Ação humana no aquecimento global é inequívoca e alguns impactos inevitáveis, aponta relatório da ONU

Planeta já aqueceu 1,1ºC e será muito difícil evitar um aumento de 1,5ºC a 2Cº. São necessárias medidas imediatas, rápidas e em larga escala para reduzir os gases com efeito de estufa.

Incêndios de grandes proporções, como os que temos assistido este verão na Grécia, na Turquia ou na Califórnia, e inundações como as que assolaram a Alemanha e a Bélgica — os fenómenos meteorológicos extremos tenderão a ocorrer com maior frequência, porque alguns impactos das alterações climáticas são já inevitáveis, conclui um relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas, divulgado esta segunda-feira.

“Trata-se de um alerta vermelho para a humanidade”, disse António Guterres, citado pela Lusa, em reação às conclusões do relatório. “Os alarmes são ensurdecedores: as emissões de gases de efeito estufa provocadas por combustíveis fósseis e a desflorestação estão a sufocar o nosso planeta”, acrescentou o secretário-geral da ONU.

António Guterres pediu o “fim do uso do carvão” e de “novas explorações e produção de combustíveis fósseis, transferindo os recursos dos combustíveis (fósseis) para a energia renovável”.

Nenhum país escapará ao impacto. Nas próximas décadas, as alterações climáticas vão aumentar em todas as regiões. “Para 1,5ºC de aquecimento global, haverá ondas de calor crescentes, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas. A 2ºC de aquecimento global, os extremos de calor atingiriam mais frequentemente limites de tolerância críticos para a agricultura e saúde”, diz o comunicado que acompanha o relatório.

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas (IPCC, na sigla em inglês) prevê também chuvas mais intensas, acompanhadas de inundações, e secas mais severas em muitas regiões. A alteração dos padrões de pluviosidade levará a um aumento da precipitação em latitudes elevadas e diminuição em grande parte das regiões subtropicais.

Também relevante para Portugal é o aumento “contínuo do nível das águas ao longo do século XXI, contribuindo para inundações costeiras mais frequentes e severas em áreas baixas e de maior erosão costeira”. De acordo com o relatório, esta e outras alterações são irreversíveis durante “centenas a milhares de anos”.

Degelo do permafrost, perda da cobertura de neve sazonal, recuo dos glaciares, perda do gelo do mar Ártico no verão, aumento da temperatura do oceano, ondas de calor marinhas e acidificação do oceano vão continuar a acontecer ao longo deste século, afetando os ecossistemas e as pessoas que deles vivem.

Nas cidades, alguns aspetos das alterações climáticas serão amplificados, incluindo o calor (as áreas urbanas já são mais quentes) e inundações provocadas por chuvas fortes e a subida do nível do mar nas zonas costeiras.

O relatório reclama novas evidências sobre o impacto das emissões de gases com efeito de estufa no aquecimento global, concluindo que elas são responsáveis por 1,1ºC desde o período entre 1850 e 1900. A manter-se o ritmo de emissões, o aumento da temperatura global deverá atingir 1,5Cº.

Segundo o comunicado, “esta avaliação é baseada em dados observacionais melhorados sobre o aquecimento histórico, bem como no progresso na compreensão científica da resposta do sistema climático às emissões de gases com efeito estufa causadas pelo homem”.

“Temos agora temos uma imagem muito mais clara do clima do passado, do presente e do futuro, o que é essencial para compreender para onde estamos a ir, o que pode ser feito e como podemos nos preparar”, afirma Valérie Masson-Delmott, co-presidente do IPCC Working Group I.

De acordo com o relatório, ainda há uma janela para tentar limitar o aquecimento global a perto de 1,5ºC ou 2ºC, mas são necessárias medidas “imediatas, rápidas e em larga escala para reduzir os gases com efeito de estufa”.

O “IPCC Working Group I report, Climate Change 2021: the Physical Science Basis” foi formalmente aprovado na sexta-feira por 195 governos do IPCC através de sessões virtuais que se estenderam por duas semanas.

“As inovações neste relatório e os avanços na ciência do clima que ele reflete fornecem uma contribuição inestimável para as negociações e tomadas de decisão sobre o clima”, afirma Hoesung Lee, presidente do IPCC.

“Se unirmos forças agora, podemos evitar a catástrofe climática. Mas, como o relatório indica claramente não há tempo e não há lugar para desculpas”, apelou também António Guterres.

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