Pandemia acelera no Norte. Região pode chegar aos 14 mil casos diários no final da semana
A pandemia está a acelerar em Portugal, mas a tendência de subida é "largamente superior" na região Norte. Projeções antecipam que esta região possa chegar aos 14 mil casos diários esta semana.
O número de casos de infeção por Covid-19 está a acelerar em Portugal, mas a tendência de subida é “largamente superior” na região Norte. Os especialistas estão a associar esta subida das infeções a nível nacional ao levantamento das restrições, bem como ao surgimento da variante B.A.5 da Ómicron e antecipam que a manter-se esta tendência a região Norte pode chegar aos 14 mil casos diários, em média, já no final desta semana.
“O Rt na região Norte está largamente superior às outras regiões. Os dados começaram a subir no início de abril e a questão das máscaras veio apenas acelerar um processo que já estava a ser iniciado na região Norte”, começa por sinalizar em declarações ao ECO Carlos Antunes, engenheiro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que faz as projeções da pandemia com base nos dados fornecidos pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Se no início da abril, a região Norte tinha, em média, dois mil casos de Covid por dia, atualmente “já vai acima dos sete mil casos”, tendo chegado já a registar cerca de 10 mil casos na semana passada. “Os dados estão a aumentar a uma taxa acima de 8%, o que significa que o número de casos está a duplicar a cada oito dias. Se este ritmo se mantiver, no final desta semana poderemos ter 14 mil casos em termos médios por dia na região Norte“, estima o especialista.
E essa tendência já está a ser refletida no número de internamentos, bem como nos óbitos associados ao SARS-CoV-2, ainda que os valores não sejam comparáveis aos registados durante a terceira vaga da pandemia. “No Norte, estamos com 494 camas [ocupadas] em enfermaria e mais 31 em unidades de cuidados intensivos (UCI)”, sinaliza Carlos Antunes, acrescentando que “tendência é crescente” e dado que “houve agora uma aceleração” é “provável que nesta semana possamos atingir na ordem das 600 camas de internamento no Norte”.
Quanto às UCI, já começaram a subir ligeiramente, sendo que a maioria dos utentes “são essencialmente dos 60 aos 79 anos”. Dos 31 pacientes internados nestas unidades na região Norte, 19 tinham entre 60 a 79 anos, o que representa cerca de 61% do total, aponta o especialista, com base nos números fornecidos pela DGS e sinalizando que “nas outras regiões, os UCI ainda estão estáveis ou a descer”, apesar de sublinhar que também está a observar-se um aumento de infeções noutras regiões, ainda que menos significativo do que no Norte.
No que toca à mortalidade associada à Covid, a região Norte está atualmente com cerca de 34% dos óbitos registados a nível nacional. “A média a nível nacional a média é de 21,8 óbitos por dia, em termos médios, e está a subir e no Norte”, afirma o especialista, adiantando que esta região está atualmente com uma “média de 7,5 óbitos por dia”, quando por exemplo na região de de Lisboa e Vale do Tejo e no Centro a média é de três óbitos por dia. “Em abril, [a região Norte] estava com quatro óbitos por dia e agora já é quase o dobro”.
Carlos Antunes não consegue antecipar uma justificação “plausível ou concreta” para explicar a razão pela qual os casos na região Norte terem começado a subir mais cedo do que as outras regiões, bem como “a um ritmo muito mais acelerado”, mas admite que “a prevalência da variante B.A.5 da Ómicron possa não ser homogénea”, ou seja, que possa ter maior prevalência no Norte. Além disso, o especialista não descarta também a questão social dado que “as pessoas passaram a conviver mais, a contactar mais, a abandonar mais o teletrabalho e houve mais festividades”. “Outra possibilidade pode ser a questão da imunidade, dado que as pessoas desta região podem começado a levar a terceira dose mais cedo, mas é um bocado difícil de provar”, sublinha.
Certo é que o aumento de infeções está a verificar-se na generalidade do país, tendo levado os especialistas do Instituto Superior Técnico a alertarem que uma sexta vaga da pandemia poderá estar a “desenhar-se de forma muito intensa”. Para Bernardo Gomes, era “expectável” que assim que fossem levantadas as restrições, nomeadamente no que toca à obrigatoriedade do uso de máscara na generalidade dos espaços públicos, que os “casos se multiplicassem rapidamente”.
Ao ECO, o médico de Saúde Pública e investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) diz que “foi cometido um erro na forma como foi feita a comunicação relativamente ao uso de máscaras, considerando que “se transformou a não obrigatoriedade de uso de máscara numa quase não recomendação“. “A não obrigatoriedade foi lida de forma excessiva. Aquilo que aconteceu foi transformar-se uma não obrigatoriedade num relaxamento total”, defende.
Não obstante, tanto Bernardo Gomes como Carlos Antunes descartam para já um regresso a medidas mais restritivas. “A aceitação social de regresso da obrigatoriedade de uso de máscara não é provavelmente a mais indicada para se estar a pensar nesta altura”, sinaliza Bernardo Gomes, acrescentando que é fundamental preparar “medidas de ventilação e dar recomendações baseadas em função da qualidade do ar interior”. “É irresponsável nesta altura não estar a falar em termos pandémicos na questão da qualidade do ar interior, na ventilação e no ajuste de comportamentos”, avisa.
Por outro lado, os dois especialistas defendem um regresso da comparticipação dos testes à Covid face o aumento de contágios e dado que o fim desta comparticipação “está a entupir outros serviços na procura destes testes”. “É uma medida que já devia ter sido feita e nem devia ter sido suspensa porque ao contrário dos outros países nós fomos dos países que começamos a fazer muito menos testes e isso foi o que fez disparar a positividade”, corrobora ainda Carlos Antunes.
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