Com PIB a saltar 5,8%, Portugal será o país que mais crescerá na UE em 2022, diz a Comissão Europeia
A Comissão Europeia reviu em alta a previsão para o crescimento económico de Portugal em 2022 para 5,8%, acima dos 5,5% que estimava em fevereiro, antes da invasão russa na Ucrânia.
A aceleração registada no início do ano levará a economia portuguesa a crescer mais do que o esperado. A Comissão Europeia reviu em alta a sua previsão para o crescimento do PIB português, passando de 5,5% em fevereiro para 5,8% agora. Esta estimativa fica acima dos 4,9% estimados pelo Governo e pelo Banco de Portugal, cuja previsão foi feita antes de se saber o comportamento do PIB no primeiro trimestre.
“Após o forte arranque do ano, projeta-se que o PIB de Portugal vá crescer 5,8% em 2022“, escrevem os peritos europeus nas previsões de primavera divulgadas esta segunda-feira, explicando que o setor dos serviços, particularmente o do turismo internacional, irá recuperar “intensamente” face à base baixa dos anos anteriores afetados pela pandemia. Esta revisão em alta acontece depois de o Instituto Nacional de Estatística (INE) ter revelado que o PIB cresceu 2,6% em cadeia no primeiro trimestre, superando todas as expectativas.
Apesar de ficar bastante acima das últimas previsões, nomeadamente a do Fundo Monetário Internacional (4%), a estimativa da Comissão Europeia tem implícita uma contração do PIB em cadeia nos próximos trimestres uma vez que, segundo as contas da Católica e do ECO, se a economia estagnasse ia crescer 6,4% no conjunto do ano.
A concretizarem-se as previsões do braço executivo da União Europeia, Portugal será o país da União Europeia que mais vai crescer este ano. Segue-se a Irlanda (5,4%), Malta (4,2%) e Espanha (4%). A média dos 27 Estados-membros da UE, assim como a média dos 19 Estados-membros da Zona Euro, crescerá 2,7% em 2022.
Na conferência de imprensa de apresentação das previsões, Paolo Gentiloni, comissário europeu da economia, atribuiu este nível de crescimento de Portugal à retoma mais lenta que o país registou em 2021, em comparação com outros países da União Europeia, e à forte recuperação do turismo internacional.
Para 2023, a previsão da Comissão Europeia é que a economia portuguesa desacelere para um crescimento de 2,7%. A procura interna deverá continuar a sustentar o crescimento nestes dois anos, com o investimento a crescer mais do que o consumo privado — ajudada pela redução da taxa de poupança de 10,9% para 7,7% — por causa da implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
A procura externa deverá dar um contributo líquido positivo em 2022, refletindo a retoma do turismo, mas será neutra em 2023. Contudo, as contas externas deverão deteriorar-se este ano por causa do elevado preço das importações (principalmente energia) e só deverão melhorar em 2023, com a Comissão a esperar uma “descida em parte” dos preços da energia no próximo ano.
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Ainda que Portugal se destaque pela positiva nestas previsões de primavera, os riscos para a economia portuguesa deterioram-se face a fevereiro por causa da invasão russa na Ucrânia. Estes riscos são “maioritariamente indiretos” — uma vez que Portugal tem uma exposição direta “baixa” –, através do preço das matérias-primas, da segurança das cadeias de valor e a incerteza sobre a procura externa.
A taxa de desemprego deverá baixar de 6,6% em 2021 para 5,7% em 2022, melhor do que a previsão do Governo (6%). A Comissão Europeia nota que o desemprego atingiu um mínimo de 20 anos ao chegar aos 5,6% em fevereiro, ao passo que a taxa de emprego atingiu um máximo histórico. “Contudo, as horas efetivamente trabalhadas mantêm-se bem abaixo do nível pré-pandémico”, alertam os peritos europeus, referindo que a recuperação do turismo internacional deverá ter um impacto “mais visível” nas horas trabalhadas do que no emprego, cujo ritmo de criação vai desacelerar.
Dívida abaixo dos 120% do PIB. Comissão valida défice de Medina
Nas contas públicas, a Comissão Europeia dá cobertura às previsões do Governo, cujo titular das finanças é agora Fernando Medina. Tal como prevê o Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), o défice orçamental deverá baixar de 2,8% do PIB em 2021 para 1,9% em 2022, antecipam os peritos europeus. Em 2023, poderá encolher para 1%.
A Comissão Europeia explica que a retirada das medidas temporárias relacionadas com a pandemia continuará a contribuir para a redução do défice, apesar dos potenciais “efeitos duradouros” nos consumos intermédios na saúde e nas despesas com pessoal. A travar a contenção orçamental estarão as medidas introduzidas para mitigar os elevados preços de energia.
Em relação à continuação da suspensão das regras orçamentais da UE, a Comissão Europeia irá propor um rumo aos Estados-membros na próxima semana. As regras foram suspensas em 2020 por causa do impacto da pandemia e iam ser reativadas em 2023, mas a invasão russa na Ucrânia veio colocar essa decisão em causa.
Com o PIB a crescer mais do que o que prevê o Governo, a Comissão antevê uma descida maior do rácio da dívida pública em percentagem do PIB: 119,9% do PIB, já abaixo dos 120%, o que compara com os 120,7% do PIB previstos pelo Executivo. Em 2023, poderá chegar a 115,3% do PIB, atingindo o nível pré-pandemia (116,6% do PIB em 2019).
Além do crescimento económico, a redução da dívida conta também com a contribuição do corte na almofada financeira, após valores historicamente elevados durante a pandemia.
Comissão vê inflação a acelerar mais do que o Governo
O Conselho das Finanças Públicas disse que a previsão do Governo para a taxa de inflação já deveria estar desatualizada e a Comissão Europeia vem agora confirmar: em vez dos 4% estimados pelo Executivo no OE2022, o IHPC (Índice Harmonizado dos Preços no Consumidor) deverá fixar-se nos 4,4% em 2022, desacelerando depois em 2023 para 1,9%, abaixo do objetivo de 2% do Banco Central Europeu. Apesar de ser elevada em termos históricos para Portugal, os 4,4% de 2022 correspondem à taxa mais baixa entre os 27 Estados-membros.
Estes valores comparam com a média da Zona Euro de 6,1% em 2022 e 2,7% em 2023. Na média da União Europeia a taxa de inflação deve fixar-se nos 6,8% este ano e 3,2% no próximo ano.
A expectativa da Comissão Europeia coincide com a do Governo: a inflação deverá ter um “pico” no segundo trimestre de 2021, desacelerando “gradualmente” a partir daí até ao final do ano. A inflação subjacente (“core”) de Portugal deverá situar-se nos 3,7% em 2022 e 2,2% em 2023.
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