14 milhões de postos de trabalho vão desaparecer nos próximos cinco anos, segundo WEF

A tecnologia e a digitalização são, simultaneamente, o motor da criação e da destruição do emprego.

Até 2027 estima-se que sejam criados 69 milhões de postos de trabalho e eliminados 83 milhões, o que resultará numa diminuição líquida de 2% do emprego atual. Ou seja, 14 milhões de postos de trabalho desaparecerão nos próximos cerca de cinco anos, de acordo com os dados do mais recente inquérito “Future of Jobs” elaborado pelo World Economic Forum (WEF).

As macrotendências, incluindo a transição verde, os padrões ESG e a localização das cadeias de abastecimento, são os principais impulsionadores do crescimento do emprego, sendo que os desafios económicos, incluindo a subida da inflação, representam a maior ameaça. A tecnologia e a digitalização são, simultaneamente, o motor da criação e da destruição do emprego.

“Para as pessoas de todo o mundo, os últimos três anos foram repletos de perturbações e incertezas nas suas vidas, com a Covid-19. As mudanças geopolíticas e económicas e o rápido avança da IA [Inteligência Artificial] e de outras tecnologias correm agora o risco de aumentar a incerteza”, defendeu Saadia Zahidi, managing director do World Economic Forum, no relatório que deu origem à conferência do Fórum Económico Mundial dedicada ao crescimento e emprego, que decorreu de 2 a 3 de maio, na Suíça.

“A boa notícia é que existe um caminho claro para garantir a resiliência. Os Governos e as empresas devem investir no apoio à mudança para os empregos do futuro através da educação, da requalificação e das estruturas de apoio social que podem garantir que os indivíduos estejam no centro do futuro do trabalho”, continuou.

Perfis relacionados com a área da sustentabilidade e ambiente, os chamados ‘green jobs’, também merecem destaque. Funções mais generalistas de sustentabilidade, como especialistas em sustentabilidade e profissionais de proteção ambiental, deverão crescer 33% e 34%, respetivamente, traduzindo-se num crescimento de aproximadamente um milhão de empregos.

A procura por analistas e cientistas de dados, especialistas em machine learning e peritos em cibersegurança também deverá aumentar, na ordem dos 30% até 2027, detalha o WEF no relatório. Espera-se que as empresas precisem fortemente destes trabalhadores para implementar e gerir as ferramentas de IA.

A boa notícia é que existe um caminho claro para garantir a resiliência. Os Governos e as empresas devem investir no apoio à mudança para os empregos do futuro através da educação, da requalificação e das estruturas de apoio social que podem garantir que os indivíduos estejam no centro do futuro do trabalho.

Saadia Zahidi

Managing director do World Economic Forum

Mas existe o reverso da moeda. Ao mesmo tempo que tem a capacidade de criar novos postos de trabalho e de promover a procura por determinadas profissões, a proliferação da inteligência artificial colocará muitas outras funções em risco. O WEF prevê que, até 2027, poderá haver menos 26 milhões de postos de trabalho administrativos e de manutenção de registos.

As funções que mais rapidamente se espera que desapareçam são as de secretariado e de atendimento, como caixas de supermercado e balcão/receção de bancos, que podem ser automatizadas.

Atualmente, as empresas inquiridas pelo WEF estimaram que 34% de todas as tarefas relacionadas com a organização sejam executadas por máquinas, um valor apenas ligeiramente superior ao registado em 2020. As expectativas quanto ao ritmo de adoção futura também foram revistas em baixa. Em 2020, os empregadores pensavam que 47% das tarefas seriam automatizadas até 2025. Atualmente, esperam que esse número atinja os 42% em 2027.

Transição energética, um motor para a criação de emprego

Muitos fatores contribuirão para a agitação do mercado de trabalho durante os próximos anos. Um deles é, sem dúvida, a mudança para sistemas de energia renovável, encarado como um forte motor para a criação de empregos. A transição energética já começou e a escassez de talentos nestas áreas está a penalizar a evolução e o crescimento.

É preciso apostar — já — no reskiling, defendeu Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, que fez parte do painel “What Next for Jobs?”.

“Não precisamos destas skills no futuro, precisamos agora. O facto de não termos estas competências está a fazer-nos abrandar a transição energética. A Europa diz que são precisos mais um milhão de engenheiros para fazer os painéis solares que deveria estar a fazer agora”, afirmou a gestora durante a sua intervenção.

“Na Europa, só 50% da população tem digital skills básicas. Há um trabalho enorme que tem de ser imediatamente feito. Nós sabemos tudo, sabemos quais as profissões que vamos perder, sabemos de que profissões vamos precisar… Temos de fazer com que isto resulte. E não é para 2050, é para hoje“, continuou Cláudia Azevedo.

Admitindo que a retalhista portuguesa tem uma “enorme dificuldade em encontrar talento” nestas áreas da transição energética e sustentabilidade, Cláudia Azevedo defendeu que o reskilling é uma “responsabilidade de todos”: Governo, empresas e pessoas. E relembrou a iniciativa de formação europeia “Reskilling 4 Employment” (R4E), cuja empresa é uma das promotoras. O programa, uma iniciativa da European Round Table for Industry (ERT), tem a meta da requalificação de um milhão de adultos na Europa até 2025.

Recentemente, um outro estudo levado a cabo pela Michael Page concluiu que a área da sustentabilidade tem sido uma das prioridades das organizações, que olham para este tema com uma importância estratégica para o desenvolvimento dos seus negócios. Este ano, esta área regista uma tendência significativa de crescimento, com um aumento da procura de profissionais, principalmente de perfis especializados para funções de direção. E os salários acompanham o crescimento, podendo alcançar os 100.000 euros brutos anuais, no caso de um perfil de head of environmental, social and governance (ESG), por exemplo.

As conclusões apresentadas pelo WEF resultaram de um inquérito a cerca de 800 empresas de 45 economias, e que, ao todo, empregam mais de 11 milhões de trabalhadores no mundo.

Consulte o relatório na íntegra aqui.

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