Axpo avança com projeto de hidrogénio verde em Portugal. Suíços já falaram com Governo e parceiros nacionais

O plano da empresa estatal suíça passa por desenvolver uma central solar fotovoltaica de grandes dimensões, com eletrolisadores, em Sines. Galamba já foi a Zurique conhecer o projeto.

O Grupo Axpo, maior produtor e distribuidor de eletricidade a partir de fontes renováveis da Suíça, detido pelo Governo helvético, quer ter 10 GW de capacidade instalada na energia solar até ao final desta década. Para isso, está de olhos fixos na Península Ibérica e a avançar já para um projeto de produção de hidrogénio verde em Portugal.

A empresa estatal suíça terá já iniciado conversações com parceiros portugueses, e o plano passa por desenvolver uma central solar fotovoltaica de grandes dimensões, com eletrolisadores, na região de Sines. Fundamental será também o acesso a fundos europeus para desenvolver o projeto, revelou Christoph Sutter, Head of Renewables da Axpo

Ao ECO/Capital Verde, Sutter revelou que muito recentemente esteve reunido com o secretário de Estado da Energia, João Galamba, para falar sobre os novos planos da Axpo para o hidrogénio em Sines. Do lado português, fontes ligadas ao processo confirmaram também que o encontro teve lugar há cerca de duas semanas nos escritórios da empresa, em Zurique.

No centro desta conversa esteve o projeto da Axpo para a produção de hidrogénio verde em Portugal, com o grupo suíço a dar exemplos do que acontece no seu próprio território: onde o gás renovável é utilizado para abastecer camiões, com benefícios a nível fiscal para as empresas que descarbonizem as suas frotas de transporte pesado e adotem a utilização deste gás renovável.

Esta nova ambição da Axpo surge precisamente no momento em que o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Matos Fernandes, se prepara para lançar oficialmente o primeiro aviso do “Apoio à produção de hidrogénio renovável e outros gases renováveis”, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, com um total de 185 milhões até 2023.

O Governo ainda não revelou o valor para este primeiro aviso, mas está já definido um apoio máximo de 15 milhões por projeto. As candidaturas estarão abertas para projetos com diversas tecnologias de eletrólise, metanação, biometano e gaseificação de biomassa, abrindo portas à entrada da Axpo no hidrogénio português.

“Se houver boas oportunidades para investir em centrais solares fotovoltaicas em Portugal, estaremos lá”, confirma CEO

“Estamos na década da energia solar fotovoltaica. Até 2030, esta tem de passar a ser a fonte renovável dominante. A tendência é global e a Axpo quer acompanhar. Depois de termos desenvolvido cerca de 300 MW de energia solar em França, estamos agora a olhar para Espanha e Itália, para desenvolver o nosso portfólio solar”, disse Christoph Sutter aos jornalistas portugueses, espanhóis e italianos que por estes dias visitaram à nova “joia da coroa” da Axpo: a central solar Alpin Solar, localizada a 2500 metros de altitude em plenos alpes suíços.

“Também estamos a olhar para Portugal, mas de forma diferente. Mais em específico para o hidrogénio verde, com solar fotovoltaico e eletrolisadores”, confirmou o head of renewables da Axpo, dizendo que neste momento não pode adiantar mais detalhes sobre o projeto.

Também o CEO do Grupo Axpo, Christoph Brand, prefere não revelar ainda se há “planos concretos ao virar da esquina”, mas assegura: Se houver boas oportunidades para investir em centrais solares fotovoltaicas em Portugal, claro que estaremos lá. Estamos certamente a tentar construir um pipeline de projetos no país. Porque não investir lá? Por alguma razão temos a Axpo Ibéria”.

“Ainda não investimos no desenvolvimento de centrais solares, mas o primeiro PPA que fechámos na península Ibérica foi precisamente em Portugal, há três anos, mesmo antes de o fazermos em Espanha. É um mercado muito interessante para nós, tendo em conta o desenvolvimento das renováveis“, reforçou Domenico de Luca, head of trading & sales da Axpo.

Em 2018, a Axpo celebrou o primeiro contrato de compra de Energia (PPA) a longo prazo em Portugal, sem qualquer tipo de ajudas públicas. Desde então, já celebrou mais três PPA que permitiram a construção de quatro centrais fotovoltaicas, com uma potência instalada de mais de 70 MWp.

