Mortes em mínimos, mas internamentos sobem há 6 semanas. UCI estão a metade da capacidade

A média semanal de infeções por Covid está a subir há oito semanas consecutivas. Pressão já se sente no SNS, com os internamentos a subirem há seis semanas e as UCI a mais de metade do limite crítico.

A pandemia está a acelerar em Portugal, com o número de novos casos a aumentar há oito semanas consecutivas. Esta subida é explicada pela rápida disseminação da variante Delta, que é responsável por 70% das novas infeções em território nacional e levou a uma aceleração da vacinação. A pressão já se faz sentir no Sistema Nacional de Saúde (SNS), com os internamentos a subirem há seis semanas e as unidades de cuidados intensivos estarem já a mais de metade do limite definido como crítico.

Desde que arrancou a terceira fase de desconfinamento, a 3 de maio e até esta segunda-feira, Portugal contabilizou 53.114 novas infeções, em termos acumulados, num total de mais de 890 mil casos identificados desde o início da pandemia. Estes números estão ainda bem longe do “pico” registado na terceira vaga da pandemia. Só no mês de janeiro foram identificados 306.838 casos por Covid-19, ou seja, um valor mais de cinco vezes superior do que o número registado nas últimas nove semanas (mais concretamente dois meses e dois dias).

Média semanal de novos casos por Covid-19 desde que arrancou a terceira fase de desconfinamento, a 3 de maio

Só nos últimos sete dias (entre 26 de junho e 4 de julho), Portugal registou 14.541 novos casos por Covid-19, o que dá, em média, aproximadamente 2.077 casos por dia. Se compararmos com a semana anterior (de 21 a 27 de junho), tinham sido registadas 9.497 novas infeções nesse período (cerca de 1.357 casos por dia). Ou seja, na última semana houve, em média, mais 720 casos por dia.

Já na semana de 14 a 20 de junho, foram registados 7.603 novos casos acumulados (uma média de 1.086 por dia), enquanto que na semana de 7 a 13 de junho houve 4.801 novos casos (em média 686 por dia).

Esta tendência de crescimento é ainda mais evidente se comparamos o balanço da última semana com a semana em que arrancou a terceira fase de desconfinamento. Entre 3 e 9 de maio, foram identificados 2.305 casos em Portugal, ou seja, uma média de 329 casos por dia. Isto significa que só na última semana, houve um número de acumulado de novas infeções seis vezes superior ao registado na semana em que se iniciou a terceira fase de desconfinamento, bem como seis vezes superior em termos de média de casos diários.

Contas feitas, este indicador está a aumentar há oito semanas consecutivas, isto é, desde que arrancou a terceira fase de desconfinamento. A manter-se esta taxa de crescimento, Portugal poderá atingir a “linha vermelha” de 240 novos casos por 100 mil habitantes, a 14 dias, “em menos de 15 dias (cerca de 6 dias) ao nível nacional e entre 15 e 30 dias nas regiões do Norte, Centro e Alentejo“, alertaram a Direção-Geral da Saúde (DGS) e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), no relatório divulgado, na passada sexta-feira, acrescentando que este valor já foi ultrapassado na região de Lisboa e Vale do Tejo e no Algarve.

Esta segunda-feira, o balanço das autoridades de saúde aponta já para uma incidência de 224,6 casos por 100 mil habitantes a nível nacional e 231 casos por 100 mil habitantes no continente. Certo é que face ao aumento da incidência e do índice de transmissibilidade, o Governo poderá ser forçado a mudar a matriz de risco, já que estes indicadores estão próximo de ultrapassar a escala do quadrado que serve de guia para a gestão da pandemia.

Apesar de a vacinação estar a correr a bom ritmo, este aumento de casos está já a refletir alguma pressão sobre os sistemas de Saúde. E o aviso já tinha sido deixado no último relatório de monitorização das “linhas vermelhas”: “No último mês, o aumento da atividade epidémica tem condicionado um aumento gradual na pressão dos cuidados de saúde, em especial na ocupação dos cuidados intensivos”, avisam as autoridades de saúde.

