Biorresíduos têm “valor incalculável” e biocombustíveis são “solução de longo prazo”

  • Capital Verde
  • 11 Julho 2023

Na conferência anual do ECO/Capital Verde, Green Economy Forum, foi debatido o tema "“Transformar o problema dos resíduos num valor económico”.

Em aterro, os biorresíduos são a parcela que mais contamina e emite gases de efeito estufa, possuindo portanto um dos efeitos mais negativos quando não aproveitados; e, em oposição, se aproveitados, têm um “valor incalculável para produção de energia”. A conclusão é de Sandra Silva, diretora de Resíduos da Veolia, referida na conferência anual do ECO/Capital Verde Green Economy Forum.

A responsável da Veolia falava acompanhada de Inês Ferreira, gestora de projetos da Prio, no painel intitulado “Transformar o problema dos resíduos num valor económico”. A representante da Prio acrescentou que, no caso particular do óleo, o aproveitamento não está devidamente explorado.A taxa de reciclagem destes resíduos é muito baixa”, considerou.

Sensibilização é necessária

Para contrariar esta realidade de baixo aproveitamento, a Prio tem uma equipa dedicada a sensibilizar as camadas mais jovens. Porque, à semelhança dos biorresíduos, o desperdício de óleo – que muitas vezes é deitado “cano abaixo” — tem problemas críticos associados, como dificultar o tratamento da água. ”É importante apostar na sensibilização”, realçou Inês Ferreira, durante a sua intervenção.

Um dos obstáculos à recolha de biorresíduos também é a comunicação. A própria palavra é um entrave: termos mais coloquiais como “restos” resultam melhor, acredita Sandra Silva. Ademais, o tratamento de biorresíduos obriga à criação de mais uma linha de separação de resíduos, além das três já habituais, algo que poderá agravar dificultar a recolha deste recurso.

Sandra Silva, diretora de Resíduos da Veolia, Green Economy Forum 2023ECO

Metas difíceis de cumprir

A diretora de Resíduos da Veolia não tem dúvidas de que as metas traçadas para os resíduos urbanos são ambiciosas; põe antes em questão se serão realistas. “Dificilmente cumpriremos os 10% de deposição em aterro [até 2035] se não houver uma ação radical”. Na fração “resto”, diz, “é possível ir bastante mais além” e aumentar a recolha de “todos os recicláveis”. Mas, alerta, existe “toda uma panóplia de resíduos que produzimos que não podem ainda ser reciclados”. Aqui, é necessária inovação tecnológica para responder ao desafio.

Por exemplo, no caso dos plásticos, “há muito para fazer” no que diz respeito à conceção ecológica, isto é, conseguir que os plásticos incorporados nos bens de consumo sejam recicláveis, ao meso tempo que se garante a segurança alimentar nas embalagens desta indústria. “Na indústria alimentar há vontade de incorporar mais, há essa necessidade. As empresas já perceberam que têm de cuidar do planeta para cá estarem nos próximos anos”, remata Sandra Silva. Em relação aos biorresíduos em particular, a responsável da Veolia afirma que “não avançar pode comprometer” as metas de descarbonização.

No que diz respeito ao Relatório Anual Resíduos Urbanos (RARU 2022), que estava previsto para ser divulgado pela Agência Portuguesa do Ambiente no final de junho, a mesma espera uma “evolução positiva” e uma aceleração na ação, agora que o plano do setor (Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos) está lançado, após três anos de atraso.

Biocombustíveis lançam descarbonização dos transportes

Acreditamos que os veículos de combustão fósseis não vão terminar em 2050”, indica Inês Ferreira, gestora de projetos da Prio. E justifica: “2050 não está assim tão longínquo, e descarbonizar navios e aviões… ainda não há soluções para isso”. Neste sentido, acredita que a incorporação de biocombustíveis não só está “cada vez mais presente” como “fará parte da solução a longo prazo”, tal como já se admitiu em Bruxelas. Em março, a Comissão Europeia aceitou ceder a proposta de retirar do mercado todos o veículos movidos a combustão, até 2035, a menos que fossem movidos a biocombustíveis.

Inês Ferreira, gestora de projetos da Prio (à esquerda) e Sandra Silva, diretora de Resíduos da Veolia (à direita), Green Economy Forum 2023ECO

Ainda no que concerne aos bicombustíveis, Portugal tem ficado aquém da meta nacional que visa a incorporação biocombustíveis em combustíveis fósseis até 11%. De acordo com os dados da Entidade Nacional do Setor Energético, até maio deste ano, o nível mais elevado de incorporação de combustível verde foi de 5,9%, mas segundo Inês Ferreira, é possível ir mais longe.

A título de exemplo, a gestora de projetos recordou o projeto-piloto da Prio que decorreu, em 2019, e no qual alguns autocarros da Carris operaram, durante um ano, com um biodiesel 100% livre de energia fóssil, produzido a partir de óleos alimentares usados, ou B100. O projeto, considerou Inês Ferreira, permitiu mostrar que a integração de biocombustíveis é uma solução, além dos já existentes veículos elétricos e dos potenciais veículos a hidrogénio verde.

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