Hotelaria está “completamente disponível” para dar emprego e formação a refugiados ucranianos

A falta de trabalhadores no turismo abre as portas aos ucranianos que venham para Portugal. Hotelaria quer acolher esses refugiados e está disponível para os formar.

Os ucranianos que vêm para cá na sequência da invasão russa podem contar com ofertas de trabalho na hotelaria. A falta de mão-de-obra existente neste setor abre portas à contratação de refugiados e as empresas estão dispostas a apostar na formação destes trabalhadores, no que toca à falta de experiência (quando assim se verifique) e à língua. Ao ECO, a presidente-executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) diz que o setor está “completamente disponível” para receber ucranianos, mas salienta que, acima de tudo, o importante é acolhê-los.

“É evidente que há essa disponibilidade [empregar ucranianos] porque há oferta de emprego”, diz Cristina Siza Vieira, referindo-se à falta de mão-de-obra que tem preocupado o setor há vários meses, fruto das consequências da pandemia. “A nossa intenção é acolhê-los e estamos completamente disponíveis para esse efeito”, acrescenta a responsável, notando que “vão ser uma ajuda” ao setor.

A invasão russa à Ucrânia já levou à saída de mais de um milhão de ucranianos daquele país. Embora a maioria se esteja a refugiar nos países de leste, procuram refúgio por toda a Europa, incluindo Portugal. De acordo com a ministra da Administração Interna, no dia 3 de março — oitavo dia de guerra –, contavam-se 672 pedidos de proteção internacional de cidadãos ucranianos, mas o Governo já afirmava ter alojamento garantido para 1.245 pessoas.

A antecipar um número bastante superior de refugiados a virem para Portugal, o Governo criou uma plataforma onde as empresas portuguesas podem carregar oportunidades de emprego disponíveis. Esta quinta-feira, 3 de março, já se contavam 7.500 vagas de emprego, de acordo com dados adiantados ao ECO pelo Ministério do Trabalho. Há vagas em todo o país, a maioria nas áreas de tecnologias de informação, transportes (motoristas), restauração e hotelaria, setor social e construção civil, detalhou a mesma fonte.

A expectativa de uma procura crescente a partir da Páscoa e havendo escassez de trabalhadores, haverá uma maior disponibilidade em acomodar este refugiados.

Cristina Siza Vieira

CEO da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP)

E, tendo em conta que a AHP estimou no final de 2021 precisar de cerca de 15 mil trabalhadores, os cidadãos ucranianos poderão encontrar neste setor uma porta para o mundo do trabalho. “A expectativa de uma procura crescente a partir da Páscoa e havendo escassez de trabalhadores, haverá uma maior disponibilidade em acomodar estes refugiados“, diz Cristina Siza Vieira, ao ECO.

“Muitos não falam a nossa língua e não têm preparação”

A responsável pela AHP nota ainda que será necessário dar formação a estes refugiados, não só em termos de experiência na hotelaria, mas também nas questões relacionadas com a língua. “Muitos não falam a nossa língua e não têm preparação, mas estamos disponíveis para dar essa formação“, diz, explicando que esse era um trabalho que já estava a ser feito com outras nacionalidades, mesmo antes de a guerra começar.

Ainda não se imaginava que a Rússia fosse invadir a Ucrânia e já o setor hoteleiro estava a apostar na formação de trabalhadores estrangeiros, nomeadamente da Índia, Marrocos e Filipinas. “Já era um trabalho que se estava a fazer para colmatar essa necessidade”, diz Cristina Siza Vieira. E até com os países de leste. “A Ucrânia, tal como a Polónia, já eram países onde era fácil recrutar”, diz, explicando que “a formação era sempre necessária”.

Sobre as áreas onde os refugiados ucranianos se poderão inserir, a CEO da AHP nota que as necessidades “são a todos os níveis”, desde suporte nas áreas mais tecnológicas até às de operação, como limpezas, manutenção, copa e receção.

Mas, apesar desta disponibilidade, Cristina Siza Vieira sublinha que, “mais importante do que colmatar necessidades” no setor, o fundamental é acolher os cidadãos ucranianos “por razões humanitárias”. “A hotelaria está disponível para esse enquadramento sócio profissional, na medida em que isso faz parte do processo de integração”, mas “não é esse o objetivo”.

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