz que entregou todos os ativos que tinha, manteve o seu aval pessoal e ainda investiu mais capital para ajudar à recuperação da dívida por parte do Novo Banco. E adianta que o fundo recebeu a totalidade do património para pagamento da dívida e juros e liquidação do referido empréstimo obrigacionista.

“Digam uma, uma só, operação de reestruturação feita neste país com condições tão ou mais vantajosas para os bancos”, apontou, afirmando que o plano de negócios do fundo “não projeta qualquer perda para o Novo Banco, logo para os contribuintes”.

“Não gastei dinheiro da banca em iates ou aviões”

Luís Filipe Vieira aproveitou os minutos iniciais para explicar o seu percurso empresarial e a chegada ao Benfica a presidente em 2003, também por interesse dos bancos que não queriam que o clube, que atravessava um período conturbado, caísse.

O empresário diz que fundou a Promovalor com capitais próprios de 35 milhões de euros sem qualquer recurso à banca e que o financiamento bancário que teve depois da parte do BES, BCP e Caixa Geral de Depósitos foi todo direcionado para os seus investimentos. E aqui deixou mais uma bicada a quem o compara com outros grandes devedores.

Não gastei esse dinheiro nem em iates, nem em aviões, nem em mordomias. Não desviei esse dinheiro para contas pessoais, seja aqui em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo”, afirmou.

“Investi nas empresas, na criação de valor económico e de postos de trabalho. O resultado dos financiamentos que me foram concedidos traduziu-se na aquisição de ativos imobiliários que chegaram a ter um valor, insisto, de 754 milhões de euros”, disse.

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