Jerónimo de Sousa e Catarina Martins afastam cenário de demissão

O Presidente da República recebeu o PCP, BE, PAN e Livre, tendo em vista a indigitação do primeiro-ministro. Partidos alertaram para os riscos da maioria absoluta e apelaram ao diálogo.

Marcelo Rebelo de Sousa reuniu-se esta terça-feira, com o PCP, Bloco de Esquerda, PAN e Livre, tendo em vista a indigitação do primeiro-ministro, na sequência das eleições legislativas de domingo. No primeiro dia de audiências, os partidos alertaram para os riscos da maioria absoluta, com o partido liderado por Catarina Martins a lembrar que a “maioria absoluta não deixou boas memórias no país”. Nesse contexto, os partidos apelam ao diálogo. Ainda no rescaldo eleitoral, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa afastaram qualquer demissão. Na quarta-feira, o Presidente da República ouve os restantes partidos que asseguraram representação parlamentar.

Nestas eleições legislativas, os socialistas recolheram 41,68% dos votos, conseguindo 117 mandatos e a maioria absoluta. Em comparação, o PSD conseguiu 27,8% dos votos (71 mandatos), o Chega 7,15% (12 mandatos), o Iniciativa Liberal 4,98% (oito mandatos), o Bloco de Esquerda 4,46% (cinco mandatos), a CDU 4,39% (seis mandatos), o CDS-PP 1,61% (zero mandatos), o PAN 1,53% (um mandato) e o Livre 1,28% (um mandato).

Apesar deste resultado, António Costa frisou a importância do diálogo, tanto na Assembleia da República, como na Concertação Social. “Devo interpretar esta vitória como um voto de confiança e uma enorme responsabilidade pessoal para promover os consensos necessários na Assembleia da República, na Concertação Social e no conjunto da sociedade portuguesa”, defendeu o atual e futuro primeiro-ministro.

Jerónimo de Sousa afasta saída da liderança do PCP

À saída da audição com o Presidente da República, o secretário-geral do PCP voltou a acusar o PS de ter provocado as eleições “não para resolver qualquer problema, mas para alcançar uma maioria absoluta “que permitisse não tanto o reforço do PS, mas criar as condições para se ver livre” dos antigos parceiros da geringonça, nomeadamente o PCP.

Em declarações aos jornalistas, Jerónimo de Sousa defendeu ainda que a maioria absoluta dos socialistas torna “mais difícil e mais exigente” o papel da oposição, mas garante que o PCP vai continuar a “lutar” pelas bandeiras que tem reivindicado, nomeadamente em matérias que envolvem o direito laboral, as “reformas e pensões” ou a gratuitidade das creches. Além disso, o comunista antecipa que os pontos de convergência que uniram PS e PCP anteriormente podem ficar mais “estreitos”, caso se confirme “o objetivo do partido socialista de fugir à intervenção, à proposta, à ação e iniciativa do PCP”, sinalizou.

Questionado sobre uma eventual saída da liderança do PCP é taxativo: ” Essa questão não está colocada”, afirmou Jerónimo de Sousa.

“Maioria absoluta não deixou boas memórias no país”, diz Catarina Martins

Também à esquerda, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) sinaliza que com a maioria absoluta dos socialistas, o Presidente da República “terá seguramente responsabilidades institucionais“, dado que o sistema português “tem esse equilíbrio de poderes” e avisa que “uma maioria absoluta não deixou boas memórias no país”, relembrando que a última maioria absoluta tinha sido do Governo socialista liderado por José Sócrates.

Sabemos dos perigos das maiorias absolutas, sabemos como as maiorias absolutas são permeáveis ao poder económico e, portanto, cá estaremos no papel exigente” de oposição, afirmou Catarina Martins, em declarações transmitidas pela RTP3, acrescentando, que “há um trabalho muito exigente da oposição para garantir que o interesse público é respeitado”.

