Nestlé aposta no café e em produtos vegan em Portugal

Desde opções de origem vegetal no café, alimentação infantil, e mesmo no peixe e marisco, a Nestlé olha para um milhão de portugueses veggies como um mercado com necessidade de oferta.

Depois de um ano marcado por uma recuperação pós-pandemia com o lançamento de 446 novos produtos, sendo que só os produtos lançados nos últimos 36 meses pesou 11% no total do negócio, a Nestlé confessa que estes novos produtos incidiram maioritariamente numa área específica. Cerca de 76% dos novos produtos destinaram-se aos segmentos Healthy, All Natural & Sustainable, Organic/Bio e Premium.

Este investimento particular revela a mais recente aposta da gigante alimentar naquilo que é uma nova entrada no portfolio da empresa: as opções plant-based (produtos de origem vegetal). No entanto, esta jogada manifesta-se de forma mais acentuada em dois negócios distintos, o do café, e na própria linha de produtos plant-based, Garden Gourmet.

Porquê entrar sequer na área das alternativas de origem vegetal? Para a Nestlé, a resposta assenta em números, nomeadamente na quantidade de veggies (vegetarianos, flexitarianos e vegans) em Portugal. Segundo avança a marca, Portugal tem cerca de um milhão de pessoas veggies, e destaca ainda a evolução dos flexitarianos (regime alimentar flexível onde é dada prioridade aos alimentos vegetais).

Andreia Vaz garante que os flexitarianos continuam a crescer consistentemente, ano após ano, representando neste momento 9,3% da população portuguesa, e sublinha que este ramo cresceu 27% nos últimos dois anos. Estes números refletem a necessidade de “ter oferta no mercado que permita às pessoas escolher opções diferentes, mais saudáveis e sustentáveis”, garante a diretora ibérica.

"Começamos a ver um equilíbrio nas preferências alimentares. Os vegans começam a decrescer, e começamos a ver os flexitarianos e os vegetarianos a aumentar. Isto significa que há uma democratização.”

Andreia Vaz

Diretora Ibérica de Innovation Beyond the Core

Visto o potencial de um mercado inexplorado, a Nestlé lançou opções plant-based em todas as categorias, desde “café, baby food, chocolates, preparados para sobremesas”, diz Vaz. A responsável confessa ainda que Portugal é um de quatro mercados a testar, neste momento, a Wunda, uma alternativa ao leite de origem vegetal. Neste campo, Portugal situa-se ao lado da Holanda, França e do Reino Unido.

Inovação no Café

O diretor-geral da Nestlé Portugal, Paolo Fagnoni, esclarece que Portugal tem “um negócio enorme, principalmente do café”, no que toca ao consumo fora do lar. A gigante alimentar tem ainda um departamento de inovação além do seu negócio principal, assente na inovação em áreas do mercado onde a marca ainda não opera, esclarece Andreia Vaz, diretora ibérica de Innovation Beyond the Core. Por estes motivos, o passo lógico seguinte foi aliar a inovação ao conceito das alternativas vegetais, o que se tem traduzido num sucesso para a Nestlé.

O segmento Premium, relacionado com a inovação no negócio do café, cresceu 12% em 2021 face ao ano anterior, avança Vaz. O crescimento do café em porção, ou cápsula, deveu-se à consolidação da oferta através da gama de cafés Nespresso, da portuguesa Buondi e das variedades Starbucks. A Nestlé destaca mesmo o lançamento dos Breakfast Blends Blond/Lugo, para o sistema Nespresso, mas as alternativas vegetais também tiveram destaque através dos lattes.

O sistema Nescafé Dolce Gusto beneficiou de novidades em 2021, nomeadamente três variedades de latte vegetais em cápsula: amêndoa, aveia e coco. Contudo, estas opções também estão disponíveis em saquetas solúveis, sendo o objetivo tornar estas opções acessíveis a todo o mercado. Em suma, a inovação contribui para um crescimento de 32,7% no segmento do café em cápsulas, um crescimento acima do mercado, garante Vaz.

Garden Gourmet

A linha Garden Gourmet representa uma categoria na qual a Nestlé só entrou em 2019. Em 2018, esta categoria era inexistente e valia pouco mais de um milhão de euros, adianta Andreia Vaz. No entanto, a categoria cresceu ano após ano, cerca de 66,8% desde 2019 até agora, mais precisamente. Se em 2019, com a entrada da Nestlé, esta categoria já valia 1,7 milhões de euros, em 2021 este valor quase atingiu os 5 milhões, assegura a diretora ibérica.

"O nosso portfólio plant-based continua a crescer ano após ano. Este ano temos um crescimento de 160% daquilo que são as nossas vendas internas para o mercado, e lançámos mais de 21 novos produtos dentro da inovação plant-based”

Andreia Vaz

Diretora Ibérica de Innovation Beyond the Core

Só em 2021 esta área cresceu 76% e Andreia Vaz diz mesmo que a Nestlé já é líder de categoria, tendo fechado o ano passado com uma quota de mercado de 33,8%. Contudo, em fevereiro de 2022 esta figura já subiu para os 34,4%. O constante lançamento de novas referências também contribui para o crescimento deste mercado, pelo que a “inovação pesa quase um terço daquilo que são as vendas Garden Gourmet”, admite Vaz.

Para 2022, a gigante alimentar também já tem um leque de alternativas ao peixe e ao marisco prontas a serem lançadas. Algumas destas novidades já chegaram às prateleiras, como é o caso da Vuna, uma alternativa vegetal ao atum lançada em março, mas existem ainda outras por vir, como é o caso do Vrimp, uma versão vegan de camarão e um substituto de ovos.

Na vanguarda das novas referências a inundarem o mercado está um programa de inovação e codesenvolvimento, resultante da parceria entre a Nestlé e a Nova SBE.

"Lançamos programas de open innovation (inovação aberta) e pedimos às start-ups para cocriarem connosco novas soluções que permitam entregar naquilo que são as necessidades dos consumidores, e cocriamos essas soluções em conjunto.”

Andreia Vaz

Diretora Ibérica de Innovation Beyond the Core

O programa de cocriação em destaque é o Start&Co, um programa de onde já saíram novidades como a Freeness, um snack sem 14 dos principais alergénios, o que dum ponto de vista de engenharia alimentar, Vaz garante ser bastante complexo. O objetivo deste programa dedicado à exploração de novas áreas e territórios, é o de democratizar o acesso à inovação, garante a responsável.

O Start&Co não é exclusivo a Portugal e está aberto a candidaturas do mundo inteiro. Desde 2017 até ao momento, o programa de inovação já obteve 240 candidaturas, e ao fim de três programas já conta com mais de 19 cocriações em parceria com 19 startups diferentes. Sob exploração ficam ainda mais 45 projetos, visto que o Beyond The Core “olha sempre 3 a 5 anos para o futuro”, acrescenta a Vaz. A edição de 2022 do Start&Co encontra-se com candidaturas abertas até ao final de abril.

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