Sustentabilidade é prioridade para as empresas, mas vertente social e de governança pedem mais ação

Para a PwC e a Accenture existe um esforço generalizado para serem adotados os critérios ESG. No entanto, há um caminho a percorrer, e falta de informação e regulação podem ser desafios.

A implementação de políticas de Ambiente, Social e de Governança (ESG, na sigla em inglês) é uma realidade no mercado português, e de acordo com as consultoras consultadas pelo ECO/Capital Verde. As empresas estão, cada vez mais, conscientes de que a integração destes pilares na sua estratégia de negócio ultrapassa a necessidade de cumprir requisitos legais ou de responder à exigência dos clientes. Estes são, atualmente, “um importante fator de sucesso num mercado global e fortemente competitivo”.

“Por força regulatória, dos consumidores, dos investidores e das visões estratégicas da gestão, assistimos a um despertar para a forma como as medidas ESG podem criar impacto positivo, contribuir para o desenvolvimento das organizações e aumentar os retornos”, revela a diretora de Negócios Sustentáveis da Accenture Portugal, Patrícia Faro Antunes, acrescentando que existem empresas portuguesas que já são um exemplo a nível global.

Grande parte dessa adesão foi motivada pelo decreto-Lei n.º 89/2017, que transpôs a diretiva europeia n.º 2014/95/EU, e que obriga as grandes empresas e entidades de interesse público a reportar informações não financeiras, explicam Cláudia Coelho e Maria Torres, ambas partners da PwC, “designadamente questões ambientais, sociais (…) e de governação, como corrupção, suborno e diversidade nos conselhos de administração”. Esta última vertente, da governança, “é o pilar tradicionalmente mais descurado” no seio empresarial português “e tende a ser ditado pela regulação”, aponta Patrícia Faro Antunes. Para a responsável, é preciso “aumentar a ambição do mercado” quando se fala de governança nas empresas. O mês passado, contudo, surgiu um novo incentivo à ação, quando o Parlamento Europeu aprovou um decreto que dita que, pelo menos, 40% dos administradores não-executivos devem ser mulheres.

A chamada Diretiva “Women on Boards” visa introduzir procedimentos de recrutamento transparentes nas empresas, de modo a que pelo menos 40% dos cargos de administração não-executiva ou 33% de todos os cargos de administração sejam ocupados por mulheres, de forma a colmatar a falta de representação.

Segundo os dados do executivo comunitário, apenas 30,6% dos membros das comissões executivas das empresas na União Europeia são mulheres, sendo que este valor varia entre Estados-membros. Portugal encontra-se ligeiramente acima da média europeia, com cerca de 31%.

Além disto, as metas a nível social, “com um particular foco na igualdade de género”, continuam a ser uma “preocupação cada vez mais comum”, acrescenta a diretora de Negócios Sustentáveis da Accenture Portugal, uma vez que “na grande maioria, o mercado ainda não conseguiu atingir este pilar da diversidade ou paridade na sua força de trabalho”, embora existam mais incentivos para contrariar essa tendência.

"Os riscos sociais, relacionados, entre outros, com (des)igualdades, bem-estar, saúde e segurança, relações de trabalho, a par dos riscos de governação, que abrangem as práticas de gestão, incluindo auditoria e controlo interno, corrupção e suborno, ditam o ritmo da implementação dos pilares ESG no quadro empresarial.”

Cláudia Coelho e Maria Torres, partners da PwC

Mês do Orgulho é oportunidade para as empresas

Em linha com as preocupações a nível do pilar social, surgem também as políticas de diversidade e inclusão, um tema que durante o Mês do Orgulho LGBTQIA+ (pride month em inglês), assinalado em junho, ganhou algum destaque entre as organizações, apontam ambas as consultoras.

Parece-nos clara a ligação entre uma estratégia fundada na diversidade e inclusão e os princípios de ESG”, referem as duas partners da PwC, sublinhando que uma equipa mais diversa “será sempre uma equipa com maior potencial de gerar ideias novas, diferentes e quem sabe, mais inovadoras”. Enquanto uma equipa mais inclusiva “será sempre promotora de um ambiente mais saudável e positivo, o que pode potenciar maior motivação e ligação com a empresa”.

As responsáveis sublinham, no entanto, que o esforço para serem promovidas práticas mais inclusivas e em prol da diversidade e bem-estar deve ser feito de forma sucessiva e regular, e não apenas pontualmente, para que os benefícios não fiquem limitados às organizações e tenham também impacto na comunidade.

“Mais do que promover o pride month [mês do orgulho], é necessário criar programas de diversidade e inclusão que sensibilizem, de forma agregada e integradora”, referem Cláudia Coelho e Marta Torres. “Não será certamente um momento ou uma ação que farão a diferença, será sim o acumular de momentos, ações e iniciativas, agregadas num plano integrado, que poderão ser um fator distintivo e de sucesso”, explicam.

Estas mudanças estruturais beneficiam toda a comunidade, incluindo as empresas. Não apenas do ponto de vista reputacional, mas também na perspetiva de valorização do talento e inclusão”, acrescenta Patrícia Faro Antunes da Accenture Portugal.

Falta de informação e regulação são os principais desafios

Embora a PWC reconheça os esforços que estão a ser feitos, ainda não é possível assegurar a integração dos temas ESG na estratégia e gestão operacional das empresas, “sobretudo as PME”, que “constituem a quase totalidade do tecido empresarial português”, frisando, por isso, que é necessário continuar a trabalhar. Entre os desafios que existem, há a falta de informação.

“A preparação de relatórios de sustentabilidade continua a implicar um esforço muito grande ao nível da recolha de informação”, explicam as partners da PWC, acrescentando que esse esforço acontece, “muitas vezes”, uma vez por ano e “que por isso não permite a sua integração nos processos regulares de monitorização de desempenho da organização, no longo do ano”.

Já a Accenture considera que “problema mais persistente deve-se à inexistência de regulação” que permita definir “um ponto de partida igual para todos”. “Apesar de, na maioria dos casos, a sustentabilidade se traduzir em poupanças a longo prazo, é difícil tomar decisões de investimento a curto prazo e assumir um maior risco”, diz, referindo que atualmente produzir de forma mais sustentável ainda pode ser mais caro, o que pode deixar uma empresa em desvantagem em relação à concorrência e constitui entraves à adoção de medidas mais ambiciosas.

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