Com base nos relatórios divulgados pela DGS é possível constatar que o número de internamentos está a subir há seis semanas consecutivas. Só na última semana, entre 26 de junho e 4 de julho, houve em, média, mais cerca de 521 pessoas internadas em enfermaria geral. Se comparamos com a semana anterior, entre 21 e 27 de junho, trata-se de um aumento de 17% (cerca de 76 pessoas), isto é, uma média semanal de 445 internados.

Evolução semanal dos internamentos desde 3 de maio e até 4 de julho de 2021

Mas a diferença é ainda mais significativa se compararmos com a semana seguinte ao arranque da terceira fase do desconfinamento. Assim, entre 10 e 16 de maio, houve uma média de 219 internamentos na sequência da doença, ou seja, menos de metade do número registado na última semana (521). Importa ainda salientar que a 21 de maio estavam apenas 207 pacientes em enfermaria geral, um mínimo desde, pelo menos, novembro de 2020.

Só esta segunda-feira, estavam 613 pessoas internadas em enfermaria geral, das quais 136 em unidades de cuidados intensivos (UCI). Isto significa que a ocupação dos UCI está já a mais de metade (cerca de 55%) do limite de 245 camas traçado como crítico no âmbito das “linhas vermelhas”.

O número de pacientes internados em unidades de cuidados intensivos (UCI) está a subir há quatro semanas e está já a metade do limite definido como crítico nas “linhas vermelhas”

Este indicador está também a aumentar há quatro semanas consecutivas, isto é, desde 7 de junho. Só nos últimos sete dias, (entre 26 de junho e 4 de julho), verificou-se um aumento de 119 pessoas internadas nestas unidades, contra os 106 registados na semana anterior (entre 21 e 27 de junho). Se comparamos com a semana em que arrancou o mês de julho, entre 1 e 6 de junho, trata-se de um aumento de 67 pessoas em estado crítico (ou seja mais do dobro). O maior impacto nas UCI é registado na região de Lisboa e Vale do Tejo e Algarve, sendo que o grupo etário com maior número de casos de Covid internados em UCI corresponde ao grupo etário dos 40 aos 59 anos, de acordo com o último balanço da DGS e INSA.

Vacinação reflete-se na taxa de mortalidade

Não obstante, é possível constatar que o crescente aumento do ritmo de vacinação e o facto de a população mais vulnerável já estar praticamente toda vacinada, tem evitado consequências mais duras ao nível da mortalidade em Portugal. Entre 3 de maio e até esta segunda-feira, morreram 140 pessoas em Portugal vítimas da Covid-19. Se compararmos com os 5.576 óbitos declarados em todo o mês de janeiro, trata-se de uma diminuição de 5.436 mortes registadas. No total, desde o início da pandemia já morreram mais de 17 mil pessoas.

Apesar de este indicador estar também a subir ligeiramente há cinco semanas consecutivas, os números são ainda relativamente baixos e bem longe dos verificados no “pico” da terceira vaga, quando Portugal chegou a atingir 303 mortes num só dia (a 28 de janeiro, voltando a repetir-se a 31 de janeiro). Na última semana, Portugal registou 28 óbitos acumulados, ou seja, mais nove do que os registados na semana anterior (de 21 a 27 de junho).

Média semanal de novos óbitos por Covid-19 desde que arrancou a terceira fase de desconfinamento, a 3 de maio

Só no último mês, foram registados 71 óbitos em território nacional vítimas da Covid. Trata-se de um aumento de 20 mortes, face ao total de 51 óbitos contabilizados em maio, o mês em que se registou o menor número de óbitos desde o início da pandemia, já que o recorde até então era em agosto, período em que faleceram 87 pessoas vítimas da doença.

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