Dívida pública de Portugal com juros negativos cai para 66 mil milhões

Inflação e pressão em tornos dos bancos centrais estão a puxar os juros das obrigações em todo o mundo. Portugal também observa subida das taxas e tem cada vez menos dívida com yields negativas.

Conferência de imprensa de apresentação da proposta de Orçamento do Estado 2022 no Ministério das Finanças - 12OUT21

Portugal ainda tem 66,2 mil milhões de euros de dívida pública a negociar com juros negativos no mercado, cerca de 42% do total da sua dívida. Mas este valor já foi bem maior: eram 87,5 mil milhões há apenas mês e meio e mais de 115 mil milhões há um ano (78% do total da dívida), de acordo com os dados fornecidos ao ECO pela plataforma Tradeweb.

Foram várias as maturidades da dívida pública que passaram a transacionar com valores positivos nas últimas semanas (os juros sobem mediante a desvalorização dos títulos): os juros das obrigações do Tesouro portuguesas a seis, sete e oito anos inverteram para terreno positivo durante o último mês.

Desde a reunião de BCE de 16 de dezembro que as taxas não param de subir e 2022 trouxe um novo puxão nos juros da dívida, sobretudo depois de se saber que a Reserva Federal norte-americana (Fed) vai ser mais agressiva no aperto da sua política monetária por causa da alta inflação: os investidores apostam em quatro subidas das taxas das Fed funds, a começar já em março, mais cedo do que o esperado.

O BCE também tem sido pressionado a agir para controlar a subida dos preços — que está em máximos desde a criação do euro –, mas Frankfurt tem reiterado a mensagem de que o disparo da inflação está suportado em fatores passageiros e cujos efeitos irão desaparecer no segundo semestre do ano. Além disso, o banco central trabalha para um objetivo de inflação de 2% a dois anos e as previsões nesse horizonte temporal mostram que ainda há margem para manter os juros em mínimos.

É neste cenário que as obrigações dos governos têm desvalorizado a ponto de muitas deixarem de observar as yields negativas com que vinham negociando nos últimos meses — com os juros negativos, os investidores perdem dinheiro se mantiverem seus títulos até o vencimento.

Ainda esta quarta-feira os juros associados às obrigações alemãs a dez anos, a referência para os investidores, assumiram valores positivos pela primeira vez desde maio de 2019, refletindo o sentimento dominante no mercado.

Para Portugal, as notícias também não são favoráveis. Atualmente, os juros a dez anos superam os 0,6% e estão em máximos desde junho de 2020. Nos prazos a seis, sete e oito anos, que registavam taxas negativas nas últimas semanas, estão a negociar atualmente nos 0,052%, 0,185% e 0,294%, respetivamente.

Os títulos com prazos abaixo de cinco anos continuam a ter juros negativos, mas também se pode dizer que já mergulharam em mares mais profundos.

Juros a 6, 7 e 8 anos já não estão no vermelho

Fonte: Reuters

Os analistas consideram que os juros das obrigações já bateram o fundo e que daqui para a frente vão continuar a subir mais, embora mantendo-se em níveis confortáveis durante algum tempo. Isto representará mais encargos para o Estado com o serviço da dívida, mas também irá ter impacto nas famílias e empresas, que vão pagar mais pelos seus créditos.

O Governo e o Banco de Portugal já deixaram alertas sobre o impacto da inversão da política monetária do banco central nos custos de financiamento dos países. “Será um desafio novo para os países europeus que viram a sua dívida aumentar muito durante a pandemia. (…) Temos de o enfrentar com o sentido de responsabilidade que nos caracteriza”, sinalizou o ministro das Finanças, João Leão, no mês passado.

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