De Guilhofrei a França. Quem é e por onde andou Armando Pereira?

Nasceu em Guilhofrei, em Vieira do Minho, e ainda menor de idade emigrou para França. Foi lá que fundou a sua primeira empresa de telecomunicações e que começou a criar o seu império.

Dezenas de buscas domiciliárias e não domiciliárias foram levadas a cabo pelo Ministério Público na quinta-feira, num processo relacionado com o universo Altice. Um dos visados foi o cofundador da Altice, Armando Pereira, que foi detido na sequência das buscas à sua residência em Vieira do Minho.

Armando Pereira, que se encontra atualmente no estabelecimento prisional da Polícia Judiciária em Lisboa, vai comparecer no sábado perante o juiz Carlos Alexandre para primeiro interrogatório judicial. As buscas tiveram com principal alvo a Altice Portugal e, segundo a CNN, “alguns dos mais altos responsáveis” da dona da Meo, por suspeitas de crimes de corrupção no setor privado, fraude fiscal agravada, falsificação e branqueamento de capitais.

Mas afinal quem é Armando Pereira? O ECO faz-lhe um breve resumo da ascensão do empresário português.

O voo de Guilhofrei até França

Nascido em março de 1952 em Guilhofrei, uma freguesia no concelho de Vieira do Minho, o percurso profissional de Armando Pereira começou bem cedo, mais concretamente aos 11 anos. Nessa idade começou a ajudar no campo, a fazer os denominados “biscates”, e posteriormente foi ajudante na feira na zona de Fafe, Guimarães e depois Espinho.

Poucos anos depois, na década de 60, decidiu abandonar Vieira do Minho e “voar” até França, ainda menor de idade, em busca de melhores condições de vida. Numa entrevista à revista Visão chegou a sublinhar que vestiu “dois pares de calças e suas camisolas” e colocou “dois mil escudos no bolso”. “Foi tudo o que levou”, disse.

Em França, prestou serventia na construção civil e foi canalizador na via pública. Com as canalizações, que lhe obrigava a abrir valas, “descobriu” o mundo das telecomunicações, uma vez que também por aqueles “buracos” passavam os cabos elétricos. Então passou a instalar cabos de telefone numa empresa de telecomunicações.

O percurso até ao nascimento da Altice

Na década de 80, despediu-se e avançou com a sua própria empresa. Para tal, pediu um empréstimo de cerca de 78,6 mil euros ao banco francês Crédit Agricole para montar o seu próprio negócio. Assim nasceu a Sogetrel, com sede em Thaon-Les-Vosges.

Coincidência ou não, no início da sua nova aventura, enquanto dono e gestor de uma empresa de telecomunicações, estava a “rebentar” a televisão por cabo. Armando Pereira conseguiu aproveitar a oportunidade de mercado e tornou a sua empresa a maior fornecedora da FranceTelecom, atual Orange e maior principal empresa de telecomunicações da França.

Já milionário, no final do século XX, em 1999, Armando Pereira vendeu a Sogetrel a um banco holandês ABN AMRO, por cerca de 42,5 milhões de euros.

Foi no novo século, em 2002, que começou a delinear aquela que seria a atual Altice S.A.. Juntamente com Patrick Drahi, seu parceiro e empresário com nacionalidade israelita, francesa, portuguesa e marroquina, fundaram uma sociedade na área das telecomunicações com 60 milhões de euros.

Após fundarem a Altice, um grupo de empresas de telecomunicações, media e publicidade, compraram a Portugal Telecom, entrando assim no mercado português das telecomunicações.

Em 2015, foi eleito pelo Jornal de Negócios como o 16.º mais poderoso da economia, ficando à frente de nomes como Francisco Pinto Balsemão e Paulo Fernandes.

Detenção na quinta polémica

Armando Pereira foi detido, na sequência de buscas na quinta-feira, na sua residência em Vieira do Minho. Residência essa que foi construindo ao longo dos anos.

Uma reportagem a revista Visão explicou que o cofundador da Altice começou por comprar a casa e terrenos na freguesia onde nasceu, em Guilhofrei, restaurando a casa posteriormente. Comprou ainda uma quinta, onde foi detido, a Quinta das Casas Novas, em Vieira do Minho.

Com cerca de 15 hectares de terreno, a Quinta das Casas Novas possui um heliporto, campo de ténis, pavilhão gimnodesportivo, campo de futebol, várias piscinas e um pequeno campo de golfe. Tem ainda uma Capela da Senhora da Saúde e Santiago.

Mas a construção desta quinta esteve em volta de muitas polémicas. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte chegou até a ditar a “demolição de todas as obras e construções realizadas” e a “remoção do local de todas as estruturas amovíveis e equipamentos necessários à execução das obras de construção”, refere a Visão. Isto por estar inserida numa área incluída na Reserva Ecológica Nacional. Ainda assim, a Quinta das Casas Novas nunca foi demolida.

Estado e Altice poderão sido lesados em mais de 100 milhões

O Ministério Público e a Autoridade Tributária suspeitam de que o Estado e o grupo Altice podem ter sido lesados em mais de 100 milhões de euros, segundo uma nota publicada pela Procuradoria-Geral da República.

De acordo com o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), a operação desencadeada na quinta-feira contou com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, entre as quais instalações de empresas e escritórios de advogados em vários pontos do país.

Em causa está, alegadamente, uma “viciação do processo decisório do Grupo Altice, em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência”, que apontam para corrupção privada na forma ativa e passiva.

As autoridades destacam ainda que a nível fiscal o Estado terá sido defraudado numa verba “superior a 100 milhões de euros”.

A investigação indica também a existência de indícios de “aproveitamento abusivo da taxação reduzida aplicada em sede de IRC na Zona Franca da Madeira” através da domiciliação fiscal fictícia de pessoas e empresas. Entende o MP que terão também sido usadas sociedades offshore, apontando para os crimes de branqueamento e falsificação.

Nas buscas, o DCIAP revelou que foram apreendidos documentos e objetos, “tais como viaturas de luxo e modelos exclusivos com um valor estimado de cerca de 20 milhões de euros”.

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