De budget em budget. Como a Valispace planeia atrair e reter talento
Com 42 colaboradores em Portugal, a empresa alemã deixa os colaboradores escolherem a partir de onde querem trabalhar e até em que horários. Além disso, implementou uma política baseada em budgets.
Os últimos dois anos foram para a Valispace, tal como para grande parte das empresas, um período de intensa aprendizagem, experiência e adaptação. Se antes da pandemia, embora já fosse aceitável, o trabalho remoto era a exceção, agora é a regra. Com 42 colaboradores em Portugal, a empresa alemã decidiu deixar ao critério dos funcionários o local a partir do qual desejam trabalhar e, em alguns casos, até mesmo em que horários. Além disso, esta companhia da indústria aeroespacial acaba de implementar uma política baseada em budgets.
Existe um “envelope” para os colaboradores que vivem fora de Lisboa irem ao escritório para vivenciar determinados momentos presenciais em equipa, que inclui alojamento e transporte. Bem como um budget por cada membro da equipa, que o líder dessa mesma equipa pode utilizar como entender. Há ainda outros previstos para home office e para formação.
“A nossa política mudou imensas vezes ao longo dos últimos dois anos”, começa por contar Maria Peres, head of operations & people da Valispace, à Pessoas. “A maior parte da equipa está a trabalhar remotamente. Mesmo estando em Lisboa, trabalha remotamente a partir de casa e no escritório. Apesar de sermos 42 pessoas no total, costumam estar entre 10 a 12 por dia. Deixamos essa escolha ao critério de cada um, sendo que percebemos que não ter nenhum contacto pessoal com a equipa também não era bom”, acrescenta.
Para encontrar um ponto de equilíbrio, a plataforma que ajuda engenheiros no desenvolvimento de satélites, foguetes ou robôs decidiu implementar uma política remote-friendly. “Não é remote-first”, esclarece a gestora. Além disso, criou aquilo a que chamou de boost weeks, isto é, semanas em que é expectável — e há um incentivo extra — que a equipa se reúna fisicamente em Lisboa para dias repletos de sessões de brainstorming ou workshops. Assim como momentos de team building, como um jantar em equipa, uma ida aos karts ou uma partida de ping-pong.
Quem vive em Lisboa não tem de ter apenas as condições certas para trabalhar no escritório. Pode também tê-las em casa.
“Temos as quatro semanas por ano já predefinidas, estão no calendário de toda a gente”, detalha Maria Peres. A próxima, que será a terceira deste ano, acontece em setembro. Para incentivar a ida dos colaboradores que estão fora de Lisboa e até do país — a Valispace tem duas pessoas a trabalhar remotamente a partir da Alemanha, uma a partir de Espanha e outra no Algarve –, alocou um orçamento que permite cobrir as despesas com o transporte e o alojamento.
“No fundo, serve para facilitar-lhes a vida e recompensá-los pelo seu esforço de irem a Lisboa. Pagamos tudo o que é custo associado com a sua vinda”, adianta a head of operations & people da Valispace. E acrescenta: “Eles ficam, normalmente, uma semana, mas, se quiserem, podem ficar mais tempo.”
Além destas quatro semanas, a empresa criou um outro budget que cobre as deslocações ao escritório, em Lisboa, sem que estejam relacionadas com as boost weeks. “Depois de auscultarmos as pessoas, percebemos que há quem, às vezes, queira vir [ao escritório] só porque sim. Especialmente as que estão fora de Lisboa. Para essas é, de facto, mais difícil, pois têm de acarretar com custos de avião ou de comboio, com o próprio alojamento… Então definimos o que que chamamos de ‘ad hoc trips to the office’: quatro semanas extra, aleatórias, em que o colaborador escolhe quando quer vir, até ao máximo de uma semana. E cobrimos tudo o que é despesas de deslocação e acomodação.”
Embora saliente que ainda não existe um valor de investimento definido para estes budgets, por serem políticas muito recentes, Maria Peres estima que o investimento se situe entre os 10 mil e os 20 mil euros. “Mas dependerá sempre da quantidade de colaboradores que precisam deste apoio e da frequência com que precisam”, recorda.
Sem esquecer os colaboradores que vivem em Lisboa, que são a maioria. A Valispace criou também uma verba específica que pretende apoiar essas despesas de deslocação até ao escritório. Além disso, há ainda um home office budget para toda a equipa, independentemente da localização geográfica de cada um. “Quem vive em Lisboa não tem de ter apenas as condições certas para trabalhar no escritório. Pode também tê-las em casa.”
Autonomia para decidir
O modelo de trabalho a que a Valispace chegou, fruto das várias interações das equipas de liderança e de people, é hoje mais flexível, considera Maria Peres. “Percebemos que as pessoas gostam de estar em casa, mas também gostam destes momentos de convívio e de aproximação, porque, a certa altura, o sentimento de isolamento pode ser muito forte”, enquadra.
Ao mesmo tempo, percebeu que “as pessoas também não gostam da obrigatoriedade de ter de ir ao escritório num dia específico, porque há uns que gostam de ir à quarta-feira e outros que preferem ir à quinta-feira”, detalha. “Fazê-las vir num dia específico em que não se sentem com vontade ou confortáveis, teria o efeito inverso. Queremos é que as pessoas queiram vir ao escritório por alguma razão, seja porque estão fartas de estar em casa e sabem que o escritório é um sítio confortável para trabalhar; ou porque vai haver um evento e querem fazer parte. Então decidimos ter uma política um bocadinho mais flexível, sendo que nada é obrigatório”.
Percebemos que as pessoas também não gostam da obrigatoriedade de ter de ir ao escritório num dia específico, porque há uns que gostam de ir à quarta-feira e outros que preferem ir à quinta-feira.
Sobre a flexibilidade de horário, Maria Peres diz que não existe um fixo na empresa. “Temos muitos colegas que, no seu calendário, têm sempre um out-of-office das 16h às 18h porque é a altura em que querem ir buscar os filhos à escola, estar com eles a fazer os trabalhos de casa, ir ao parque… Depois compensam esse tempo como querem. Desde que o trabalho apareça feito, eles é que gerem isso”, exemplifica.
Seguindo o mantra de que pessoas inteligentes esperam níveis de autonomia mais altos, a Valispace oferece atribui um papel fundamental aos team leads. Estes recebem um orçamento específico para gastar com cada membro da sua equipa, o team member budget.
“A ideia é que as pessoas se reaproximem. Pretendemos que este espaço que existiu durante a pandemia entre o team lead e o team member desapareça e dê lugar a uma cultura de confiança. Portanto, aqui entra um bocadinho de tudo. São os team leads que decidem como usar o valor. Podem ir só tomar um café, ir jogar ping-pong, ir aos trampolins ou simplesmente ir até ao parque, buscar uma bebidas e ficar ali a conversar. Pode ainda decidir se quer gastar esse valor individualmente, por cada membro, ou fazer alguma atividade conjunta com a equipa”, conclui.
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