Prestação da casa dispara até 200 euros em outubro

Governo está a avaliar com bancos e regulador “se e quando” tomará medidas para apoiar quem tem crédito da casa. "Sem sobressaltos", diz Costa. Prestação vai subir até 200 euros, faça a sua simulação.

Outubro traz más notícias para quem tem crédito da casa e vai ver as condições do contrato revistas. A prestação da casa vai subir, e muito, no próximo mês, com os aumentos a atingirem os 200 euros, de acordo com as simulações do ECO. Face à subida agressiva das taxas de juro, o Governo diz estar a avaliar com os bancos e o regulador “se e quando” devem ser tomadas medidas para apoiar quem está a sentir o aperto no empréstimo da habitação. Há quem já tenha manifestado reservas.

Tomemos como exemplo um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, com um spread (margem comercial do banco) de 1%, se o contrato tem como indexante:

  • Euribor a 3 meses: a prestação que vai pagar nos próximos três meses irá subir para 554 euros, mais de 69 euros (+14,36%) em relação à prestação que pagava desde julho;
  • Euribor a 6 meses: a prestação que vai pagar nos próximos seis meses irá subir para perto dos 600 euros, um aumento de cerca de 138,68 euros (+30%) em relação à prestação que pagava desde abril;
  • Euribor a 12 meses: a prestação que vai pagar nos próximos 12 meses irá subir para 650 euros, mais 200 euros (45%) em relação à prestação que pagou no último ano.

O agravamento da prestação da casa reflete a subida dramática das taxas Euribor nos últimos meses, à boleia do aperto monetário do Banco Central Europeu (BCE) para domar as pressões inflacionistas. A inflação atingiu os 9,1% em agosto e o Eurostat divulga esta sexta-feira a estimativa rápida para o mês de setembro. Não se espera que a escalada dos preços tenha abrandado, tendo em conta que muitos responsáveis do banco central já vieram a público pedir subidas de 75 pontos nas taxas diretoras na próxima reunião.

Em Portugal, mais de 1,3 milhões de contratos da casa têm taxa variável, correspondendo a 93% do mercado, e são estes que estão expostos às variações das Euribor.

As famílias que já estão a pagar mais pelas compras do dia-a-dia, como combustíveis e compras do supermercado, deparam-se agora com outro fator de pressão nos seus orçamentos: a subida dos encargos com a casa. Face a este cenário de aperto, António Costa adiantou esta quinta-feira no Parlamento que o Governo está a avaliar com os bancos e o regulador “se e quando devem ser tomadas medidas” de apoio para quem tem crédito da casa.

“O Governo acompanha o que está a acontecer. Temos dados da distribuição das prestações mensais pagas pelo conjunto da população que tem empréstimos da casa e estamos a dialogar com a associação do setor e regulador”, disse o primeiro-ministro.

Euribor aceleram este ano

Fonte: Reuters

Costa sem “sobressaltos”, Centeno com reservas

Importa ter em conta que o impacto das taxas de juro vai ser maior ou menor consoante o valor do capital que ainda está em dívida. Ou seja, se acabou de pedir crédito ao banco, impacto vai ser maior; nos créditos mais antigos – com menos capital em dívida – o impacto vai ser menor.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelavam que o capital médio em dívida para a totalidade dos contratos era de 60.750 euros. Ou seja, em termos médios, o efeito da subida das Euribor vai ser mais baixo do que aquele que mostra a simulação do ECO – que tem em consideração um empréstimo de 150 mil euros.

Esta semana, o governador do Banco de Portugal revelou dados mais finos sobre a distribuição da prestação mensal do crédito da casa para mostrar reservas quanto à necessidade de se avançar com uma política transversal e temporária de apoios para quem está a pagar o empréstimo da habitação ao banco.

Entre outros dados, Mário Centeno revelou que:

  • a prestação média situa-se hoje nos 276 euros, menos 87 euros do que em 2009;
  • 10% das prestações da casa são de valor inferior a 106 euros e que, tendo em conta as perspetivas de evolução da Euribor até julho de 2023, vão ter um agravamento de apenas quatro euros;
  • apenas 10% têm prestações acima dos 470 euros, as quais vão sofrer mais com a subida dos juros.

Conferência "O Impacto da Nova Ordem Mundial na Economia Europeia" no CCB - 27SET22

O governador do Banco de Portugal forneceu ainda outras informações de contexto que dão conta de um maior grau de proteção das famílias em 2022 em relação a 2009, quando as Euribor estiveram em níveis ainda mais elevados do que atualmente: por exemplo, o rendimento disponível aumentou na última década e a dívida dos particulares caiu 15 mil milhões de euros.

Por outro lado, ainda que se perspetive um arrefecimento da economia, as famílias continuam a beneficiar de condições positivas do mercado de trabalho, que permitem manter os rendimentos. “Não me espantaria que os salários daqueles que mantém os empregos, ou daqueles que conseguiram novos empregos no último ano, estejam a crescer 7%, 8%, 11%. Nenhum destes valores implica uma perda real de salários”, assinalou Mário Centeno na conferência “O impacto da nova ordem mundial na economia europeia”.

Tudo isto acontece num quadro de normalização da política monetária do BCE, que vai prosseguir o seu caminho até estabilizar numa taxa de juro “neutral”. Isto levanta a questão da temporalidade dos apoios: quando é que seriam retirados, se vamos viver um período “normal” de taxas mais altas?

“É preciso olhar para esta realidade para avaliar o que fazer, a urgência do que temos para fazer e onde estamos verdadeiramente nesta resposta”, disse Centeno, repetindo uma mensagem que os bancos centrais têm transmitido aos governos: “A política orçamental deve ser temporária, focada e atempada”. Já António Costa disse esta quinta-feira que não há razão para “sobressaltos” em relação a este tema.

Faça aqui a sua simulação

Tenho um crédito à habitação no valor de euros, contratualizado por um prazo de anos, indexado à Euribor a 12 meses (que há um ano estava nos % ), com um spread de %. A prestação da casa que pago atualmente é de 308 euros, mas caso a Euribor a 12 meses passe para %, a prestação passa para 432 euros. (Mude os campos sublinhados para descobrir os números mais próximos da sua previsão.)

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