Uma smart city é aquela que “preserva os seus recursos hídricos”

  • Capital Verde
  • 24 Maio 2021

O administrador da Águas de Gaia, Miguel Lemos, revelou a mais recente aposta da empresa: contadores com QR Code que dá a radiografia do cliente e comunica, em tempo real, com o sistema.

Apesar de reconhecer que a tecnologia pode contribuir para um mundo mais sustentável, Miguel Lemos, administrador da Águas de Gaia, reconheceu numa conferência sobre a importância da água, “A Blue New Deal”, que a “inteligência” de uma cidade deve ser avaliada pelo bem-estar dos cidadãos e pela forma como preserva a água.

“Aquilo em que nós temos vindo a investir muito nos últimos tempos é nesta lógica de smart city conectada com água. Uma cidade só pode ser considerada inteligente se preservar os seus recursos hídricos”, começou por dizer o administrador da Águas de Gaia.

A digitalização tem sido, por isso, a aposta da empresa, que lançou recentemente um projeto inovador e sustentável, único entre os operadores públicos do setor da água na Europa. “Nós selamos todos os nossos contadores e, agora, adicionamos ainda aos nossos selos um QR Code que, quando apontado por um dispositivo móvel dos nossos fiscais, leitores ou de qualquer profissional da Águas da Gaia, dá-nos a radiografia daquele cliente e comunica, em tempo real, com o nosso sistema de informação”, explicou Miguel Lemos.

“Por qualquer motivo, se o funcionário que vai ao local de consumo precisar de uma informação, não precisa de ligar para a sede nem de regressar à base, tem toda a informação em tempo real e pode, inclusive, colocar nova informação em tempo real no nosso sistema, quer técnico, quer comercial”, continuou o administrador, que realçou, também, o facto desta medida permitir diminuir viagens (menos emissões) e poupar papel. “Substituímos resmas de papel por megabytes de informação”, disse.

Miguel Lemos reforçou a importância de construir uma cidade inteligente através da água e, neste ponto, falou, também, das águas pluviais. “A minha visão é que nós, operadores de água, além da responsabilidade de termos sistemas de distribuição de água de qualidade, sistemas de drenagens de águas residuais, temos que olhar para as águas pluviais como um sistema autónomo que deve ser uma aposta. Isso vai significar, por um lado, o não encaminhamento da água da chuvas para as ETAR, o que traz benefícios económicos e ambientais, mas, por outro lado, permite-nos ter uma gestão das linhas de água”, referiu.

Além do projeto dos QR Code, o administrador da Águas de Gaia destacou outros três: “Há três projetos que eu gostava de mencionar – aquele que nós designamos KPI Daily, que é termos indicadores de gestão ao dia, o Water Wise System, que é um sistema de modelação hidráulica e que, conectado com o nosso sistema de telegestão SCADA, nos permite ter um dashboard onde tudo acontece e onde nós podemos verificar isso e tomar medidas sobre ele”.

Ainda assim, não deixou de dizer que, independentemente dos avanços na digitalização, o mais importante é garantir que se caminha para a sustentabilidade. “Nos dias de hoje, olhar para uma cidade inteligente, mais do que conectada e altamente tecnológica, é olhar para uma cidade sustentável, na qual o cidadão goste de viver”, concluiu Miguel Lemos.

32 500 bilhões de litros de água perdidos todos os anos

No final do evento “A Blue New Deal”, Ricardo Campos, presidente do Fórum de Energia e Clima, alertou para os perigos e consequências negativas que já se manifestam e que podem piorar se a humanidade continuar com o mesmo tipo de comportamento em relação à água e à descarbonização.

“Continuamos a depender em 85% dos combustíveis fósseis para toda a energia que necessitamos em todo o mundo. Apesar de dizermos que estamos na era da descarbonização, continuamos a lançar na nossa atmosfera mais de 110 milhões de gases com efeitos de estufa como se os nossos céus fossem um esgoto a céu aberto para toda a nossa civilização industrial”, declarou.

O presidente do Fórum de Energia e Clima garantiu que a única forma de alterar esta realidade é começar a agir. E, segundo ele, a atitude tem de começar, já, por esta geração: “Caiu nos braços da nossa geração esta possibilidade de fazermos as mudanças que são inevitáveis e isto é uma responsabilidade que nós precisamos de assumir – a de, rapidamente, neste curto espaço de tempo, conseguirmos fazer uma revolução para uma economia sustentável, uma economia mais circular, e que possa, de facto, reduzir as emissões dos gases com efeitos de estufa”.

“Há décadas que sabemos que queimar carvão, petróleo e gás natural emite gases com efeitos de estuda, dióxido de carbono e que faz com que maior radiação infravermelha seja retida no planeta. Mas, mesmo assim, continuamos este modelo de desenvolvimento com base no carbono que nos leva, hoje, a estarmos num período de consequências, onde nós não temos mais tempo, não podemos adiar mais as ações que temos que empreender. É importante que a razão da ciência chegue à ação da política, das empresas e das pessoas e que possa haver uma ação decisiva rumo à concretização e implementação dos projetos”, alertou Ricardo Campos.

Com a mesma urgência de atenção está o setor hídrico que, de acordo com o presidente, tem de ser gerido da melhor forma para que não haja escassez de água no futuro: “A água doce representa 0,5% de toda a água. Precisamos de refletir muito sobre a forma como gerimos a água. Precisamos de compreender a quantidade de energia que nós gastamos para bombar, para armazenar, para tratar e para distribuir a água”.

“Não é possível continuarmos a perder, a meio deste caminho, mais de 50% dessa água. O Banco Mundial estima que estejamos a falar de perto de 32 500 bilhões de litros todos os anos. Não é possível que nós, neste tempo de alterações climáticas, neste tempo em que esta concentração de gases com efeito de estufa faz com que tenhamos de enfrentar nos próximos anos mudanças terríveis no nosso clima, continuemos assim”, sublinhou.

Ainda dentro do mesmo tema, Ricardo Campos falou das consequências diretas que as alterações climáticas trazem e no armazenamento de água: “O aquecimento da água faz com aconteçam tempestades cada vez mais fortes e com períodos de seca mais longos e mais profundos. Por isso é importante armazenar a água, mas não podemos continuar a fazê-lo em barragens de elevado impacto ambiental. Temos de procurar soluções para vencer este desafio”.

Por fim, e para promover a consciencialização da realidade para a qual a humanidade caminha, o presidente do Fórum de Energia e Clima questionou: “Que prioridade terá, no futuro, o uso da água como recurso escasso – a agricultura ou as torneiras das nossas casas?”

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