Siemens quer aumentar e sofisticar fornecedores em Portugal

Grupo alemão assume meta de ter 3.500 funcionários em Portugal até 2025 e “mais alternativas locais” no abastecimento, subindo a atual quota nacional de 70%. Exposição à Rússia não era “exorbitante”.

A Siemens Portugal garante ter mais de 970 fornecedores externos, dos quais 70% são empresas portuguesas. “A cadeia de valor é elástica, mas a matriz está cada vez mais sofisticada no tipo de fornecimento”, descreveu o presidente executivo.

Pedro Pires de Miranda assumiu que este número “tem subido, mas tem de subir ainda mais” nos próximos anos, apontando para a necessidade de esta filial da gigante alemã encontrar “mais alternativas locais” no abastecimento.

Em declarações aos jornalistas à margem da Hannover Messe — a maior feira mundial de tecnologias para a indústria, em que Portugal tem nesta edição o estatuto de país parceiro –, o gestor disse que a maior urgência nesse fornecimento de proximidade é “uma lição” da pandemia e da guerra na Ucrânia, e “uma forma de a empresa ser mais resiliente”.

Já no caso dos componentes ligados à eletrónica, com destaque para os semicondutores, a Siemens assume que “não tem alternativa” e continua “muito dependente do exterior”. “Temos sofrido bastante com o supply chain da eletrónica. Temos máquinas prontas que não podem sair por causa da falta de um chip, [o que] prejudica a exportação deste tipo de produtos. Não deixa fazer o scale up”, resumiu.

Pedro Pires de Miranda, CEO da Siemens Portugal, à conversa com João Breda, administrador da aveirense Bresimar Automação, que detém a Tekon Electronics, unidade de negócios especializada em tecnologia de sensores sem fios.Walter Branco

Já questionado sobre o abandono do mercado russo, em linha com a decisão tomada há algumas semanas pela casa-mãe, na Alemanha, Pedro Pires de Miranda começou por lembrar que também no caso português “todos os fornecimentos diretos ou indiretos para a Rússia foram logo cortados” no início do conflito.

Quanto à dimensão das perdas que terá de suportar, o executivo de topo respondeu apenas que “não era um valor exorbitante” de vendas para a Rússia, para onde fornecia “alguns produtos” da fábrica de Correios (sem concretizar quais), fazia “suporte de IT” (tecnologias de informação) e prestava serviços partilhados a partir de Portugal.

A operar há 116 anos em Portugal, a Siemens é a 10.ª empresa alemã com maior faturação em Portugal (e 11.ª exportadora) e a terceira maior empregadora de origem germânica no país. Contabiliza atualmente 3.150 funcionários, dos quais só 20% não tem formação superior e 15% são estrangeiros de 58 nacionalidades – a principal passou a ser a brasileira. Até 2025, a meta “perfeitamente atingível” e que até pode ser atingida “mais rapidamente” está nas 3.500 pessoas, com vagas para ocupar sobretudo nas equipas de desenvolvimento de software.

Engenharia portuguesa “navega” em portos e fábricas

Somando 1.400 clientes em 37 países, o líder da Siemens Portugal refere que “a força enquanto empresa está na exportação”, já que “no mercado nacional [está] a crescer de acordo com o crescimento económico português”. Do volume de negócios total de 260,7 milhões de euros no exercício terminado em setembro de 2021, 158,8 milhões foram faturados fora de Portugal. “A nossa aposta é na exportação de bens ou serviços de engenharia e dos projetos que temos em Portugal para outros países”, insistiu.

Ora, um dos próximos a ultrapassar as fronteiras deverá ser o projeto pioneiro, realizado em parceria com a portuguesa Introsys (instalada junto a Palmela), de um sistema de localização em tempo real de veículos autónomos para a Volkswagen Autoeuropa. Foi implementado em 2021 com o objetivo de “incrementar o fluxo e reduzir os estrangulamentos nas várias rotas”.

Luís Bastos, responsável pela área de indústria na Siemens Portugal, falou do “potencial de alargar este sistema a toda a fábrica e a outras, quer no automóvel quer noutras áreas que tenham necessidade de transportar peças dentro das fábricas”. Além do grupo Volkswagen e do ramo automóvel, o gestor falou no interesse já demonstrado por setores como o têxtil ou o vinho neste mesmo sistema desenvolvido pela estrutura portuguesa da Siemens.

Outros projetos que a Siemens está a mostrar até quinta-feira em Hannover são um sistema de gestão inteligente de resposta a inundações, energia e qualidade das águas balneares desenvolvido com a Águas do Algarve; a plataforma de produção modular adaptável a várias indústrias, com a Zeugma e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP); o armazenamento de energia e gestão de microrrede na ilha Terceira para a EDA – Eletricidade dos Açores; a parceria com a CaetanoBus para a eletrificação e descarbonização de autocarros; ou o projeto que acelera a recuperação de pacientes no Hospital da Luz, através de luzes humanizadoras.

A filial portuguesa da gigante alemã está também envolvida em dois centros de competências exportadores: um deles relacionado com soluções logísticas para armazéns automáticos: o outro hub especializado na modernização de portos, formalizado há cerca de cinco anos e com resultados para mostrar em Leixões e em países como Espanha, França, Inglaterra, Grécia, Dubai ou Egito. E numa fase em que estas infraestruturas estão congestionadas a nível global, podem render receitas adicionais à Siemens.

Na maior parte destes projetos está já a ser praticado o chamado “comissionamento remoto”, o que, destacou o presidente executivo, já foi experimentado no Dubai e irá “aumentar a competitividade de Portugal”, sobretudo numa era pós-pandemia, com maiores limitações nas viagens. Isto porque, para o arranque de uma operação, a empresa já não precisa de enviar os seus técnicos especializados para o local. “É cada vez mais uma tendência”, finalizou Pedro Pires de Miranda.

(O jornalista viajou para a Alemanha a convite da Siemens)

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