Multinacional oferece emprego qualificado em Mirandela, mas não tem candidatos
Empresa internacional Enline está à procura de trabalhadores qualificados, não não surgem candidatos. “Estamos a ter imensa dificuldade em encontrar profissionais", desabafa o fundador.
Um engenheiro de Mirandela regressou à terra para instalar na cidade transmontana o polo principal de uma nova multinacional na área da energia, que está a recrutar, mas não consegue candidatos para emprego qualificado.
Manuel Lemos é um dos fundadores da Enline, que escolheu Mirandela para sede em Portugal da empresa, que tem 25 clientes nos cinco continentes, entre eles as elétricas nacionais de vários países que usam o software desenvolvido para monitorizar remotamente linhas e equipamentos de energia.
Portugal foi onde tentaram experimentar o produto sem sucesso e ainda hoje não têm clientes no país, onde agora se confrontam com a dificuldade de encontrar interessados para preencher as vagas de emprego que estão a oferecer.
“Estamos a ter imensa dificuldade em encontrar profissionais principalmente para desenvolvimento de negócio, pessoas com experiência em mercados internacionais, capacidade de falar e escrever inglês, entre outras línguas”, concretizou à Lusa.
A empresa já abriu concursos e continua com “sete ou oito vagas”, que incluem também profissionais com experiencia no setor elétrico ou softwares e das especialidades de Tecnologias da Informação e de Marketing.
“Acho que é muito importante tornar público que existe uma empresa de software internacional, que atualmente exporta 100% do que faz para o mundo, que está por decisão dos acionistas em Trás-os-Montes, mas que precisamos de profissionais que queiram vir para o interior”, salientou.
A empresa recebeu apoio do programa para contratação de quadros qualificados, o COESO, e tem como parceiro estratégico o Instituto Politécnico de Bragança (IPB) que “já ajudou a contratar uma pessoa” e em conjunto estão a entrevistar outras.
Manuel Lemos tem 37 anos e é natural de Mirandela, no distrito de Bragança, estudou engenharia no Porto e emigrou para o Peru, na crise de 2008. Foi trabalhar para uma empresa alemã da área da energia, papel e mobilidade e foi lá que conheceu outros dois engenheiros estrangeiros com quem decidiu arriscar.
Esta aventura começou em 2018 com o desenvolvimento de um software para monitorização de equipamentos e linhas de energia que se distinguem do que existe no mercado por não necessitar de equipamento ou idas ao terreno.
Conseguiram apoio de uma incubadora de empresas da União Europeia e um investidor português e, mais recentemente, da incubadora do Parque Natural Regional do Vale do Tua.
“Esse processo foi complicado, nós iniciamos em Portugal, onde infelizmente não tivemos sucesso”, recordou.
Foram bater a portas distintas europeias e a primeira que se abriu foi a da rede elétrica espanhola, seguindo-se a Áustria, Alemanha, e, atualmente, têm clientes “na Austrália, índia, Canadá, Estados Unidos, muitos países da América Latina, desde Brasil, Peru, Colômbia, Chile, Argentina e Uruguai”.
A empresa tem escritórios no Brasil, Peru, Alemanha e agentes e revendedores em diferentes países. “Em Portugal, estamos a tentar convencer distintos clientes como a REN, EDP, entre outros, a aplicar as nossas tecnologias, mas infelizmente ainda não está nada contratualizado, mas temos muito otimismo que possa ainda ocorrer este ano”, contou.
De acordo com o sócio, a tecnologia que desenvolveram permite antecipar, prevenir e corrigir os problemas que afetam a distribuição de energia, nomeadamente os mais conhecidos dos público em geral, como os cortes no fornecimento ou incêndios causados por linhas de alta tensão.
A empresa tem tecnologia que cria um chamado “gémeo digital” da rede ou equipamento, através do qual é possível fazer uma leitura real do que está a ocorrer e “diagnosticar e informar o cliente sobre potenciais falhas ou eventos e como corrigir antes que estas ocorram ou no momento em que estejam ocorrer”.
A tecnologia destina-se também a melhorar a potência, redução de perdas até 25% ou controlo da vegetação ao longo das linhas, assim como de incêndios provocados por linhas de transmissões, através das faíscas geradas por descargas elétricas ou curto-circuitos.
A tecnologia está a ser aplicada em “aproximadamente dois mil quilómetros de linhas em todo o mundo, sendo que as vendas oficiais começaram há pouco mais de um ano”. A perspetiva é “até ao final do ano duplicar este valor e no próximo ano atingir entre dez a 15 mil quilómetros e ir crescendo”.
Manuel Lemos acredita neste crescimento com base nos números de um mercado mundial de “aproximadamente 100 milhões de quilómetros de linhas de transmissão”.
O volume de negócios da Enline “ainda é pequeno” por ainda se encontrar “numa etapa de desenvolvimento de projeto-piloto com clientes estratégicos”.
Manuel Lemos prevê que chegarão ao final do ano “com aproximadamente meio milhão de euros de negócios” e espera “ultrapassar um milhão” no próximo ano, com o objetivo de “chegar a cinco milhões de euros entre 2023 e 2024”.
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