Subida de juros também é “risco para o poder de compra” das famílias, alerta Medina

Não é só a inflação que ameaça o custo de vida dos portugueses. O "remédio" da subida das taxas de juro pode reduzir o poder de compra, sobretudo para as famílias com crédito à habitação.

Para o ministro das Finanças, não é só o acelerar da inflação que ameaça o custo de vida dos portugueses. A própria subida das taxas de juro ameaça reduzir o poder de compra das famílias, por aumentar o custo dos créditos, nomeadamente do crédito à habitação, deixando menos rendimento disponível. E Portugal é um dos países mais endividados do mundo, recordou.

Fernando Medina discursava num evento da Ordem dos Economistas, onde repetiu a narrativa da descida do endividamento da República. Apesar de “as regras orçamentais estarem suspensas” pela Comissão Europeia, a intenção do Governo é “não abrandar, mas acelerar” a descida da dívida e “tirar Portugal do ‘top’ dos países com maior dívida pública”, melhorando “de forma decisiva” as “condições de manutenção do poder de compra”.

O governante reconheceu que o “ritmo e forma” de subida dos juros pelo Banco Central Europeu (BCE) não está “nas mãos” do Executivo, mas disse que “a medida que melhor protegerá a capacidade de investimento” é cuidar “dos ganhos que conseguirmos obter nos juros que a república é obrigada a suportar”, porque “encadeia no sistema financeiro, empresas e famílias”, sempre ligados “a este indexante”.

"O ritmo e a forma [de subida dos juros pelo BCE] não está nas nossas mãos decidir. Mas a medida que melhor protegerá a capacidade de investimento é cuidarmos dos ganhos que conseguirmos obter nos juros que a república é obrigada a suportar, porque encadeia no sistema financeiro, nas empresas e nas famílias, sempre ligados a este indexante. Mesmo num ano em que as regras orçamentais estão suspensas, não vamos abrandar, mas acelerar [a redução da dívida pública].”

Fernando Medina

Ministro das Finanças

Medina alertou também que o “maior risco” é o BCE “apertar excessivamente as condições monetárias”, o que agravaria “o abrandamento económico” da Zona Euro. Nesse sentido, pede “subidas cautelosas” e uma política monetária adequada para “manter as expectativas de inflação ancoradas sem forçar a contração abrupta da economia”.

O eclodir da guerra na Europa mudou a geometria do globo. Medina disse acreditar que a invasão da Rússia à Ucrânia terá “consequências geopolíticas permanentes”, sobretudo ao nível energético e alimentar. “É possível e provável que observemos um recuo das tendências e globalização comercial”, afirmou, perante a plateia de economistas.

Neste contexto, o país “deve saber aproveitar as oportunidades de reindustrialização que se colocam”, apesar de reconhecer que “políticas protecionistas prejudicarão o crescimento global, as nossas famílias e as empresas”. Algumas vêm dos tempos mais duros da pandemia e têm surgido à medida que se avança na implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Além destas, e “dependendo das circunstâncias”, o Governo comprometeu-se com “políticas que valorizem a poupança, o reinvestimento de lucros e a recapitalização”. O Orçamento do Estado para 2022 traz ainda medidas de apoio aos mais vulneráveis, lembrou, incluindo a redução fiscal sobre os combustíveis, que já tirou 27 cêntimos ao preço por litro, reiterou.

O ministro das Finanças aproveitou também a ocasião para recordar a surpresa do crescimento de 2,6% no primeiro trimestre, face ao trimestre anterior, o maior da União Europeia, esperando-se que o país tenha o melhor desempenho ao nível da evolução do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. “Não é fruto do acaso”, rematou: “É o esforço das famílias e das empresas, do setor do turismo que está a recuperar depois de dois anos de provação, e do aproveitar as oportunidades que a conjuntura está a gerar.”

Esta semana, a Comissão Europeia reviu em alta a previsão de crescimento do PIB português para 5,8%, dos 5,5% que estimava em fevereiro, apesar do choque da guerra. Bruxelas está até mais otimista do que o próprio Governo, que espera um crescimento de 4,9%, apesar de esta previsão ter sido feita antes da divulgação das contas do primeiro trimestre.

(Notícia atualizada pela última vez às 11h54)

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