Mais de metade das mulheres diz que teletrabalho favorece progressão de carreira

Opinião é, sobretudo, partilhada entre as mulheres com 18 a 25 anos. As restantes não estão tão otimistas quanto às vantagens do teletrabalho na progressão profissional, segundo inquérito para a BBC.

Afinal o teletrabalho pode não ser um obstáculo à progressão de carreira das mulheres, como alguns estudos e testemunhos têm revelado. Um novo inquérito da YouGov, para a BBC, descobriu que mais de metade das mulheres (56%) no Reino Unido pensa que trabalhar à distância é um fator que pode ajudar na progressão de carreira, uma vez que as tarefas relacionadas com os filhos e com o lar deixam de ser um problema ao aceitar um emprego a tempo inteiro.

“Não consigo encontrar um sítio para deixar o meu filho de seis anos, por isso preciso de trabalhar a partir de casa para ir levá-lo e buscá-lo à escola na maioria dos dias. Sem isso, não tenho a certeza de que poderia ter voltado ao trabalho depois da licença de maternidade”, conta Elene Gorman à BBC (acesso livre conteúdo em inglês). Depois do nascimento do seu filho, a profissional optou por mudar de trabalho, para uma empresa onde pudesse trabalhar a partir de casa, uma decisão que considera acertada e que lhe tirou um peso de cima, facilitando a conciliação entre vida pessoal e profissional.

O trabalho remoto pode, de facto, ser, para algumas mulheres, uma medida favorável à progressão de carreira como demonstra o inquérito. E os gestores também parecem concordar: 65% sente que trabalhar à distância ajuda as mulheres a progredirem na carreira, revela o mesmo inquérito. Mas nem todas as mulheres estão de acordo.

Um quarto das mulheres (25%) inquiridas pelo YouGov no Reino Unido disseram que era “pouco provável” que o teletrabalho favorecesse a progressão profissional. E Elena Gorman revela que, apesar das vantagens, recebe, neste momento, um salário inferior ao que recebia no seu trabalho anterior.

Outro dado interessante é que, entre as 1.684 mulheres inquiridas pelo YouGov, as que mais acreditam que o teletrabalho pode trazer benefícios ao nível da progressão de carreira são as profissionais que se encontram na faixa etária dos 18 aos 24 anos (65%). As restantes não têm tantas certezas sobre se esse regime representa uma vantagem na sua evolução profissional.

A (pouca) divisão de tarefas

Um dos fatores que pode estar a contribuir para esta dificuldade na progressão de carreira é o desequilíbrio verificado na divisão das tarefas domésticas e relacionadas com os filhos. Números do Office for National Statistics (ONS) mostraram que, durante o primeiro confinamento obrigatório, em que escolas encerraram e empresas mandaram os colaboradores para casa, as mulheres tomavam conta dos filhos, em média, mais dois terços por dia do que os homens.

Sem isso [teletrabalho], não tenho a certeza de que poderia ter voltado ao trabalho depois da licença de maternidade.

Elene Gorman

Em Portugal, a Pessoas falou com algumas profissionais sobre o teletrabalho e a progressão de carreira. A opinião das mulheres contactas é unânime: trabalhar à distância criou ainda mais invisibilidade para as mulheres, pelo menos no setor das tech.

“Para além de trabalharem para a empresa, eram sobretudo as mulheres a tratar mais dos filhos, acompanhá-los na escola, organizar refeições, etc.”, descreve Manuela Doutel Haghighi, que conta mais de 20 anos de experiência em projetos de transformação digital. “Trabalhar à distância criou ainda mais invisibilidade para as mulheres que já não sabiam valorizar-se e a fazer network. As mulheres tiveram de provar ainda mais o seu valor em relação aos seus colegas homens. Com a desculpa da pandemia, muitas empresas não deram promoções ou aumentos de salários, e os que deram, foi mais a homens que pediram e souberam valorizar-se mais facilmente”, continua.

Uma opinião partilhada, em parte, por Anabela Ferreira. “No global, acredito que a pandemia teve um impacto negativo em todo o ecossistema, independentemente do género ou da área de atividade. Sabemos que em Portugal as mulheres ainda são vistas pela maioria da sociedade como sendo quem trata da casa, dos filhos, etc. e, neste contexto a pandemia trouxe um maior desgaste”, considera a agile coach da Natixis.

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