Lojas tentam “desembrulhar” milhares de trabalhadores para o Natal

Retalhistas como a Fnac, Worten ou El Corte Inglés admitem dificuldade adicional em encontrar trabalhadores temporários para a época festiva, que é também de azáfama para as empresas de recrutamento.

Depois de dois Natais vividos com as restrições da pandemia, com os consumidores a recearam os contactos e as próprias lojas a funcionarem com várias limitações, as empresas retalhistas estão a preparar o reforço das equipas para o próximo período festivo – que em alguns casos arranca já este mês com a Black Friday –, reconhecendo ao ECO as dificuldades que estão a enfrentar para recrutar estes milhares de trabalhadores temporários para as lojas ou armazéns.

É o caso do El Corte Inglés, que para o período do Natal, que “representa um volume de negócio muito significativo” para a empresa, prevê contratar cerca de 500 pessoas a nível nacional, maioritariamente para funções de venda, mas também para outras de apoio, como o serviço ao cliente (presencial e online) ou o armazém. As primeiras contratações foram feitas ainda em outubro e vão decorrer até ao início de dezembro, com os colaboradores contratados para esta altura do ano a passarem igualmente por um período de formação inicial.

“Não negamos que os níveis de desemprego têm trazido desafios acrescidos ao processo de recrutamento e seleção, que estão a ser sentidos um pouco em todos os setores, mas, nesta altura, por razões óbvias, sobretudo no comércio e distribuição. É inevitável que o processo seja mais exigente, acentuando-se também o volume de candidaturas em gestão. Registámos um aumento de 50% na captação de candidatos, e diminuímos em 30% a conversão, ou seja, [precisamos] de entrevistar mais de quatro candidatos para escolher um. Com tudo o que isso implica, se pensarmos que o volume de candidaturas ronda nesta época os 1.500 currículos por mês”, relata o grupo de origem espanhola.

Não negamos que os níveis de desemprego têm trazido desafios acrescidos ao processo de recrutamento e seleção. Registámos um aumento de 50% na captação de candidatos, e diminuímos em 30% a conversão, ou seja, precisamos de entrevistar mais de quatro candidatos para escolher um.

El Corte Inglés

Fonte oficial

Para conseguir “dar resposta a todos estes desafios sem grandes sobressaltos”, fonte oficial do El Corte Inglés diz ao ECO que tem usado “metodologias de recrutamento mais orientadas para avaliar o perfil do candidato” que chega nesta altura do ano, e recorrido a “dinâmicas de formação cada vez mais assentes na experiência prática e com valor acrescentado”. Por outro lado, destaca a “inesgotável disponibilidade de todas as nossas pessoas para acolher os novos colaboradores, em meses particularmente intensos”.

Nuno Pardalejo, diretor de exploração da Fnac, admite igualmente que, apesar da “força e características diferenciadoras” da marca auxiliarem o recrutamento, de facto, nota este ano “alguma dificuldade adicional no âmbito do recrutamento”. Um feito que indica que tem conseguido reduzir com um “planeamento de recursos humanos bastante antecipado” e com recurso a soluções inovadoras, como a ação “Recomendas um Amigo”, direcionado para trabalhar ali neste período de Natal, “havendo a possibilidade de permanecer na empresa depois desta época”.

Nuno Pardalejo, diretor de exploração da Fnac

Para este Natal, período que vale habitualmente 30% das vendas totais do ano, a cadeia francesa de artigos de cultura, tecnologia e lazer vai reforçar as equipas em Portugal com cerca de 300 pessoas. São “significativamente mais, comparando com anos anteriores, tendo sobretudo em conta as expectativas que temos para a época natalícia de 2022”. Grande parte será alocada no serviço ao cliente, em particular para a operação nas caixas de pagamento; e outra ficará no atendimento específico aos Aderentes, “que nestes períodos acorrem massivamente” às mais de três dezenas de lojas espalhadas pelo país.

Na eletrónica de consumo, “atendendo às previsões de aumento de vendas” nesta altura, a MediaMarkt volta este ano a reforçar o staff, com o diretor regional para o mercado português, Miguel Sousa, a traçar o perfil para os colaboradores de loja: “Procuramos profissionais dinâmicos, com conhecimentos de tecnologia e excelente capacidade de atendimento ao cliente”. Com perto de 200 lojas físicas por todo o país, a concorrente Worten quer “pessoas com forte orientação para a satisfação dos clientes”, focadas em resultados e que gostem de trabalhar em equipa e de tecnologia, além de terem disponibilidade horária, nomeadamente aos fins de semana.

Iniciámos este recrutamento na segunda quinzena de outubro. (…) Sendo uma altura em que muitas empresas reforçam os seus quadros, é natural haver algum desafio na celeridade. Estamos ainda em processo de reforço das nossas equipas.

