Ucrânia junta Rússia aos países ricos na lista de responsáveis pelo desastre climático

Rússia deveria ser responsabilizada pelos danos climáticos decorrentes da invasão à Ucrânia, defendeu esta quinta-feira o presidente do país invadido. África aproveitou para exigir apoios.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky defendeu, numa comunicação por vídeo perante os líderes presentes na 27.ª Conferência das Partes (COP27), que a Rússia deveria ser responsabilizada pelos danos climáticos decorrentes da invasão à Ucrânia.

Como é que alguém pode causar danos insanos adicionais na natureza na sequência de ambições militares de invadir? Tais ambições merecem castigo”, afirmou o líder ucraniano, citado pela Bloomberg.

Como danos ambientais da guerra, Zelensky contabiliza a produção de armas e veículos militares que se movem com recurso a combustíveis fósseis, mísseis que causam disrupções na geração de eletricidade e a decisão da Rússia de cortar o fornecimento de gás à Europa, promovendo a corrida a combustíveis fósseis mais poluentes.

Em paralelo, esta quinta-feira o grupo de investigação colaborativo Climate Action Tracker (CAT) publicou um estudo com a seguinte conclusão: os esforços dos países que estão a expandir a produção de gás e a capacidade de importação deste combustível, em resposta aos cortes do fornecimento russo, podem fazer com que as emissões globais “ultrapassem níveis perigosos”, explicou um dos responsáveis pelo relatório, Bill Hare.

Os novos projetos podem ser responsáveis por gastar 10% da “carteira de carbono” que resta a nível global, ou seja, a quantidade, em termos acumulados, que pode ser emitida sem prejudicar o objetivo de que a temperatura no planeta não aumente para lá do limiar do 1,5º centígrados. A Agência Internacional de Energia afirma que não devem ser abetos novos projetos de petróleo e gás se não se quer ultrapassar este limite. Nos cálculos do CAT, os objetivos avançados atualmente pelos países para cortar as emissões até ao fim da década colocam o mundo a caminho de um aquecimento de 2,4ºC.

África bate o pé quanto aos apoios e aos combustíveis fósseis

As declarações do presidente ucraniano são proferidas também numa altura em que o apoio dos países mais ricos aos mais pobres tem estado no centro do debate da COP27. Os países mais ricos têm o compromisso de financiar com 100 mil milhões de dólares, anualmente, investimentos na área do clima que ajudem os países mais pobres a mitigar os efeitos das alterações climáticas e a adaptarem-se aos mesmos. Este desígnio não está a ser cumprido e é considerado muito insuficiente no mais recente balanço das Nações Unidas, que aponta para necessidades na ordem dos 340 mil milhões.

Numa entrevista publicada esta quinta-feira, o presidente do Senegal, Macky Sall, que está agora como presidente da União Africana – a qual representa países deste continente – queixou-se que “têm existido esforços” mas que estão “abaixo das expectativas” deste grupo. Neste sentido, espera juntar-se à reunião dos G20 – o grupo das 20 maiores economias do mundo – e que nesse fórum possa discutir os devidos apoios “regularmente” com os restantes países.

As nações que formam o G20 são responsáveis por 80% das emissões poluentes a nível global, enquanto que o continente africano emite menos de 4% do total, indica a agência noticiosa.

À Reuters, o Banco Económico Mundial indicou que está pronto para aumentar as ações de financiamento para dar resposta às necessidades criadas nos países mais pobres como consequência das alterações climáticas, mas que necessita que os países doadores, mais ricos, cedam novos fundos.

No entanto, uma questão oposta foi levantada pelas nações africanas: estas defendem que lhes deve ser permitido desenvolver o setor dos combustíveis fósseis na ótica de poderem retirar a população da situação de pobreza que grande parte enfrenta. “Há muitas empresas de petróleo e gás presentes na COP porque África quer enviar a mensagem de que vamos desenvolver todos os nossos recursos energéticos para o benefício da nossa população, pois o nosso problema é a pobreza energética”, indicou um comissário da Namíbia com a pasta do petróleo, Maggy Shino, que trabalha no ministério das Minas e Energia, segundo a Reuters.

A ONG Global Witness revelou esta quinta que cerca de 636 lobistas participaram ou vão participar nesta COP27 – um aumento de 25% relativamente à COP26, informa ainda a Zero, como destaque negativo deste sexto dia de cimeira do clima. Numa nota mais positiva, aponta o anúncio de que os Estados Unidos irão investir mil milhões de euros em projetos de resiliência dos oceanos.

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