Nem 4,8%, nem 4,6%. PIB deverá ter crescido 4,4% em 2021

Ao dizer que a economia cresceu 4,6% em 2021, António Costa criou uma polémica com o INE. Mas o número final do PIB não deverá ser nem 4,6%, nem os 4,8% de Leão: os analistas apontam para 4,4%.

O produto interno bruto (PIB) não terá crescido nem 4,6%, como disse António Costa na campanha eleitoral, nem 4,8%, como apontava a previsão oficial do Governo, do Banco de Portugal e da OCDE. As últimas estimativas dos analistas consultados pelo ECO apontam para uma média de 4,4%, abaixo das previsões, o que pode ser explicado pela desaceleração sentida no final do ano. A estimativa rápida oficial será divulgada esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), às 9h30.

O ECO compilou o cenário central das previsões de seis instituições: BCP (4,5%), Santander (4,5%), BPI/CaixaBank (4,3%), Fórum para a Competitividade (4,5%), ISEG (4,4%) e Católica (4,3%). A média aponta para um crescimento económico de 4,4% no ano passado, mas é de referir que três das seis instituições apontam para 4,5% e que há quem admita “conservadorismo” na sua estimativa. Ainda assim, uma coisa parece ser certa: o número que o INE vai anunciar deverá ficar abaixo das expectativas do Governo.

Foi António Costa quem criou a confusão, trazendo indiretamente o INE para a campanha eleitoral, quando disse, sem atribuir fonte, que o PIB tinha crescido 4,6% em 2021, duas décimas abaixo da estimativa oficial do Governo (4,8%), reafirmada uma semana antes pelo ministro das Finanças, o que levou a dúvida sobre se teria tido acesso a dados antecipadamente. Mais tarde, Costa veio dizer que a estimativa era do Executivo e não do INE. O gabinete de estatísticas apressou-se também a esclarecer que não antecipa dados ao Governo desde 2014.

Certo é que passou a haver dois números no ar para o crescimento de 2021: 4,8%, na versão de João Leão (cujo Ministério das Finanças recusou comentar as declarações do primeiro-ministro), e 4,6%, na boca do líder do PS. A previsão do Governo tinha até o respaldo dos números avançados pelo Banco de Portugal e pela OCDE em dezembro. Porém, desde então, a economia portuguesa terá desacelerado, sugere o indicador mais rápido do BdP, por causa da pandemia, entre outros fatores, levando a uma revisão em baixa destas instituições que atualizam as previsões com maior frequência.

O agravamento da pandemia no final do ano terá travado ligeiramente a atividade, com um crescimento mais lento do consumo privado“, aponta Rui Constantino, economista-chefe do Santander (que aponta para um crescimento de 4,5%), ao ECO, acrescentando que “teremos tido um maior crescimento das importações, também devido ao investimento, que anulou a evolução positiva das exportações”.

Paula Carvalho, economista-chefe do BPI/CaixaBank, que reconhece “alguns riscos” da previsão de 4,3% ser “demasiado conservadora”, assinala ao ECO que a desaceleração da economia “é evidente no comportamento dos vários indicadores de atividade e confiança, com abrandamento notório em dezembro”. Entre as causas pode estar também a aceleração da taxa de inflação, o custo da energia e a travagem de economias importantes para Portugal como a da Alemanha (o PIB alemão só cresceu 2,8% em 2021).

Segundo uma nota de conjuntura divulgada na passada sexta-feira, os economistas do BCP antecipam que os dados do INE — que na primeira estimativa ainda são escassos de pormenores — vão mostrar “o dinamismo da procura doméstica, impulsionada pelo consumo privado, que tem beneficiado dos elevados níveis de poupança acumulada, bem como da melhoria do mercado de trabalho”, no que toca ao conjunto do ano passado.

Além disso, em 2021, é expectável que o investimento “tenha sido robusto, no âmbito da execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), não obstante os riscos inerentes às disrupções nas cadeias de fornecimento globais”. “Por sua vez, a procura externa líquida deverá ter tido um contributo relativamente marginal para o crescimento do PIB, penalizada pelas exportações de viagens e turismo, em virtude do agravamento da situação pandémica na Europa a partir de meados de novembro“, detalham ainda os especialistas.

PIB aproxima-se, mas ainda longe do nível pré-pandemia

A distância a que o PIB português está do nível pré-pandemia depende da ótica utilizada, se se olha só para um trimestre ou se se olha numa base anual (os últimos quatro trimestres). Mas, seja qual for a ótica, os números mostram que a retoma portuguesa continua a ser uma das mais lentas da União Europeia, também por causa da dependência do turismo, e ainda falta algum tempo até estar completa.

Rui Constantino, do Santander, calcula que “o PIB deverá recuperar os níveis pre-pandemia no terceiro trimestre de 2022”. Já Paula Carvalho aponta que, numa base anual, “deveremos alcançar os níveis pré-pandemia no final do primeiro semestre de 2022”. No final de 2021, o PIB deverá ficar cerca de 4,5% abaixo, numa base anual, e 2,5%, numa base trimestral, face ao nível pré-pandemia.

Os economistas do BCP apontam para um PIB no final de 2021 “apenas 1,9% abaixo do nível pré-pandemia” – não o referem, mas o valor é na base trimestral –, assumindo que há um crescimento de 4,5%.

Recorde-se que em 2020 o PIB encolheu 8,4%, a maior queda desde pelo menos 1954. Para 2022, espera-se uma aceleração da economia com um crescimento mais expressivo e o alcance do nível pré-Covid-19. Porém, a revisão em baixa das previsões internacionais por parte do Fundo Monetário Internacional para este ano colocam algumas dúvidas sobre o que irá acontecer.

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