Este barco vai de Lisboa às Caraíbas só com energias renováveis

O detentor de três recordes mundiais de kitesurf, Francisco Lufinha, já se lançou Atlântico fora num barco que ele próprio construiu, movido a energia limpa. Quer chegar às Caraíbas sem poluir.

A ideia surgiu na última vez que atravessou o Atlântico sozinho, entre os Açores e Lisboa. É lá, quando está entregue à força do mar e do vento, agarrado à prancha e ao kite, que Francisco Lufinha gosta de pensar. Talvez para desviar o pensamento das dores nos joelhos, ao fim de tantas horas de pé a que o kitesurf obriga.

“Quando estou no meio do mar muito tempo penso no que pode vir a seguir e foi aí que nasceu a ideia da travessia até às Caraíbas”, puramente movida a energia limpa, disse Francisco Lufinha, 37 anos, detentor de três recordes mundiais de kitesurf. Como percorrer 6.700 quilómetros, em solitário, na prancha, seria impossível, começou a idealizar a melhor forma de o fazer.

Teria então de arranjar uma espécie de embarcação, o mais pequena e leve possível, à qual pudesse prender o kite (fios e vela), para aproveitar a força do vento e ainda juntar outras energias renováveis. Instalar qualquer tipo de motor com combustíveis fósseis estava fora de questão.

Em França descobriu um trimaran, trouxe os três cascos para Portugal e desenhou uma cabine. “A lógica deste barco foi a de reutilizar. O mais difícil foi a conversão de um barco à vela original para tração a kite. São 600 metros de linhas para gerar energia e puxar o barco. É tudo uma invenção, mas esta Atlantic Mission é isto mesmo: inovar e arrojar só com energias limpas”, sublinhou Lufinha. Além do kite, que aproveita a força do vento, a embarcação está equipada com painéis solares e um ainda um hidrogerador.

EDP Atlantic Mission - 13JUL21

O barco, construído de propósito para a expedição, com “três cascos para ser mais leve e mais rápido” e movido com a “força do vento”, já vai neste momento com quase dois dias de viagem, algures a sul da ponta de Sagres e aparentemente a dirigir-se para as Canárias.

Saiu de Cascais a 3 de novembro e deverá demorar agora cerca de quatro semanas (pode ser mais, pode ser menos), sem paragens e em barco de apoio, até às Caraíbas, Não sabemos exatamente o que vai na mente de Francisco Lufinha, mas a sua viagem está a ser acompanhada em direto no site da EDP, parceira desta Altantic MIsion.

E porquê atravessar o Atlântico em novembro? Os ventos no Atlântico norte “são mais estáveis” nesta altura, explica o atleta.

E como será a vida a bordo? Lufinha vai dormir em “andamento”, “sentado” e “ligeiramente inclinado para trás”. “Desenvolvi com um alemão um sistema-piloto que controla o kite sozinho”. E acrescenta: “isto tudo é alimentado com painéis solares, que também levo no barco cerca 700 watts de painéis, e um hidrogerador, uma hélice que com a minha velocidade gera energia”.

EDP Atlantic Mission - 13JUL21

Sobre a preparação para a expedição, Francisco Lufinha refere que ele próprio desenvolveu o barco, como se fosse um “mecânico ou um eletricista”, para a eventualidade de ter de realizar reparações durante a viagem.

O percurso do ‘kitesurfer’ vai ser demonstrado em tempo real na página da EDP na Internet e o atleta vai estar em comunicação com a Marinha portuguesa para “prevenir algum incidente”.

“Em caso de acidente, que pode sempre acontecer, como bater num obstáculo ou num contentor afundado – temos de prever estes cenários –, tenho uma série de equipamentos de segurança que posso acionar para que as embarcações que estejam perto possam saber onde estou”, assinalou.

O atleta vai alimentar-se com comida desidratada, “quase em pó”, e através da transformação de água salgada do mar em água doce, levando para isso dois dessalinizadores.

“As pessoas dizem muito que é uma loucura. Eu não adoro a palavra loucura porque posso passar por louco, eu diria que é uma coisa arrojada”, definiu.

Na despedida disse ainda: “É um projeto que levou muito tempo a erguer, muita fé e muito suor. Há dois anos que estamos a preparar esta viagem, mas mesmo assim gostava de ter mais dez dias para testar. É muito mais exigente do que qualquer outra que fiz. Fisicamente, é ‘hardcore’ e psicologicamente vai exigir muito de mim”, perspetivou o português, que detém desde 2015 o recorde mundial da maior viagem de kitesurf sem paragens.

O destino desta viagem, que tem uma duração máxima prevista de seis semanas, no máximo, é a ilha de Martinica, nas Caraíbas.

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