CEO do Grupo Axpo, Christoph Brand

O interesse da empresa no hidrogénio português também foi repetido algumas vezes este ano pelo CEO da Goldenergy, Miguel Checa. Numa entrevista recente, ao Jornal de Negócios, o responsável garantiu que para a Axpo “o hidrogénio em Portugal é uma hipótese”.

“Portugal e Espanha são tipicamente países com as condições propícias ou necessárias para o desenvolvimento de hidrogénio, e porque não? Não existe nada fechado, mas Portugal e Espanha, dadas as condições solares, têm potencial”, disse Miguel Checa. Um cenário que agora se altera, com a Axpo a avançar com conversações com o Governo português e também com parceiros nacionais para tentar entrar no filão do hidrogénio nacional.

A empresa suíça está presente em Portugal desde 2009 e é dona da comercializadora Goldenergy (desde 2018), operando também na venda de eletricidade a empresas (das PME à indústria) e no mercado de contratos de longo prazo de compra e venda de energia (PPA).

Axpo quer crescer nas renováveis, mas na Suíça não há espaço para mega centrais solares

O Grupo marca presença em 31 países (na Europa, Ásia e nos EUA) e em 40 mercados do mundo, com 4,4 GW de produção renovável na Suíça (opera mais de 100 centrais, sobretudo hidroelétricas, mas também eólicas, solares e de biomassa), 377 MW em França, 195 MW na Alemanha, 66 MW em Itália e 15 MW em Espanha.

Sem grande margem para aumentar a capacidade de gerar energia limpa na Suíça, a empresa quer crescer fora de portas, sobretudo no eólico e solar. Aos jornalistas do sul da Europa, o CEO do Grupo Axpo, Christoph Brand, fala mesmo numa “expansão ambiciosa nos mercados onde seja economicamente atrativo e viável” e na “aposta em tecnologias de armazenamento (baterias) e hidrogénio verde”.

As metas até 2030 passam pela construção de 10 GW de capacidade solar a nível internacional, chegar aos 200 MW de solar fotovoltaico na Suíça, ter um adicional de energia eólica onshore de 3 GW e multiplicar por quatro o volume dos PPA negociados.

“Não esperamos mais crescimento na Suíça. O crescimento virá do desenvolvimento das energias renováveis noutros países europeus. O nosso modelo de negócios não é construir e manter centrais elétricas, mas sim desenvolver e vender os projetos, mantendo apenas alguns ou então posições minoritárias”, disse Brand numa conferência de imprensa na sede da Axpo, em Baden.

Em 2015 a empresa comprou a alemã Volkswind, que detém e opera 130 turbinas eólicas com um total de 300 MW e tem um pipeline de projetos com aproximadamente 4 GW, e em 2019 adquiriu também a francesa Urbasolar, com uma capacidade total de 373 MW e um pipeline de 1 GW.

“Aquisições, PPA, projetos eólicos e solares. Tudo está em cima da mesa em mercados como Espanha e Portugal. A nossa estratégia passa por um crescimento orgânico. Podemos também ter interesse em adquirir projetos individuais, dependendo da fase de desenvolvimento em que estejam, ou até comprar outras empresas. Não podemos excluir essa hipótese, mas não estamos desesperados para o fazer”, esclareceu ainda o CEO.

A Axpo reconhece a falta de ambição da empresa para as renováveis no próprio território. “E porquê? Para já porque não conseguimos desenvolver uma central solar de 50 hectares no país, devido à disponibilidade limitada de terrenos disponíveis e aos elevados preços de instalação”, esclarece o responsável.

Além disso, diz, o país está “muito atrasado no que diz respeito às renováveis [eólica e solar]”, à exceção da hidroelétrica, sobretudo devido à falta de incentivos financeiros e tarifas garantidas.

“Outros países europeus já tiveram vários ciclos de tarifas garantidas para desenvolver as renováveis, já tiveram leilões, e agora estão a afastar-se de tudo isso. Mas na Suíça ainda bem sequer começámos com os apoios. A produção de eletricidade a partir do sol e do vento no país é quase irrelevante. E isso é um problema, porque as centrais nucleares que ainda existem vão fechar e depois ficamos sem alternativas”, refere Christoph Brand.

As estimativas apontam para um aumento da procura de energia elétrica na Suíça, dos atuais 60 TWh para 80 TWh em 2050. “Com o fecho das centrais solares em breve vamos ficar com um défice de 40 TWh. E esta mensagem não passou para os políticos suíços”, remata o CEO.

(A jornalista viajou para a Suíça a convite do Grupo Axpo. Artigo atualizado às 14h30 com mais informação)

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