5 respostas sobre a mutação nepalesa que assustou os britânicos
Chamam-lhe mutação nepalesa, foram detetados 90 casos no mundo, dos quais 12 em Portugal e foi um dos motivos para o Reino Unido retirar Portugal da lista verde. Cinco respostas sobre esta mutação.
O Reino Unido decidiu retirar Portugal da “lista verde” do corredor aéreo britânico, a qual permite que os turistas britânicos sejam dispensados de fazer quarentena durante 10 dias. Esta decisão tem efeitos a partir da próxima terça-feira, 8 de junho, e é justificada não só pelo número de infeções ter disparado em Portugal, mas também por ter sido identificada uma nova mutação associada ao Nepal nos turistas que regressavam ao Reino Unido e provenientes de território nacional.
Mas, afinal, que mutação está em causa, onde foi identificada e porque é que está a concentrar mais atenções? O ECO preparou um guia com cinco perguntas e respostas sobre o tema.
Que mutação é esta?
Atualmente, existem milhares de variantes que estão a causar casos de infeção contra a Covid-19. No entanto, as autoridades de saúde mundiais centram as suas atenções naquelas que têm mutações que parecem mais contagiosas ou que são comprovadamente mais perigosas. Por isso, há um leque de variantes classificadas como “variantes de preocupação” ou “variantes sob investigação”, segundo o Centro de Europeu para o Controlo de Doenças (ECDC na sigla em inglês).
Nesse sentido, há agora uma nova mutação a fazer “soar os alarmes” da comunidade científica mundial. Em causa está a mutação nepalesa, que resulta da variante Delta (anteriormente conhecida por variante indiana e que já se provou ser mais contagiosa), de linhagem B.1.617.2. e que carrega a mutação K417N. A comunidade científica acredita que esta mutação adicional pode ser “potencialmente prejudicial”, pelo que está agora a ser estudada mais aprofundadamente.
Onde já foi identificada?
Esta mutação, que faz parte da linhagem da estirpe indiana, está a ser associada ao Nepal, uma vez que o aumento de casos na Índia levou a que o surto se espalhasse pelos países fronteiriços, nomeadamente no Nepal. Este país não tem por hábito fazer o sequenciamento do genoma do vírus através dos casos identificados, cujo processo é fundamental para detetar novas variantes, contudo, há pelo menos um caso da variante Delta, encontrada pela primeira vez na Índia, que carrega uma mutação chamada K417N neste país, segundo o The Guardian (acesso livre, conteúdo em inglês).
Esta mutação foi já encontrada em vários países, incluindo Reino Unido, Portugal, Estados Unidos e Índia. Além disso, foi identificada 14 vezes no Japão, sendo que 13 dessas amostras foram em viajantes do Nepal.
Quantos casos desta variante foram detetados em todo o mundo? E em Portugal?
Apesar de ainda estar sob investigação, segundo o site Outbreak.info, que monitoriza as variantes do novo coronavírus, há já 90 casos da mutação K417N identificados a nível mundial, tendo sido detetada em pelo menos oito países.
Em Portugal, já foram detetados 12 casos da variante associada ao Nepal, segundo revelou o investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) João Paulo Gomes, em declarações à SIC Notícias.
Porque é que esta mutação está a concentrar as atenções?
Quando o secretário dos Transportes, Grant Shapp, confirmou que o Reino Unido iria retirar Portugal da lista verde do corredor britânico justificou a decisão tendo por base o aumento da taxa de infeções em território nacional, bem como a prevalência de “uma espécie de mutação no Nepal da variante indiana que foi detetada” em turistas britânicos que chegavam de Portugal. Nesse sentido, o responsável explicou, citado pelo The Guardian, que não é conhecido o “potencial” desta mutação e se poderá “derrotar” as vacinas, pelo que o Reino Unido não quer “correr o risco” de ter de reverter a decisão de travar a quarta e última fase de desconfinamento, a 21 de junho.
Não obstante, o investigador João Paulo Gomes, do INSA, também em declarações à SIC Notícias, garantiu que esta estirpe “não é nova”, referindo ainda que a ocorrência de mutações quando uma nova variante chega a um país “é normal” e resulta de um processo de evolução do vírus “à medida que se vai transmitindo de pessoa para pessoa”.
“Esta mutação do Nepal é apenas uma delas. Para se ter uma ideia, é uma mutação que existe já em todos os casos da variante da África do Sul. Não é nova, já a conhecemos. E o que sabemos dela até agora é que pode – atenção, pode – dar um pouco mais de transmissibilidade”, apontou ainda o especialista, em declarações ao Público (acesso livre).
Nesse contexto, o investigador estranha a decisão do Reino Unido, apontando que a prevalência da variante indiana em Portugal não atingiu sequer os 5% (está em 4,8%), e que dentro desta estão os 12 casos da mutação nepalesa. Isto com a adjuvante de terem sido detetados apenas 90 casos a nível mundial com a mutação K417N. Está a “fazer-se uma tempestade num copo de água”, concluiu.
Esta mutação afeta a eficácia das vacinas contra a Covid?
Tal como explicou o investigador do INSA, a mutação K417N foi também encontrada na variante Beta, associada à África do Sul. Nos últimos tempos, a variante sul-africana tem suscitado alguma preocupação por parte das autoridades de saúde porque os estudos apontam que esta variante seja parcialmente mais resistente às vacinas que estão a ser administradas contra a Covid-19, bem como que à imunidade que se ganha após exposição natural ao vírus.
Nesse sentido, acredita-se que a mutação K417N seja um dos motivos para os quais a variante Beta tenha um grau inferior de proteção face às vacinas.
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