BRANDS' ECOSEGUROS Segurar uma população envelhecida
Ana Sofia Carvalho, Manager EY, Assurance Financial Services, fala do papel e dos desafios do setor segurador num contexto de indefinição económica e de envelhecimento da população.
O envelhecimento demográfico em Portugal é uma realidade. Pela observação dos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), conclui-se que o Índice de Envelhecimento tem vindo a agravar-se ano após ano. Se em 2006 este indicador apresentava um valor de 111,5, no ano de 2020 já se situava em 167, isto é, por cada 100 jovens residiam em território nacional 167 idosos. Segundo as projeções do INE de 31 de março de 2020, este Índice irá atingir em 2080 o valor de 300 em resultado do decréscimo da população jovem e do aumento da população idosa. Portugal passará de 2,2 milhões de idosos em 2018 para 3 milhões em 2080, numa população total que decrescerá dos 10,3 para 8,2 milhões de pessoas, o que se traduz num aumento muito significativo na proporção de idosos.
Na economia, o cenário é de taxas de juro muito baixas, ou mesmo negativas, agravado pela incerteza da evolução da economia no período pós pandemia, com o correspondente impacto na rentabilidade do setor financeiro e nos produtos por si comercializados. Neste contexto, em que os consumidores tendem a refugiar-se em produtos de poupança de baixo risco e a privilegiar o aforro, observou-se um decréscimo do mercado segurador na ordem dos 19% em 2020, fortemente penalizado pela quebra do segmento Vida que contraiu aproximadamente 35%, e uma ligeira subida no segmento Não-Vida, na ordem dos 3%. O segmento Vida apresentou uma descida de prémios de 34,8%, particularmente impactado pelo desempenho negativo dos seguros de capitalização e PPRs que diminuíram o seu peso em 2020, em resultado de uma quebra de 62,9% no volume de prémios. Já o segmento Não-Vida, onde podemos encontrar o ramo de seguros de Doença, apresentou um crescimento na ordem dos 8% durante a pandemia.
"O Estado pode beneficiar da comparticipação e atribuição de seguros à população idosa de menores recursos e reformas mais baixas, ao evitar que a ausência de medicina preventiva culmine em situações mais gravosas de doença com os respetivos custos de tratamentos e internamentos de longa duração.”
Neste enquadramento de indefinição económica e de envelhecimento da população, qual pode ser o papel dos seguros?
Esta população idosa, muitas vezes isolada e solitária, carece de cuidados primários, mas acima de tudo de uma proteção específica à qual muitas vezes não tem acesso ou sequer o acompanhamento que lhe permita prevenir eventuais problemas clínicos, estando muitas vezes dependente do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que embora seja um instrumento muito relevante para os cuidados médicos do nosso país, mantém problemas estruturais como listas de espera intermináveis e falta de médicos.
A salvaguarda dada pelos produtos de seguro de Saúde, enquanto complemento ao SNS, pode dar parte da resposta necessária e ao mesmo tempo libertar o SNS. O Estado pode beneficiar da comparticipação e atribuição de seguros à população idosa de menores recursos e reformas mais baixas, ao evitar que a ausência de medicina preventiva culmine em situações mais gravosas de doença com os respetivos custos de tratamentos e internamentos de longa duração.
" A ideia de inacessibilidade das pessoas mais velhas à contratação destes produtos deverá ser contrariada. Falamos de seguros que podem ter previstos apoios nas consultas domiciliárias, consultas de medicina preventiva, ambulatório, internamento, transporte para consultas e tratamentos, entre outros (…)”
A pedagogia financeira e o aproximar dos cidadãos de todas as idades às soluções existentes no mercado, especialmente desenhadas e estruturadas a pensar nas suas necessidades, é um caminho para uma vida com uma maior dignidade. A ideia de inacessibilidade das pessoas mais velhas à contratação destes produtos deverá ser contrariada. Falamos de seguros que podem ter previstos apoios nas consultas domiciliárias, consultas de medicina preventiva, ambulatório, internamento, transporte para consultas e tratamentos, entre outros, que trazem uma maior flexibilidade no momento da decisão do doente ou dos seus familiares ou cuidadores informais e dão uma resposta muito mais rápida e eficaz do que aquela que é conseguida através do SNS.
Se há vantagens para os segurados mais idosos, os desafios futuros de ajustar e adaptar a oferta de produtos para uma população envelhecida representa igualmente um exercício complexo e vai exigir grande resiliência das Seguradoras, uma aposta numa comunicação distinta e no desenvolvimento de canais específicos. As ofertas em canais online, apps e outras iniciativas de inovação apenas aproveitarão à população idosa com uma comunicação direcionada e uma estratégia clara de apresentação das vantagens dos produtos que lhe são destinados. O marketing deve cada vez mais contemplar este grupo etário na promoção dos produtos, com o enfoque claro na informação e transmissão clara da mensagem.
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