Denunciante acusa Uber de gastar “milhões” para influenciar nova lei laboral das plataformas na UE

Denunciante que expôs os "Uber Files" no passado verão veio à Web Summit para acusar os lobistas da empresa de tentarem influenciar a nova legislação europeia do trabalho nas plataformas.

Mark MacGann ganhou notoriedade este verão por ter exposto os “Uber Files”Hugo Amaral/ECO

A Uber está a gastar “dezenas de milhões de dólares a combater legislação que garante decência humana básica aos trabalhadores das plataformas”, acusou Mark MacGann esta quarta-feira, o ex-responsável da Uber que, este verão, expôs mais de 124 mil documentos internos denunciando práticas duvidosas da empresa entre 2013 e 2017.

Em meados de julho, o jornal britânico The Guardian noticiou que a “Uber violou leis, enganou a polícia” e influenciou governos em todo o mundo para acelerar o seu próprio crescimento nos primeiros anos da empresa, sob a liderança do ex-CEO e fundador, Travis Kalanick. MacGann, o denunciante responsável pelos “Uber Files”, participou esta quarta-feira na Web Summit, em Lisboa.

Na altura, a Uber respondeu às acusações apontando para um virar de página desde que Dara Khosrowshahi assumiu o comando executivo da empresa em 2017, após uma maré de escândalos envolvendo a anterior gestão. Mark MacGann diz querer “acreditar que a empresa mudou” desde então, mas admitiu-se desiludido com aquilo que diz ainda ser o lóbi da Uber para impedir que os motoristas tenham direitos laborais mais adequados.

Segundo MacGann, a Uber e outras plataformas similares estão a tentar influenciar a regulamentação que está a ser preparada no seio da União Europeia para os trabalhadores destas empresas. Em dezembro de 2021, a Comissão Europeia propôs cinco critérios para determinar se estes trabalhadores podem ser considerados funcionários da própria plataforma, beneficiando dos direitos previstos nesse tipo de vínculo laboral. O processo legislativo está em curso e a Uber tê-lo-á debaixo de olho, de acordo com MacGann.

Os documentos revelados por MacGann também mostraram que Portugal esteve entre os países em que a Uber usou a violência de taxistas contra motoristas da Uber para promover a imagem da empresa e conseguir cedências. Numa conferência de imprensa na Web Summit, instado pelo ECO a destacar alguma prática concreta usada pela Uber em Portugal, o denunciante respondeu que “as coisas não eram tão loucas aqui em Portugal” naquela altura.

“[Em Portugal], não tínhamos o acesso espetacular ao poder que tínhamos na maioria dos países europeus. Não tínhamos o mesmo nível de violência e oposição. Não era tão difícil como noutros países na Península Ibérica e no Sul da Europa”, garantiu o denunciante da Uber. “Não há nada de maior importância ou preocupação” sobre o mercado português, assegurou o ex-responsável da empresa.

Este verão, numa resposta ao The Guardian na sequência das denúncias, Jill Hazelbaker, senior vice-president of public affairs da tecnológica, admitiu que foram cometidos “erros” no período anterior a 2017. No entanto, defendeu que o atual CEO “reescreveu os valores da empresa, remodelou a equipa de liderança, fez da segurança a prioridade de topo da companhia, implementou a melhor governação corporativa, contratou um chairman independente e instalou controlos rigorosos e o compliance necessário” para a Uber operar enquanto empresa com capital na bolsa.

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