Worten

Fonte oficial

Sem revelar o número específico, a empresa do grupo Sonae fala ao ECO em “centenas de contratações”, maioritariamente para as lojas (vendedores) e entreposto logístico, para corresponder ao maior fluxo de clientes. E iniciou esse processo de recrutamento logo na segunda quinzena de outubro “para garantir que [tem] as pessoas necessárias para os picos de vendas associados às campanhas Black Friday e Natal”. “Sendo uma altura em que muitas empresas reforçam os seus quadros, é natural haver algum desafio na celeridade do processo. Estamos ainda em processo de reforço das nossas equipas”, acrescenta fonte oficial.

Com perto de 200 lojas físicas, a Worten (grupo Sonae) está a fazer “centenas de contratações” para esta época alta de vendas.

Quem começou também cedo a procurar reforços para o quadro de funcionários, em preparação para a Black Friday e para o Natal, foi a Parfois, num processo seletivo 100% online e com todas as vagas para período integral. No total, a conhecida empresa portuguesa de acessórios de moda abriu um total de 250 vagas para integrar os seus armazéns de Canelas (Vila Nova de Gaia) e Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro.

Porém, há grupos retalhistas que optam por outra estratégia para responder ao pico de procura nesta altura do ano. É o caso da GMS Store, cujos vendedores têm de ter formação e conhecimentos específicos da Apple, marca com que trabalha. “Não queremos sacrificar o nosso ADN de retalhista especialista Apple (…). No entanto, as nossas equipas têm horários reforçados, não têm férias neste período e têm todo o gosto em estar em loja e viver o Black Friday com os clientes, como período festivo do retalho que é, iniciando o Natal para nós”, resume o CEO, André Marques da Silva.

E depois há o caso da Via Outlets, dona do Freeport e do Vila do Conde Outlet, que criou um espaço de descanso e lazer onde os colaboradores das lojas parceiras vão poder usufruir de massagens, snacks e jogos. A diretora de marketing, Catarina Tomás, contextualiza que esta é uma altura de maior afluência aos centros e em que as equipas “trabalham de forma árdua e com um esforço adicional”, compensado desta forma este esforço com “momentos de distração, descanso e lazer, para que as equipas possam recarregar energias”.

Azáfama contagia as empresas de recursos humanos

Já do lado das empresas de recrutamento com área de trabalho temporário, esta é igualmente uma altura de maior azáfama. Cláudia Ferreira, diretora de vendas e operações de Inhouse na Randstad Portugal, descreve ao ECO uma maior pressão nas áreas da logística e da distribuição, sobretudo para a frente de loja, picking, embalamento e preparação de encomendas; e um “pico” na indústria mais focada em produção e nas áreas digitais associadas à gestão de e-commerce, como serviços de apoio ao cliente em chamada, chat, social media e website.

É verdade que a escassez de talento é um desafio geral que todos as áreas e setores vivem, e não é diferente para os setores com picos de produtividade associados ao final do ano.

Cláudia Ferreira

Diretora de vendas e operações de Inhouse na Randstad Portugal

A responsável da Randstad, que abriu mais de mil vagas para esta quadra, reconhece que “é verdade que a escassez de talento é um desafio geral que todas as áreas e setores vivem – e não é diferente para os setores com picos de produtividade associados ao final do ano”. Ainda assim, salienta que “é possível responder a estes momentos e colocar pessoas orientadas para estas áreas, seja logística ou apoio ao cliente, pois as empresas estão cada vez mais a ter em conta o que os colaboradores mais valorizam e a trabalhar as suas estratégias de atração nesse sentido”.

No caso da Multipessoal, o aumento do recurso ao trabalho temporário é evidente em funções como “operadores de embrulhos”, de armazém e assistentes de apoio ao cliente, sendo a área da cosmética e perfumaria apontada como uma das que apresenta maiores necessidades de recrutamento na época festiva. Salete Carvalho, staffing director, refere ao ECO que “a escassez de recursos no mercado de trabalho continua a ser uma realidade e representa um desafio para as empresas, particularmente, nesta época de acréscimo de atividade sazonal”.

Salete Carvalho, staffing director da Multipessoal

Para fazer face a este desafio, a Multipessoal frisa que tem tentado inovar os processos e serviços que oferece, com Salete Carvalho a destacar o lançamento do Clan, que apresenta como uma solução de emprego 100% digital para todos os candidatos e colaboradores. “Conseguimos agilizar e otimizar os processos de recrutamento, que acontecem de forma totalmente online, o que nos permite aumentar a capacidade de resposta, assegurando que estamos prontos quando e onde somos precisos”, conclui.

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