Trabalho noturno afeta (mesmo) o sono e os efeitos fazem-se sentir durante anos, aponta estudo

Cerca de 20% dos trabalhadores noturnos não conseguiam ajustar o ritmo circadiano no seu tempo livre, aponta estudo junto a pessoal que trabalha em hospital.

A qualidade do sono e o ritmo circadiano dos trabalhadores noturnos é menor do que daqueles que trabalham durante o dia e os efeitos fazem-se sentir anos depois de terem deixado de trabalhar nesse período horário, concluiu um estudo da University of Warwick, no Reino Unido, em parceria com investigadores da Université Paris-Saclay, Inserm e Assistance Publique-Hôpitaux de Paris (França), publicado no eBioMedicine, jornal do grupo Lancet.

“Há uma assunção de que se trabalha no período noturno, em alguma fase o trabalhador se irá ajustar. Mas não é assim. Vimos que a maioria dos trabalhadores compensa em termos de quantidade de horas de sono, mas não em termos de qualidade durante o período de trabalho”, diz Bärbel Finkenstädt, do Departamento de Estatística da University of Warwick, citado em comunicado.

O estudo monitorizou dois grupos de trabalhadores franceses durante os seus turnos de dia e de noite no hospital, bem como no seu período de lazer e determinou que “não só o trabalho noturno perturbou a sua qualidade de sono como o seu ritmo circadiano, como os trabalhadores apresentam essa perturbação mesmo anos depois de terem deixado de trabalhar nos turnos noturnos”. Considerado uma espécie de relógio biológico, o ritmo circadiano controla o estado de alerta, o sono, a produção hormonal, a temperatura corporal e a função dos órgãos.

O estudo analisou 63 trabalhadores noturnos – que trabalham três ou mais noites, cada uma mais de 10 horas, por semana – e 77 trabalhadores que alternam turnos matinais ou de tarde do hospital universitário, Paul Brousse Hospital em Villejuif, perto de Paris.

A análise dos dados revelou que os trabalhadores noturnos tinham menos de metade da qualidade e regularidade média do sono dos trabalhadores do turno do dia, com 48% a registar interrupções do ritmo da temperatura circadiana. E muitos dos colaboradores não trabalhavam de acordo com o seu relógio interno, isto é, se eram mais matinais ou noturnos.

Anos depois o impacto de trabalhar à noite ainda se fazia sentir: quantos mais anos a trabalhar em horário noturno pior a perturbação no ritmo circadiano. Investigações anteriores apontam perturbações no ritmo circadiano a perigos para a saúde, incluindo cancro, doenças cardiovasculares e doenças infecciosas.

“Cerca de 20% dos trabalhadores noturnos não conseguiam ajustar o seu ritmo circadiano no seu tempo livre“, alerta o Professor Francis Lévi, da Université Paris-Saclay, citado em comunicado.

“Não podemos evitar o trabalho noturno para muitas profissões, como trabalhadores da área da saúde, por isso devemos pensar no que pode ser feito em termos de ajustamentos para melhorar as condições e os horários dos trabalhadores por turnos. Um melhor conhecimento dos mecanismos biológicos pode ajudar a encontrar respostas a esta questão”, diz Julia Brettschneider, do Departamento de Estatística da University of Warwick.

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