Para a próxima legislatura, o BE — que viu a sua bancada parlamentar reduzida de 19 para cinco deputados — garante que vai continuar a trabalhar para a melhoria dos salários, das condições de trabalho, bem como para “garantir cuidados de saúde a toda a população”. Ainda no rescaldo eleitoral, questionada pelos jornalistas sobre uma eventual demissão na sequência dos resultados do partido, Catarina Martins é taxativa. “O BE não decide a sua direção de acordo com os resultados eleitorais. Quem decide são os seus militantes e eu cá estarei para cumprir o meu mandato por inteiro“, garantiu.

“Se Governo menorizar Parlamento, iremos diretamente para a sociedade civil”, diz Rui Tavares

O Livre foi o primeiro a ser recebido pelo Presidente da República, tendo o deputado eleito Rui Tavares avisado, à saída, que, se o “Governo menorizar” a Assembleia da República — agora que tem garantida a maioria absoluta — recorrerá “diretamente à sociedade civil”. “Conseguindo apoio social para as nossas medidas, depois será muito mais difícil chumbarem-nas quando as levarmos ao Parlamento”, afirmou.

Em declarações aos jornalistas, Rui Tavares explicou que o Livre será a “esquerda que quer combater a crise ecológica e a crise social ao mesmo tempo“, identificando como uma suas das prioridades políticas a renovação dos edifícios em Portugal, “destas casas onde se passa tanto frio“.

Já sobre a maioria absoluta conseguida pelos socialistas nesta ida às urnas, o deputado eleito sublinhou que “a bola vai estar do lado do Governo” e atirou: “Se o Governo menorizar o Parlamento, nós iremos diretamente para a sociedade civil”.

Além disso, Rui Tavares adiantou que o Livre não falará só com o PS. “Pediremos reuniões com o PCP, com o BE, com o PAN, com todas as forças do progressismo e ecologia“, detalhou o político, defendendo que uma das “fraquezas” dos partidos à esquerda dos socialistas tem sido a “falta de articulação e contactos” entre si. “Se houver mais articulação, mais diálogo antecipado, é melhor para todos”, frisou.

Para o líder do Livre, “é muito importante que a esquerda saiba ser propositiva, construtiva, para não estarmos a passar em Portugal por uma viragem política de alianças entre a direita e a extrema-direita, que representaria uma grave encruzilhada para o estado de direito em Portugal”.

Esta é a segunda vez que o Livre assegura representação parlamentar. A deputada que eleita nas eleições de 2019, Joacine Katar Moreira, acabou, contudo, por desfiliar-se do partido.

PAN pede ao Governo para “honrar os compromissos que foram negociados”

Do lado do PAN, Bebiana Cunha sinalizou que “por motivos óbvios e perante maioria absoluta é evidente” que o PS vai formar Governo. No entanto, o PAN apela ao Governo que honre os “compromissos que foram negociados” com o partido no âmbito do Orçamento do Estado, que foi chumbado e levou à dissolução da Assembleia da República e destas novas eleições.

Nesse sentido, o PAN pede ao Executivo que cumpra os compromissos feitos, nomeadamente no que concerne à “progressão das carreiras dos técnicos auxiliares de saúde”, “nas respostas prementes ao nível da proteção animal”, bem como nas respostas para garantir o acesso à habitação. “Esperamos que Governo esteja disponível para diálogo e debate democrático”, apontou Bebiana Cunha, em declarações transmitidas pela RTP3, acrescentando que as maiorias absolutas podem “ser prejudiciais para a democracia”.

Depois de o PAN ter “encolhido” a representação parlamentar de quatro para dois deputados, Bebiana Cunha pediu ainda uma revisão do sistema eleitoral, alegando que o partido “foi prejudicado em termos percentuais em 70% dos votos”. “Se tivéssemos um circulo único no nosso país, o PAN teria eleito três deputados e isto traduziria melhor aquela que era a vontade dos portugueses”, elencou.

Na quarta-feira, o Presidente da República tem reunião marcada com o Iniciativa Liberal, com o Chega, com o PSD e com o PS.

(Notícia atualizada pela última vez às 19h23)

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